Cama que protege barriga ajuda grávidas com Covid-19

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Folha de S.Paulo 
Jornalista: Claudia Collucci

08/08/20 - Dois hospitais paulistas ligados à USP testam uma maca e um colchão especiais que podem ajudar na recuperação de gestantes internadas na UTI por Covid-19 que precisam ficar de bruços.

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Em muitos casos de insuficiência respiratória grave que exigem intubação, é preciso pronar a paciente, ou seja, deixá-la de barriga para baixo para que o pulmão possa se expandir com a mais eficiência, melhorando o padrão respiratório. Isso significa deixar a gestante nessa posição por até 20 horas. Se a gravidez estiver mais avançada, a mulher ficará deitada sobre o feto, o que pode ser prejudicial.

A maca que permite que a gestante fique em diferentes posições foi testada e validada no Hospital das Clínicas de São Paulo, já tem patente e aguarda aval da Anvisa para ser comercializada.

“A maioria dos serviços tem medo de pronar gestantes, principalmente as obesas. Há risco de compressão do abdome, de aumentar a pressão intra-abdominal”, afirma a obstetra Rossana Pulcinelli Francisco, professora da USP e coordenadora de obstretrícia do HC-SP.

Ela orientou o doutorado da fisioterapeuta Claudia Oliveira, em que o uso da maca foi testado e validado como seguro para gestantes e bebês.

“Ela é feita de uma forma em que você aumenta ou diminui [a curvatura], ajustando ao tamanho do abdome e à extensão da coluna. Se adequa para cada paciente”, explica.

Desenvolvido na UniSanta (Santos), o equipamento foi pensado para ajudar na reabilitação de problemas de coluna das gestantes, como hérnia de disco. Foram testados três protótipos em três anos.

“Às vezes, a gente faz algo pensando numa coisa e lá na frente descobre que é para um outro propósito”, diz Oliveira.

Ela é coautora de um estudo publicado na revista Clinics em que foi testada a melhoria de parâmetros de oxigenação e pressão arterial, além do conforto da gestante, em diferentes posições na maca.

Oliveira afirma que a ideia surgiu há 26 anos, quando ela engravidou pela primeira vez.

Na pandemia, no HC de São Paulo, a maca também passou a ser estudada em casos de pacientes com insuficiência respiratória. Desde março, 190 gestantes foram atendidas (42 foram para a UTI e 4 precisaram de pronação).

Segundo Rossana Francisco, o equipamento foi usado até agora em uma gestante e em puérperas, sempre dentro do protocolo de pesquisa.

“Foi tudo bem, melhorou demais os parâmetros respiratórios. Poderíamos ter usado em mais casos se a maca já tivesse aval da Anvisa”, diz. O equipamento já passou por vários testes e está fase final de análise na agência regulatória.

Já o colchão, desenvolvido no HC Ribeirão Preto, nasceu de uma necessidade trazida pela pandemia. Foi desenvolvido pela médica Patrícia Melli, do departamento de ginecologia e obstetrícia, e pelo técnico Cléber Braz, da oficina ortopédica do centro de reabilitação do hospital.

Melli diz que a ideia surgiu ao atender uma paciente com 31 semanas de gestação com insuficiência respiratória grave que precisou de intubação e quase foi pronada. Ela então começou a pensar numa forma “caseira” de proporcionar condição adequada e confortável para acomodar o volume abdominal das pronadas.

Melli encontrou o estudo de Claudia Oliveira sobre a maca, mas pensou em desenvolver um modelo mais simples e funcional e pediu ajuda ao técnico Braz. O protótipo ficou pronto em três dias.

Macas e colchões especiais podem ajudar no tratamento e no conforto da gestante com a Covid-19, mas para reduzir o risco de mortalidade materna é preciso ir além, afirma Rossana Francisco, que também preside da sociedade paulista de ginecologia e obstetrícia.

Até o início do mês, ao menos 204 mulheres já tinham morrido no Brasil durante a gestação ou no pós parto após diagnóstico de Covid-19. No estado de São Paulo, foram ao menos 26 óbitos.

No total, há mais de 1.800 casos da doença notificados nesses grupos, de acordo com dados do Sivep-Gripe (Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe);

No HC de São Paulo, foram seis mortes entre as 190 gestantes atendidas desde março.

Segundo Francisco, foi firmado acordo entre as secretarias estadual e municipal para que todas as gestantes com insuficiência respiratória por Covid sejam mandadas ao HC de São Paulo.

Quatro gestantes fizeram o parto na Unidade de Terapia Intensiva. Uma morreu. “São casos muito complexos, que precisam de tecnologia, de acesso à dialise, de pessoal altamente capacitado, obstetrícia e UTI bem alinhados. Maternidades mais simples não têm essa estrutura”, diz.

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