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O Globo 

Jornalista: Ana Lúcia Azevedo

19/09/20 - Distanciamento em baixa, Covid-19 em alta. O Estado do Rio de Janeiro estabeleceu um novo patamar para a Covid-19 e ele é elevado. Nas Unidades de Pronto Atendimento do Estado (UPAs), a taxa de infecção está estacionada na faixa de 10% desde junho. Em setembro, ficou em 11%. As UPAs mostram em números o que também é percebido na rede privada da capital, que em julho ficou vazia e agora registra um aumento de casos.

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O diretor-geral do Copa Star, João Pantoja, diz que os hospitais privados sofreram uma tsunami de Covid-19 em março, abril e maio. Em junho, a onda recuou e deixou um vale em seu lugar. Os casos despencaram. Com a redução do distanciamento, voltaram a aumentar, ainda que num volume muito distante da tsunami. 

 

— Mas passou a tsunami e agora temos marolas. As pessoas se assustam com elas e melhora um pouco o distanciamento. Voltamos a ter um vale. Aí, a população volta a se expor e temos mais marolas. Não é uma segunda onda. Mas essas marolas prolongam a pandemia. Somadas, terão o peso de uma grande uma onda — afirma Pantoja.

 

Rede D'Or: áreas para Covid mantidas 

O Copa Star, um hospital de elite, chegou a ter mais de 90 internados de uma vez durante a tsunami. Em junho, teve apenas três. Agora são 12 os na UTI do hospital. A Rede D’Or informa que nunca chegou a fechar as áreas destinadas à Covid-19, mas que desde junho os casos caem. Atualmente, há 110 pacientes internados nos 14 hospitais da rede do Rio de Janeiro. 

O Hospital São Lucas, também em Copacabana, nega que não tenha vagas suficientes, conforme relatos de pacientes. Mas diz em nota que “assim como nas redes pública e privada em geral, registrou aumento da taxa de ocupação na UTI por pacientes com Covid-19, porém o índice é significativamente menor do que no período mais agudo de disseminação da doença”.

 

Prevalência baixa só quando inferior a 2%

 

Amílcar Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, explica que a prevalência de infecção poderá ser considerada baixa quando for menor que 2% nas UPAs, termômetros da circulação do coronavírus.  

O grupo da UFRJ desde 26 de junho testa a taxa de infecção nas UPAs, num trabalho em colaboração com o Laboratório Central Noel Nutels e o Hemorio. Em junho, a taxa era 8%. Depois subiu para 15%, caiu de novo para a 8% e agora está em 11%. 

— Estatisticamente, a transmissão do coronavírus se fixou num patamar elevado e com surtos. Isso acontece devido ao não distanciamento e leva ao prolongamento da pandemia — destaca ele. 

Segundo Tanuri, se a taxa média nas UPAS é de 10%, onde é esperado que seja maior o número de infectados, na população em geral é possível inferir uma taxa de infecção de 2% a 3%, igualmente alta e maior que a de cidades nos Estados Unidos. O ideal seria que fosse abaixo de 1%. Numa população grande, mesmo esse número representa muita gente.

O Rio de Janeiro reproduz em sua paisagem o mapa da pandemia. Depois dos picos, entre abril e junho, usados para representar a elevação abrupta de casos da pandemia, o Rio agora tem um mar de morros, tal qual sua geografia, diz o infectologista Alberto Chebabo, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia e diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UFRJ.

Com picos, “Corcovados”, e morros menores de surtos ou “bolsões” de Covid-19. É por isso que médicos e pacientes relatam a percepção de aumento de casos no Rio. São o que cientistas chamam de bolsões de transmissão, um cenário que, segundo eles, tende a se estabelecer no Rio de Janeiro, principalmente na capital.

 

No Fundão, Covid em pacientes crônicos

 

No fim de agosto, Chebabo teve que abrir leitos no HU. Mas na semana passada, segundo ele, os casos diminuíram e no fim de semana passado sequer houve atendimento. 

— No HU, vemos que os novos casos são de pessoas que estavam de quarentena e saíram. Algumas têm doenças crônicas e se contaminaram, provavelmente, no ambiente hospitalar — diz ele. 

Chebabo observa que na capital se percebe um pequeno aumento de casos na classe média e alta, a parcela da população que pode fazer distanciamento social e agora se expôs. 

— É um sobe e desce, alimentado pela falta de distanciamento, que vai prolongar a pandemia. Ela cai muito mais lentamente do que deveria. Falta bom senso nas pessoas. As pessoas deveriam ir ao shopping para fazer compras, não para passear. Não é para se amontoar — destaca ele. 

Chebabo acredita que a reabertura de escolas deverá causar mais casos, uma tendência que já vinha sendo percebida antes disso, há algumas semanas.  

— Alguns hospitais privados ampliaram o número de leitos de Covid-19 e não estão mais tão vazios como ficaram em julho, mês que teve a maior queda de casos. Não é um cenário de segundo onda, mas vemos sim, uma retomada de casos, esperada com o enfraquecimento do distanciamento — diz ele. 

A pneumologista Margareth Dalcolmo, pioneira no atendimento de casos de Covid-19 no Rio, diz que em agosto ficou três semanas sem fazer um só diagnóstico da doença. Depois, a Covid-19 voltou. E nos últimos dez dias fez oito diagnósticos positivos, quatro deles de pessoas com menos de 50 anos. 

Um deles é o caso de um morador da Zona Sul, de classe média alta, de 38 anos, sem qualquer doença que aumentasse o risco de Covid-19 grave. Ainda assim, ele teve insuficiência respiratória e cardiomiopatia viral. Melhorou com tratamento experimental de plasma de convalescente. Teve alta, mas sofreu sequelas graves no coração. 

— Os pais dele também contraíram o coronavírus. E esse rapaz nem saía muito, apenas para trabalhar. Não é uma segunda onda, mas estamos num platô alto e heterogêneo, como morrotes, que baixa muito lentamente porque não há controle — afirma Dalcolmo. 

Especialistas advertem que, devido ao não distanciamento social, a vida será de permanente apreensão com a possibilidade de desenvolver Covid-19. 

— O coronavírus não vai embora, só com vacina. Ninguém está imune ou livre. Teremos que viver sob esse medo porque perpetuamos uma transmissão alta — salienta a pneumologista.

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