Alvo da CPI, empresa fez vários saques em espécie, diz Coaf

Coaf identifica irregularidades em empresa investigada na CPI da Covid

O Globo 
Jornalistas: Natália Portinari e Julia Lindner

20/08/21 - O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), orgão de combate à lavagem de dinheiro, identificou dezenas de saques em espécie nas contas da transportadora VTC Log, empresa investigada pela CPI da Covid que tem contratos de logística no Ministério da Saúde.

Segundo o Coaf, essa transação, feita com a justificativa de pagar serviços e funcionários, torna difícil mapear o destino final do dinheiro, "quando poderia utilizar outros meios de transferências de recursos, além do fornecimento de informação de difícil e onerosa identificação". Em muitas dessas transações, o valor é R$ 49 mil, quantia próxima ao limite legal para efetuar comunicação ao Coaf, "sugerindo a burla".

Procurada, a empresa disse que não iria se pronunciar. "A VTCLog não se manifesta sobre sobre vazamento ilegal, irresponsável e criminoso de dados sigilosos. A empresa sequer teve acesso ao conteúdo e tomará todas as medidas judiciais cabíveis", diz a transportadora, em nota.

De acordo com o Coaf, em uma conta da VTC Log, houve 14 saques entre abril e julho de 2019 no total de R$ 440 mil. Em outra, foram seis saques em espécie em um intervalo de quatro dias em dezembro de 2020, totalizando R$ 276 mil. O Coaf registra que a movimentação "corresponde a contratos firmados com órgãos do governo" e segundo a empresa, é feita para "pagamento de serviços e fornecedores".

Há ainda uma conta em que foram sacados cinco cheques de R$ 49 mil, "valores próximos ao limite de comunicação ao órgão regulador", entre 23 de dezembro de 2020 e 12 de fevereiro de 2021. Na quarta e última conta monitorada, há R$ 65 mil sacados em espécie entre 2019 e 2021.

O relatório aponta ainda 64 saques em espécie de valor igual ou superior a R$ 50 mil nas contas da VTC Log entre 2018 e 2021.

"Trata-se de empresa que realizou saques em espécie em valores que aparentam indício de burla para destino como pagamentos, quando poderia utilizar outros meios de transferências de recursos, além do fornecimento de informação de difícil e onerosa identificação. Chama atenção, que os valores sacados em espécie, R$ 49 mil foram próximos ao limite legal para comunicação de movimentação em espécie ao Coaf, sugerindo a burla."

"A comunicação ao Coaf é justificada pela movimentação em espécie possuir característica de tentativa de burla para identificação do beneficiário final", registra o relatório. Um funcionário da companhia é responsável por fazer os saques em todas as contas.

Em entrevista à Globonews, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI, disse que a comissão tem "elementos para acreditar que essa empresa era também utilizada para abastecer, fazer distribuição de recursos para funcionários públicos" e que há a "hipótese' de que a VTC Log esteja envolvida em "esquema de lavagem de dinheiro".

Os negócios da empresa com o Ministério da Saúde aumentaram 70% no período em que o ministério foi comandado pelo atual líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), entre 2016 e 2018. No total, os contratos somaram R$ 257 milhões, dos quais R$ 253 milhões sem licitação.

Procurado, Ricardo Barros negou participação em qualquer irregularidade nos contratos firmados entre a VTC e o Ministério da Saúde durante sua passagem pela pasta. Ele afirma que os contratos com dispensa de licitação com a VTC aconteceram em meio a um processo de centralização da gestão de logística do ministério.

Em meio ao avanço das investigações da CPI da Covid, um despacho do Ministério da Saúde afirma que a pasta pretende anular um termo aditivo assinado pelo ex-diretor de Logística Roberto Ferreira Dias que reajustou em R$ 18 milhões o contrato da VTC Log. O valor do aditivo está em desacordo com a recomendação da área técnica da Saúde, como revelou a TV Globo.

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