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Muitas fábricas já se estão a reorientar para produzir equipamento médico  - REUTERS/CHRISTIAN CHARISIUS

Volantes que recolhem dados sobre o batimento cardíaco, níveis de stress e níveis de oxigênio podem deixar de ser tecnologias de nicho no mundo pós-covid-19.

Karla Pequenino

Público.pt

Com a crise de saúde pública, a tecnologia médica é dos poucos setores prosperando com novas ferramentas para monitorizar pessoas à distância através de celulares, pulseiras e relógios inteligentes. Nos próximos cinco anos, o carro também se pode transformar num consultório de saúde à distância, com o desenvolvimento de sistemas de purificação de ar, câmaras que supervisionam os níveis de atenção do condutor e volantes que recolhem dados sobre o batimento cardíaco, níveis de stress e níveis de oxigênio.

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A teoria é defendida por analistas da Frost & Sullivan, uma empresa de consultoria focada em identificar novas tendências. Uma das áreas a que tem estado atenta é a evolução de tecnologias de bem-estar e saúde na indústria automóvel (uma área conhecida em inglês pela sigla HWW —Health, Wellness and Wellbeing​).

“Se a década anterior foi toda sobre a necessidade de a indústria automóvel se tornar mais ‘verde’, a próxima década vai ser sobre manter condutores e passageiros ‘rosados’ quanto à saúde”, escreveu Sarwant Singh, analista da Frost & Sullivan, numa publicação do blogue da empresa, e numa análise para a revista Forbes.

O conceito não é assim tão futurista. Na última década, marcas como Audi, BMW, Ford ou Toyota têm desenvolvido vários carros conceptuais com bancos que analisam a postura dos passageiros, volantes com múltiplos sensores e câmaras no habitáculo que influenciam as luzes, rádio e informação no vidro da frente. Uma das propostas da japonesa Toyota inclui carros com cadeiras que dão massagens e volantes que mudam de posição para evitar mãos dormentes.

“O modelo de negócio tem sido um desafio porque há poucos condutores disponíveis a pagar estas funcionalidades, mas isto pode mudar após pós-covid”, diz ao PÚBLICO Singh ,que descreve a área como “o novo ‘pote de ouro’ da indústria automóvel”.

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GEELY

Várias marcas e fabricantes de automóveis já se estão a reorientar para a saúde ao produzir ventiladores, máscaras e outro equipamento médico. A Mercedes-Benz disponibilizou impressoras 3D, capazes de produzir componentes urgentes para equipamento médico, e a Ford está a produzir ventiladores a partir de peças de automóveis modificadas nos EUA. Em Portugal, as instalações da Autoeuropa também começaram a fabricar viseiras para ajudar na linha da frente.

Ao nível do marketing, também se nota um aproveitamento dos receios com a saúde pública para vender carros. Em Março, a fabricante de automóveis Geely, actual proprietária da Volvo e da Lotus, apresentou o Icon, um carro com um sistema de purificação de ar inteligente “desenvolvido em resposta ao coronavírus” que é “capaz de isolar e eliminar elementos nocivos da cabine como bactérias e vírus”. Mas, embora o sistema de filtração do ar seja certificado como N95 (bloqueia pelo menos 95% de partículas até 0.3 microns — unidade que corresponde à milésima parte do milímetro), as particulares do novo coronavírus medem entre 0,05 e 0,2 microns.

“Independentemente de ser uma hipérbole, é algo ressonante durante os tempos de covid-19”, reconhece Singh, no artigo publicado na Frost & Sullivan.

Numa fase inicial, a previsão é que as fabricantes automóveis se foquem em parcerias com empresas de análise de dados como a IBM, fabricantes de smartphones e tablets como a Samsung e Google, e operadoras de telecomunicações. Para a Frost & Sullivan, “o desenvolvimento de recursos de HWW para veículos não pode ser um esforço solo”.

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