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Valor Econômico 
Jornalista: Barbara Bigarelli


04/05/20 - Cresce o número de empresas brasileiras que oferece, como um benefício extra ao plano de saúde, serviços de telemedicina a funcionários durante a pandemia. Empregados experimentam pela primeira vez consultas médicas on-line e médicos se adaptam a uma nova forma de atuar.

Na VLI, do setor de transporte de cargas, a telemedicina é uma realidade adicional ao plano de saúde nas últimas três semanas. “Como a gente não sabe ainda se a curva de contaminação vai achatar, e se teremos braço suficiente na nossa equipe de medicina de trabalho para esse acompanhar de forma próxima nossos funcionários, recorremos à telemedicina”, diz Rute Melo Araújo, diretora de gente e serviços.

Todos os cerca de 7,5 mil funcionários do grupo, sendo que 1,2 mil está em home office, têm acesso a um aplicativo da empresa Conexxa, onde podem se consultar remotamente, sem custo, com um médico. O benefício vale para os dependentes diretos dos empregados. Até o dia 29 de abril, foram 356 consultas realizadas. Uma delas envolveu Elizabeth Pimenta, analista de responsabilidade social da VLI. Sentindo um desconforto no trato urinário na semana passada, ela acessou o aplicativo pelo celular, seus dados foram identificados, ela concordou com um termo de consentimento e foi atendida em dez minutos.

Sua consulta durou meia hora e ela descreve o atendimento como “atencioso, detalhado e humano”. “Eu achava que telemedicina era algo frio, mas me senti como se tivesse no consultório, olhando a médica na câmera e conversando sobre meu caso por meia hora”, diz Elisabeth. Ao final, recebeu a receita de remédio por SMS e e-mail para seguir com um tratamento em casa por sete dias. “Consegui evitar o deslocamento, os gastos e o risco de ter que ir com meu filho a um hospital na pandemia”.

Na SAP, 1,1 mil funcionários da operação brasileira estão com acesso aos serviços de telemedicina por meio da operadora de saúde Omint que oferece duas modalidades de atendimento a distância por teleconferência utilizando o Skype ou telefone. O serviço atende pacientes para análise de casos pontuais ou de baixa gravidade.

Na startup QuintoAndar, os médicos que atendiam no espaço de saúde físico no escritório passaram a atender de casa, por videochamada ou WhatsApp, funcionários com questões de saúde ou psicológicas. “O teleatendimento agora é a principal ferramenta dos nossos dispositivos de saúde”, diz Daniel Seixas, gerente da área de pessoas, citando adaptações também no plano de saúde oferecido.

Já no Grupo GR, empresa de segurança patrimonial com 12 mil funcionários em 16 estados, a telemedicina foi uma alternativa “para dar apoio e acolhimento aos funcionários” durante a pandemia, segundo Alex Oreiro, VP administrativo financeiro. Para o empregado Leandro Barbosa da Silva, a consulta on-line foi uma boa alternativa para “poupar tempo” e diminuir o risco de ir a um posto de saúde. “Eu já tinha ido a um posto, esperado três horas para ser atendido e realizado o exame de covid, que deu negativo. Mas como os sintomas não sumiram, procurei a teleconsulta. Foi muito prático, me tranquilizou e a médica me orientou sobre cuidados no isolamento e com minha família”.

A prática da telemedicina, para teleorientações, telemonitoramento e interconsultas entre médicos foi viabilizada em março, com regulamentação do Conselho Federal de Medicina (CFM) e de uma portaria do Ministério da Saúde. As normas, válidas para a pandemia, permitem o uso de tecnologia para a prática da medicina a distância. Acabaram por impulsionar uma demanda que crescia no setor de saúde.

No Doutor Consulta, que lançou a plataforma dr. consulta on-line em 25 de março com 300 médicos no atendimento, a especialidade mais procurada remotamente é a psiquiatria. No total, desde o lançamento, foram realizadas 9,5 mil consultas para 20 especialidades. No Hospital Sírio Libanês, 72% das 16 mil consultas em abril foram de forma remotas. Antes da crise e da nova regulamentação, o Sírio Libanês realizava 30 mil consultas, sendo 27% por plataformas digitais. “Como muitas das nossas empresas-clientes estão com funcionários em home office, conseguimos realocar parte da equipe de saúde que atuava nos ambulatórios (médicos, enfermeiros, nutricionistas e psicólogos) para o atendimento digital”, diz Fabio Patrus, diretor de Unidades Externas e Saúde Corporativa.

Já no Hospital Israelita Albert Einstein o número de empresas que utilizam o serviço cresceu de 15 para 60 nos últimos dois meses. “Antes da crise, 400 mil pessoas tinham acesso à nossa telemedicina. Agora, são 1 milhão e meio”, diz Eduardo Cordioli, gerente médico de Telemedicina da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Para atuar, é preciso treinamento de 15 horas sobre ética, segurança e responsabilidade digital, diz professor da USP. Grande parte das consultas on-line atuais corresponde a possíveis sintomas da covid-19, mas Cordioli diz que nas últimas semanas cresceu o atendimento para doenças crônicas, como diabete, e especialidades como pediatria e dermatologia. O tempo de espera médio para ser atendido é de 3 minutos e meio e as consultas on-line duram, em média, 12 minutos e meia hora para uma especialidade.

Esse atendimento do Einstein está acessível desde abril para os 48 mil funcionários do Banco Santander. A diretora de RH, Vanessa Lobato, explica que esta é uma possibilidade extra à cobertura do plano de saúde oferecido e que foi implementada para evitar o deslocamento dos funcionários a hospitais diante de possíveis sintomas da covid-19. Eles podem acessar o atendimento por um aplicativo ou site específico do hospital e pagam R$ 18,75 por consulta. “Nos primeiros três dias, foram 200 atendimentos. Foram 200 pessoas que não foram a hospitais”, diz Vanessa. Entre os funcionários que já utilizaram o serviço, está Luana Lima, analista de RH. “Estava com febre e dor no corpo”, conta. Nesse momento, não conseguiu executar o app por problemas técnicos, então ligou para um número específico do hospital, disponibilizado no comunicado interno do banco. “Me enviaram na hora um link para a chamada em vídeo por SMS, fiz a triagem on-line e em dez minutos fui atendida”. Ela diz que a atenção gerada pelo médico, o fato dele não se dispersar durante o atendimento, lhe trouxe confiança - algo que não esperava da telemedicina.
A maior adesão de pessoas e empresas à telemedicina durante a covid -19 também impacta a carreira médica. “Essa situação da pandemia mudou radicalmente a percepção geral na área. Vemos um maior interesse de médicos mais experientes e a noção de que a telemedicina é uma oportunidade para manter contato com pacientes, evitar o encontro físico e praticar uma medicina similar àquela presencial”, diz o cardiologista Carlos Pedrotti, médico referência do centro de teleatendimento do Einstein.

A conexão de Pedrotti com a telemedicina começou no Einstein em 2012 quando, como define, esse campo “era muito mais futuro do que algo difundido na sua carreira”. Desde lá, com projetos pilotos, ajudou a desenvolver os 40 protocolos de atendimento (on-line) de doenças de baixa complexidade que o Einstein possui atualmente. “Detalhamos a forma de atuação e quando devemos encaminhar o paciente para o hospital”. Atualmente, o centro de telemedicina do Einstein realiza 800 teleconsultas diárias. A taxa de “resolução” é de 85%, ou seja, apenas 15% dos pacientes atendidos são encaminhados para atendimento presencial. Pedrotti diz que a maioria dos médicos se adapta bem à telemedicina e que as maiores dificuldades são com relação à postura em uma videoconferência (câmera, iluminação, comunicação). A grande adaptação no atendimento em si é o exame físico a distância. “Existem técnicas cada vez mais sofisticadas para essa condução, mas hoje a avaliação envolve a feição do paciente, coloração da pele e orientação para ajuda na visualização da garganta”.

Aos funcionários e pacientes que estão realizando uma consulta on-line pela primeira vez, Chao Lung Wen, professor da Faculdade de Medicina da USP e chefe da disciplina de telemedicina, orienta que eles devem consentir com um termo explicando o procedimento, condições de atendimento e eventuais limitações. “O paciente deve saber também que o sigilo médico precisa ser mantido no atendimento remoto, o que pressupõe que o vídeo não pode ser gravado e nem dados serem vazados”. Aos médicos que estão começando na telemedicina, Chao acredita ser necessário um treinamento de cerca de 15 horas sobre ética, segurança e responsabilidade digital e teleatendimento humanizado.

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