Folha de S.Paulo 
Jornalista: Alex Sabino e Carlos Petrocilo

A Conmebol organiza a logística para que todas as dez delegações estejam vacinadas para a Copa América no Brasil, algo combinado com o governo federal e as quatro sedes (RJ, MT, GO e DF). Um grande desafio, que esbarra em um fato: a maior parte dos atletas vai iniciar o torneio sem ter recebido a segunda dose do imunizante.

A competição sul-americana começará em 13 de junho e, nesta quarta (2), 11 dias antes do primeiro jogo, Argentina, Brasil, Colômbia e Peru ainda não receberam nem a primeira aplicação. A Coronavac, por exemplo, uma das quatro vacinas aprovadas no Brasil, é indicada com um intervalo igual ou maior de 21 dias entre as duas doses.

Ao aceitar a realização da Copa América no país, apesar do recrudescimento da pandemia da Covid-19, a Casa Civil da Presidência da República disse em nota que, segundo a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) , serão dez delegações com, no máximo, 65 pessoas cada —todas vacinadas— e jogos sem público.

O governo federal e as entidades brasileira e a sul-americana não explicaram também detalhes desse acordo para que todos sejam vacinados nem se haverá uma espécie de “bolha” para isolar os participantes da Copa América do restante da população.

O laboratório chinês Sinovac, fabricante da Coronavac, é parceiro comercial da Conmebol e destinou 50 mil doses à entidade sul-americana. No dia 28 de abril, a confederação começou a distribuir 5.000 doses para cada um dos dez países filiados. No entanto, elas não puderam ser utilizadas pelos atletas e comissão técnica da seleção brasileira.

Parte dos jogadores brasileiros que atuam no exterior, como Neymar e o próprio técnico Tite, já se vacinaram fora do país. A CBF não informa quantos foram imunizados nem como fará com os demais. Em tese, esse segundo grupo de atletas e integrantes da delegação teriam que tomar a primeira dose no dia 8, na sede da Conmebol, em Luque (PAR), após a equipe enfrentar o Paraguai pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, em Assunção.

Cientistas do Instituto Butantan publicaram os resultados do estudo que avaliou um subgrupo de voluntários que recebeu as duas doses com intervalo igual ou maior de 21 dias e verificaram que a eficácia da vacina aumentou para 64%. Assim, o laboratório tem recomendado o intervalo de 21 dias ou 28 dias entre as doses para obter uma eficácia maior do imunizante.

As delegações ainda não vacinadas terão esse problema do tempo, como a do Uruguai.

“Já vacinamos todos os funcionários e comissão técnica da seleção com as duas doses. A primeira foi nos dias 6 e 7 de maio e a segunda, em 27 e 28 de maio. Os jogadores serão vacinados na próxima sextafeira (4), às 17 horas, no Complexo Celeste”, disse à Folha o vice-presidente da Associação Uruguaia de Futebol, Gaston Tealdi.

Ele não sabe dizer como a segunda dose será aplicada nos atletas. Seguido o protocolo da Sinovac, a delegação vai chegar ao Brasil apenas com a primeira parte do imunizante e terá de receber a outra em 25 de junho. A final da Copa América está marcada para 10 de julho.

Especialistas dizem que o prazo não será suficiente para alcançar a imunização e que o ideal mesmo seria esperar 28 dias entre as doses, não 21. A Casa Civil divulgou que os envolvidos no torneio teriam de estar “vacinados contra a Covid-19”.

“Os estudos deixam claro que a proteção maior acontece duas semanas depois da segunda dose. E o intervalo entre as doses deve ser de 28 dias. Com intervalos menores, a eficácia da vacina é menor”, diz a médica Raquel Stucchi, professora da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia.

Mesmo vacinados, membros das delegações poderão contrair o coronavírus e retransmiti-los. “Alguma proteção existe com a primeira dose, 14 dias depois. Ao que me parece não teremos tempo hábil para que esses atletas estejam protegidos”, adverte.

Segundo o médico sanitarista Daniel Dourado, a vacinação de atletas e comissão técnica não trará efeito à população. “O objetivo é somente o de não ter que paralisar a competição. A imunização só garante proteção efetiva quando uma parcela da população estiver vacinada. No caso da Covid, isso está em torno de 70%.”

Até a última terça (1º), 28% (46,2 milhões de pessoas) receberam a primeira dose no Brasil, enquanto que 13% tomaram a segunda dose (22,3 milhões), de acordo com dados do consórcio de imprensa.

A CBF fez um pedido ao Ministério da Saúde para imunizar jogadores da seleção e de clubes do país com as vacinas da Conmebol em território brasileiro.

Para isso, é necessária uma nota técnica do órgão para que inclua os atletas no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19 (PNO), porque a legislação que permite às instituições privadas adquirirem vacinas exige que elas sejam doadas integralmente ao SUS enquanto os grupos prioritários não forem imunizados. Após esse período, essas entidades poderão adquirir e usar 50% do montante, doando o resto.

Foi só com este aval do governo federal que o COB (Comitê Olímpico do Brasil) conseguiu iniciar a imunização da delegação que vai aos Jogos de Tóquio, após receber doações de doses da Sinovac e da Pfizer intermediadas pelo COI (Comitê Olímpico Internacional).

Jorge Pagura, coordenador médico da CBF, disse à Folha ter consultado o Ministério da Saúde, em abril, mas ainda não teve nenhum retorno.

Procurado pela reportagem na manhã desta quarta, o Ministério da Saúde não se pronunciou até a publicação desta edição sobre a possibilidade de o governo legalizar a vacinação das delegações no Brasil e nem sobre o pedido da CBF.

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