Alimento à base de planta é solução

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O Estado de S.Paulo

Amanda Pinto, de 29 anos, não queria apenas manter os negócios da família — o grupo Mantiqueira, produtor de ovos que começou como uma granja na década de 1980 e que hoje conta com mais de 2 mil colaboradores. Atuando como responsável pelo marketing e inovação da empresa, ela criou a N.Ovo, startup que surgiu como uma linha alternativa de produtos da Mantiqueira feitos com proteínas baseadas em plantas.

“Comecei a ouvir falar de startups que estavam desenvolvendo produtos de base vegetal que fizessem essa substituição. Os alimentos feitos de plantas são solução para vários grandes problemas”, conta. A startup já lançou um substitutivo dos ovos em receitas, uma linha de maioneses e um preparado para ovos mexidos. E está formando um banco de dados a partir do qual mais produtos serão desenvolvidos. A seguir, trechos da entrevista.

Como a herdeira de uma empresa voltada para a proteína animal optou por apostar em alimentos feitos de plantas?
Amanda Pinto: Sou a segunda geração do Grupo Mantiqueira e a alimentação já era uma coisa presente na minha rotina. Como trabalhava no setor de marketing e inovação da empresa, sempre tive um olhar voltado para as inovações que apareciam no mercado e como esse segmento estava se transformando nos últimos anos. Pensando em bem-estar animal e sustentabilidade, a preocupação era como alimentar o consumidor com uma proteína de qualidade. Comecei a ouvir falar de startups que estavam desenvolvendo produtos de base vegetal que fizessem essa substituição. A pecuária é um dos principais emissores de gases que causam o efeito estufa e a criação extensiva de animais é um grande problema nesse sentido. Os alimentos feitos de plantas são solução para vários grandes problemas. Enquanto boa parte da população mundial é subnutrida, a maior parte das plantações serve para alimentar os animais, que vão servir de alimento para as pessoas depois. Só que a conversão alimentar é muito baixa. Se a gente levasse grãos diretamente para as pessoas, conseguiria alimentar muito mais gente.

Esse tipo de alimento deixou de ser um mercado de nicho?
Amanda Pinto: Não é um mercado de nicho, a gente não está falando de um porcentual específico da população que quer ser vegetariana ou vegana por conta exclusivamente de uma questão de bem-estar animal. A gente quer ser parte da solução de um problema alimentar que é grave e que, à medida que as pessoas forem tomando consciência do impacto que a alimentação delas causa, elas vão procurar por alternativas de origem vegetal. Depois que a gente fez o primeiro produto, o N.Ovo Receitas (que substitui os ovos no preparo de bolos e tortas, por exemplo), eu saí do setor de inovação da Mantiqueira e fundei o N.Ovo como startup. O principal investidor ainda é o grupo, mas agora temos liberdade para seguir outros caminhos.

É um caminho fácil, partir da ideia para um novo produto e fazer com que ele chegue ao consumidor?
Amanda Pinto: O primeiro produto já está bem capilarizado. A nossa maionese foi lançada no ano passado, mas já está chegando em supermercados maiores também. O N.Ovo mexido demorou três anos para chegar a uma fórmula pronta para ser lançada no mercado. O desafio é replicar o produto de origem animal em textura, cor e sabor. A nossa meta é o consumidor testar a nossa maionese, por exemplo, e não acreditar que não tem ovos na fórmula. Na verdade, ali tem quase uma alquimia, uma combinação de várias plantas. Ela tem óleo de girassol, produtos derivados do milho e da batata. A gente faz uma busca no reino vegetal para chegar ao produto final. O N.Ovo Receitas tem o equivalente a 12 ovos (a embalagem vem com um pó para misturar na água e um copo medidor) e o preço sugerido é de R$ 14. A maionese, de R$ 11. E o de ovos mexidos ainda está apenas em food service.

O potencial para a criação de outros produtos é grande, então?
Amanda Pinto: Sim. A partir dos resultados e testes dos produtos que já foram desenvolvidos, estamos fazendo também um banco de dados com base em inteligência artificial. Com isso, vamos conseguir cruzar informações e extrair quais aminoácidos que a planta tem e que replicam os alimentos de origem animal. Assim, a gente vai poder fazer combinações para chegar em novos produtos baseados nas plantas que podem se tornar novos substitutos no futuro. O Brasil é conhecido pela diversidade vegetal e nós estamos pensando em quais produtos podemos colocar no mercado agora e nos próximos cinco anos. E direcionando as pesquisas para isso.

Todas na empresa são mulheres. Também vou querer ter homens na equipe, mas sempre buscarei a liderança feminina."

Qual é a estrutura da N.Ovo hoje?
Amanda Pinto: Temos cinco pessoas trabalhando na N.Ovo, a gente usa o suporte da Mantiqueira, para contabilidade e RH. Os nossos planos são fazer investimentos em equipe e marca, fazer com que mais gente nos conheça e entenda os impactos positivos de mudanças na alimentação. A gente não quer falar mal da alimentação de ninguém, mas ser parte da solução.

Começar uma startup dentro de uma empresa tradicional cria dificuldades próprias?
Amanda Pinto: A cabeça de uma startup é muito diferente da forma como uma empresa tradicional funciona, sem dúvida. Hoje, a gente até vê outras empresas de proteína de origem animal investindo nesse segmento plant-based. Mas quando lançamos o produto, em março de 2019, ninguém tinha ainda esses produtos no País. Se eu trouxesse o assunto à tona hoje, a empresa estaria muito mais aberta, mas na época, explicar que era um produto que pudesse reduzir o consumo do outro produto tradicional foi um grande desafio. Só que se a substituição por produtos baseados em plantas já era uma tendência, meu desafio foi defender que era melhor que a nossa empresa entrasse nesse mercado do que esperar que outras saíssem na frente. E a decisão de estar fora da empresa e seguir como uma startup independente passa por isso também, a gente entende que vai ter mais autonomia.

Como é ser a única mulher entre os brasileiros na lista do MIT?
Amanda Pinto: Além de a gente ter como propósito a criação de produtos disruptivos, temos a preocupação de empoderar cada vez mais mulheres, para mostrar que somos capazes. Todas as cinco pessoas que trabalham na empresa hoje são mulheres. Conforme crescermos, também vou querer ter homens na equipe, mas a liderança feminina ser maioria é algo que sempre buscarei.

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