50137668397_7821e49266_o.jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453&profile=RESIZE_710xSinovac: 15 milhões de primeiras doses devem seguir padrão das primeiras unidades enviadas para os ensaios clínicos Divulgação Governo do Estado/VEJA

O Instituto Butantan erguerá uma fábrica de 7 000 metros quadrados com três pavimentos que será uma réplica do laboratório da Sinovac no país asiático

Por Mariana Rosário

Veja

Uma das quatro vacinas autorizadas para realizar testes no país é a da Sinovac Biotech, uma farmacêutica chinesa. O trabalho de testar 9.000 voluntários brasileiros é realizado em parceria exclusiva com o Instituto Butantan, reputado centro de imunizantes localizado na capital paulista. Participam dos ensaios clínicos cinco estados e o Distrito Federal.

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Com a aprovação do medicamento pela Anvisa, prevista para ocorrer ainda neste ano, o Butantan iniciará a construção de uma fábrica de cerca de 7.000 metros quadrados dedicada à produção da CoronaVac, como é chamado o fármaco. Trata-se de uma das maiores unidades nas dependências do local que conta com seis outras áreas de produção de imunizantes. O prédio terá  três pavimentos. O empreendimento custará 130 milhões de reais — o que inclui a compra do equipamento necessário. O valor será custeado por meio de doações de empresas e grupos filantrópicos privados.

Por enquanto, o edifício que abrigará a nova fábrica passa por um processo de desmontagem. Antes da pandemia, a edificação funcionava nos moldes de um almoxarifado e seus antigos laboratórios receberam estudos clínicos esporádicos. 

“Será uma réplica das instalações dos laboratórios da Sinovac na China. Como trabalharemos com o mesmo produto, é natural que as estruturas também sejam semelhantes para repetir os processos”, diz Rafael Lubianca, diretor de infraestrutura do Butantan. Ou seja, o projeto final só será colocado de pé após a aprovação da proposta pelo laboratório chinês. A nova fábrica terá cerca de trezentos especialistas do Butantan, sem contar os funcionários de limpeza e segurança. Ao todo, a instituição conta hoje com 2.500 colaboradores que devem estar envolvidos na produção da vacina mesmo que indiretamente.

A nova fábrica seguirá padrões de segurança tradicionais ao Butantan, que produz seis outras vacinas atualmente: influenza trivalente, HPV, hepatite B e A, DTPa — para difteria, tétano e coqueluche— e raiva . Haverá, por exemplo, paredes especiais que permitem a limpeza sem deixar resíduos e higienização periódica feita com desinfetante e água ultrafiltrada. Outro sistema que deve ser instalado é o de purificação do ar para que materiais particulados, como a poeira, não poluam as dependências da fábrica causando contaminação. A entrada de pessoas também passará por um restritíssimo protocolo de segurança. 

Na atual fase de testes, a estimativa é que todos os voluntários recebam as duas doses do medicamento, ou placebo, até o final de setembro. Até agora, não há relatos de efeitos adversos graves entre os que já receberam as doses. Somente dor no local da aplicação e quadros de indisposição. Os voluntários relatam que a sensação é bem semelhante ao receber outras vacinas já tradicionais.

Acordo

O acordo com o laboratório chinês é diretamente negociado pelo Butantan. O contato entre eles é por meio de ligações diárias em um aplicativo de videochamadas semelhante ao zoom. “São duas sessões diárias, às 10 e às 22 horas, para atenuar o fuso horário entre os dois países”, diz o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. Nas conversas, totalmente em inglês, participam uma dezena de técnicos do Butantan. Com no máximo uma hora de duração, as reuniões têm a função de discutir detalhes científicos ou financeiros do acordo e são absolutamente fundamentais para a produção da vacina, uma vez que a empresa não tem escritório de representação no país.

A parceria entre os grupos foi anunciada em 11 de junho, cerca de um mês após o início das negociações formais, feitas também por reuniões virtuais. A Sinovac já ensaiava uma relação próxima com o Butantan por interesse mútuo na produção de medicamentos como vacinas da dengue e hepatite B.  Antes de fechar o acordo com os chineses, Dimas Covas realizou um giro entre os principais laboratórios do mundo para saber o que vinha sendo feito em termos de pesquisas para produzir respostas à Covid-19. 

“Assim que surgiram relatos do novo coronavírus começamos a conversar com diversas companhias, inclusive com Oxford e Astrazeneca para saber dos estudos em andamento. Com a análise, percebemos que a vacina mais adiantada era da Sinovac e fizemos um contrato de desenvolvimento. Escolhemos essa opção exatamente por ser uma tecnologia que nós já temos experiência. Esse tipo de vacina de vírus inativado já é usada há muito tempo”, comenta. 

Doses

A primeira etapa será da entrega de 15 milhões de doses iniciais do imunizante pronto para aplicação, em seringas. O envio será feito em três lotes de 5 milhões de doses entre outubro e dezembro. As injeções chegarão envolvidas em plástico e depositadas em caixinhas de papelão da cor branca e laranja com a descrição do laboratório Sinovac, refrigeradas em – 20 ºC dentro de  aviões cargueiros. Outra encomenda a ser recebida a partir de outubro é uma solução líquida com o vírus inativado. Ao todo, o instituto planeja entregar aos brasileiros 120 milhões de doses. 

O trabalho realizado pelo Instituto, no entanto, ainda é encarado com certo desdém de pessoas que correm às redes sociais para criticar a aliança da organização com um laboratório chinês. A postura negativa em relação ao medicamento, inclusive, incomoda os técnicos do instituto. “Quero saber qual será a desconfiança dessas pessoas quando a vacina estiver aqui. Se vão tomar ou não. O Butantan tem tradição e jamais iria se relacionar com alguém que não tem qualidade e segurança na produção de vacinas”, enfatiza Covas.

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