Bolsas globais derretem com medo da 2ª onda de Covid-19

Folha de S.Paulo, notícia também publicada em O Estado de S.Paulo, O Globo e Correio Braziliense 
Jornalista: Julia Moura

29/10/20 - A Bolsa brasileira tombou 4,25% nesta quarta-feira (28), a 95.371 pontos, com a segunda onda de coronavírus na Europa e volatilidade causada por incertezas na corrida eleitoral dos Estados Unidos.

Esta é a maior queda diária do Ibovespa desde abril.

O dólar subiu 1,44%, a R$ 5,7650, maior valor desde maio, quando foi ao recorde de R$ 5,90. O turismo está a R$ 5,90.

A moeda americana chegou a R$ 5,7930 na máxima do dia, mas perdeu força com atuação do Banco Central, que vendeu US$ 1,04 bilhões à vista.

O petróleo também afundou na sessão. O barril de Brent (referência internacional) recuou 5%, a US$ 39,12 (R$ 225,52).

Em Londres, a Bolsa caiu 3,5% e em Paris, 3,4%. Na Alemanha, a queda da Bolsa de Frankfurt foi de 4,2%.

A Alemanha anunciou que terá um lockdown emergencial de um mês que inclui o fechamento de restaurantes, academias de ginástica e teatros para reverter um pico de casos de coronavírus que pode sobrecarregar os hospitais.

Para tornar as medidas mais palatáveis, especialmente para empresas menores, a Alemanha oferecerá ajuda financeira para aqueles que forem prejudicados pelas novas restrições.

A França também anunciou novas restrições nesta quarta, com um novo lockdown nacional que se inicia na sexta (30) e que irá permanecer em vigor até 1º de dezembro para frear a disseminação exponencial do coronavírus.

Segundo o governo local, se dentro de duas semanas a situação de saúde tiver melhorado, o governo vai reavaliar a possibilidade de reabrir algumas lojas consideradas não essenciais.


Para o Joelson Sampaio, professor da FGV, os lockdowns causaram tamanhas quedar por serem uma mudança de expectativa que pode gerar uma contração da economia europeia.

“Um resultado negativo na europa afeta direta e indiretamente o Brasil, mas não é o mesmo cenário de março. Não preocupa tanto quanto da primeira vez, as pessoas já sabem o que pode acontecer”.

Nos Estados Unidos, as eleições presidenciais são outro fator de risco para os mercados. As pesquisas mostram o democrata Joe Biden à frente do atual presidente, o republicano Donald Trump, o oposto do que investidores esperavam no início do ano.

“A vitória de Biden deixa o mercado mais volátil porque o seu governo ainda é uma incógnita”, disse Sampaio.

Segundo Chris Zaccarelli, diretor de investimentos da Independent Advisor Alliance em Charlotte, Carolina do Norte, os investidores também estão preocupados com três possíveis cenários: a contestação do resultado da eleição, um controle democrata do Congresso e que Trump seja reeleito.

"Enquanto as pessoas analisam os prováveis cenários do que poderia ocorrer com a eleição, não há uma boa resposta no curto prazo", disse ele.

Ainda pesa o fracasso de Washington em alcançar um acordo em torno de um novo estímulo fiscal antes das eleições de 3 de novembro, sem um acordo de republicanos e democratas para a votação do pacote de cerca de US$ 2 trilhões.

O coronavírus também preocupa o cenário dos EUA, onde 12 estados registraram recordes de pacientes com a Covid-19 hospitalizados na terça-feira (27).

"Obviamente, o vírus está fora de controle. Está aumentando, é ruim. O conceito de que vai desaparecer é apenas uma suposição errada", disse Eric Kuby, diretor de investimentos da North Star Investment Management Corp em Chicago.

Nesta quarta, ações de hotéis, companhias aéreas e outras empresas sensíveis às incertezas relacionadas à Covid-19 afundaram no pregão, tanto na Europa quanto nos EUA.

Grandes empresas de tecnologia, como a Apple, Alphabet, Amazon e Facebook, que devem divulgar os resultados trimestrais na quinta (29), caíram cerca 3%.

O VIX, o índice do medo de Wall Street atingiu sua máxima desde 15 de junho.

O índice Dow Jones caiu 3,4% para o menor nível desde julho, o S&P 500 recuou 3,5% e a Nasdaq teve queda de 3,7%.

Entre os destaques do pregão brasileiro está a Cielo, que teve a maior queda do Ibovespa com tombo de 11,66%, a R$ 3,41, menor cotação desde maio, com balanço do terceiro trimestre mostrando uma redução de 71,5% no lucro líquido em relação ao mesmo período de 2019, para R$ 100,4 milhões.

Empresas do setor de turismo, um dos mais afetados pela pandemia, também tiveram forte queda. A CVC caiu 9,88%, a R$ R$ 12,77, enquanto a Azul recuou 9,58% (para R$ 23,40) e a Gol, 9,03%, fechando o dia a R$16,92.

As ações preferenciais e ordinárias da Petrobras caíram 6,09%, a R$ 18,67, e 6,14%, a R$ 18,64, respectivamente, em meio ao tombo do petróleo no exterior. Ainda no radar estavam a aprovação do conselho da companhia de revisão da política de remuneração aos acionistas, a autorização do governo para a Petrobras importar gás da Bolívia e o balanço do terceiro trimestre, divulgado após o fechamento do mercado.

A Gerdau caiu 5,89%, a R$ 22,22, apesar de resultado acima do esperado no terceiro trimestre, com lucro líquido de R$ 795 milhões, salto de 175% em relação ao mesmo período de 2019, com as ações afetadas pela aversão a risco generalizada. Vale, que apresentou seu balanço trimestral após o fim do pregão com lucro de R$ 15 bilhões, cedeu 3,63%, a R$ 60,26.

As ações da Raia Drogasil desabaram 7,21%, a R$ 24,20, mesmo após reportar alta de 13,4% no lucro líquido no terceiro trimestre, para R$ 172,9 milhões. A empresa, contudo, encerrou o trimestre com uma dívida líquida ajustada maior ano a ano, de R$ 1,18 bilhão.

Alexandre Espírito Santo, economista da Órama, diz que não espera um tombo da economia brasileira tão grande quanto no segundo trimestre, marcado por lockdowns e restrições, mas diz que a nova onda de infecções pode gerar uma desaceleração global novamente.

“Isso mostra que sem vacina não vai adiantar e o mercado volta a ficar dependente disso”, diz.

Segundo ele, uma das explicações para a alta do dólar e queda da Bolsa brasileira é a saída de estrangeiros do país.

Além da pandemia, o país enfrenta problemas locais, com o atraso na agenda de reformas e aumento do risco fiscal. Investidores veem risco de quebra do teto fiscal e aguardam a definição do Orçamento de 2021, que pode sair só ano que vem.

“Risco fiscal paira sobre nós há muito tempo e, em momentos de incerteza, o investidor coloca o lucro no bolso”, diz Espírito Santo.

Um reflexo do risco fiscal é a alta dos juros futuros, taxas de juros esperadas pelo mercado nos próximos meses e anos. Eles são a principal referência para os juros de empréstimos que são liberados atualmente, mas cuja quitação ocorrerá no futuro.

Nesta semana, o juro para janeiro de 2025 foi de 6,62% na última sexta para 6,66% nesta quarta.

O risco-país brasileiro medido pelo CDS de 5 anos subiu 3% nesta quarta, acumulando alta de 3,8% na semana, a 220 pontos.

O CDS funciona como um termômetro informal da confiança dos investidores em relação a economias, especialmente as emergentes. Se o indicador sobe, é um sinal de que os investidores temem o futuro financeiro do país, se ele cai, o recado é o inverso: sinaliza aumento da confiança em relação à capacidade de o país saldar suas dívidas.

“Risco fiscal paira sobre nós há muito tempo e, em momentos de incerteza, o investidor coloca o lucro no Bolso”, diz Espírito Santo.

No ano, estrangeiros tiraram R$ 84,6 bilhões da Bolsa brasileira, saída recorde.

O Ibovespa acumula perdas de 5,8% na semana. No mês, há alta de 0,81%.

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