Chefe da MSD critica fixar prazo para nova vacina

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Valor Econômico
Jornalista: David Crow, do Financial Times


27/05/20 - O executivo-chefe da Merck Sharp & Dohme (MSD), Ken Frazier, pôs em dúvida a viabilidade do prazo de 12 a 18 meses para o desenvolvimento de uma vacina eficaz contra o coronavírus, ao descrever o cronograma divulgado em amplos círculos como “muito agressivo”.

“Não é algo que eu divulgaria que estaria disposto a comprometer a Merck”, disse o diretor do grupo farmacêutico americano ao “Financial Times”, acrescentando que vacinas devem ser testadas em testes clínicos “muito grandes”, que levam vários meses, se não anos, para serem concluídos.

“Você quer garantir que, quando administra uma vacina a milhões, se não bilhões de pessoas, ela é segura”, disse ele.

A intervenção de Frazier ocorre menos de duas semanas depois do lançamento, pelo governo dos Estados Unidos, do projeto Operation Warp Speed, na tentativa de reduzir drasticamente o intervalo de tempo que será necessário para desenvolver uma vacina. Na ocasião, o presidente Donald Trump disse esperar ter uma vacina em produção “até o fim do ano ou pouco depois disso”.

Outros membros da força-tarefa de combate ao coronavírus da Casa Branca, como o Dr. Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, foram mais cautelosos, sugerindo que o tempo mais curto para a produção de uma vacina era de 12 a 18 meses.

No entanto, o executivo-chefe da Merck - que tem um longo histórico de desenvolver vacinas - se recusou a aderir ao prazo de 12 a 18 meses, ao anunciar que sua empresa está desenvolvendo duas vacinas contra o coronavírus, bem como um medicamento para pacientes infectados.

“Nossa experiência sugere que [esses prazos] são muito agressivos comparados com outros cronogramas para obter uma vacina segura e eficaz”, disse Frazier, quando perguntado se a meta, frequentemente repetida, seria realista.

Os comentários de Frazier ocorreram num momento em que a Merck anunciou que está adquirindo a Themis Bioscience, uma empresa de biotecnologia de capital fechado com sede em Viena que vem desenvolvendo uma vacina contra o coronavírus. Ele disse que a vacina, baseada numa imunização contra o sarampo, começará a ser testada em seres humanos “dentro de apenas algumas semanas”.

“Usamos [essa vacina] em bilhões de pessoas para [combater] o sarampo e estamos bastante confiantes de que ela poderá conferir um nível de imunidade com uma única dose”, disse Frazier.

A Merck também anunciou parceria com o grupo sem fins lucrativos IAVI a fim de desenvolver uma vacina com o uso de uma plataforma tecnológica que constituiu a base para a bem-sucedida vacina da Merck contra o Ebola.

A decisão da Merck, de desenvolver vacinas nas quais já tem experiência com a tecnologia subjacente, contrasta com as de laboratórios farmacêuticos concorrentes que estão procurando desenvolver candidatas a vacinas com base em fundamentos científicos menos comprovados que poderiam render resultados mais acelerados, mas que envolvem um risco de fracasso.

A empresa americana de biotecnologia Moderna, que é uma das líderes na corrida para desenvolver uma vacina, está usando uma plataforma de “RNA mensageiro” (mRNA) que nunca gerou um produto aprovado pelos órgãos reguladores.

Frazier comparou a plataforma subjacente empregada para desenvolver uma vacina ou medicamento ao “hardware de um sistema do computador”. E disse: “Ajuda muito começar com um hardware que você conhece. Algumas das outras abordagens prometem avanço mais acelerado, mas temos de ter claro que nenhuma dessas abordagens produziu vacina aprovada, e que ninguém tentou aumentar sua escala.”

Ele disse que a Merck tomou uma decisão contra uma abordagem com base no mRNA porque a empresa não acredita que ela poderia ser administrada às pessoas com uma dose única, o que significa que elas teriam de se submeter a uma imunização de reforço.

“A rapidez é um fator, mas, em certa medida, não aceitamos, na verdade, o conceito de uma corrida”, disse ele. “Entendemos a urgência, mas a nossa meta não é estar na dianteira nos estágios iniciais. É desenvolver uma vacina que seja segura e eficaz.”

A Merck também anunciou um acordo de licenciamento com a Ridgeback Biotherapeutics, uma empresa americana de biotecnologia de pequeno porte, a fim de desenvolver um medicamento experimental para tratar pacientes já infectados pelo coronavírus. Se bem-sucedido, o medicamento antiviral de uso oral - administrado sob a forma de um comprimido - pode se tornar um concorrente mais prático do remdesivir, da empresa americana de biofarmacologia Gilead, ministrado por via intravenosa.

A empresa não divulgou as cláusulas financeiras da aquisição da Themis, da parceria com a IAVI ou do acordo de licenciamento com a Ridgeback.

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