Dados de julho apontam retomada mais rápida

economia-01.jpg?profile=RESIZE_710x

Valor Econômico
Jornalista: Anaïs Fernandes


10/08/20 - Os primeiros indicadores de atividade para julho sinalizam que a recuperação no terceiro trimestre, após o fundo do poço esperado para abril a junho, pode ser mais rápida do que o previsto inicialmente, ao menos no curto prazo. Para a segunda metade do ano como um todo, porém, as incertezas são grandes, sobretudo no que diz respeito à dinâmica da pandemia, à reação dos serviços, ao fim de programas do governo e a perspectivas fiscais.

Siga o DikaJob: 

YouTube - Instagram - LinkedIn - Telegram - Facebook

Eduardo Yuki, economista-chefe da Panamby Capital, traça um “percurso” de indicadores mais positivos para o início do terceiro trimestre, da demanda à oferta. Desde meados de abril, ele diz, índices de isolamento social vêm diminuindo. “A dúvida é se as pessoas saem de casa para dar uma volta no quarteirão ou para retomar algum consumo ou atividade produtiva.”

O indicador semanal da Cielo para faturamento das vendas no varejo, que chegou a tombar 52% na quarta semana de março, ante o momento pré-pandemia (fevereiro), caía 13% na última semana de julho. “É um pouco mais de consumo voltando”, diz Yuki. Economistas citam ainda, para “medir” o comércio, a venda de veículos, pelos dados da associação dos concessionários, que subiu 26% ante junho, segundo ajuste sazonal da LCA Consultores.

Em outra frente, diz Yuki, levantamento do Google para o Brasil aponta um retorno da locomoção ao trabalho - está 1% abaixo da média anterior a março. “Quem trabalha liga computador, ar-condicionado, e os dados diários da carga de energia do ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico] mostram o consumo no início de agosto já em nível similar ao do mesmo período do ano passado”, afirma.

Segmento de peso na indústria, a produção de automóveis e comerciais leves também cresceu 61% de junho para julho, segundo ajuste da LCA para os dados da associação de montadoras (Anfavea). Mais interessante, dizem economistas, é observar a redução nos estoques, de 27 dias de vendas em junho (157,6 mil unidades) para 24 dias em julho (138,3 mil unidades), de acordo Fernando Montero, economista-chefe da Tullett Prebon. “Isso significa que, lá na frente, empresas terão de voltar a produzir mais. Esse estoque baixo - e não só no setor automotivo, temos métricas proprietárias para mensurar o nível no Brasil - ajuda a sustentar a necessidade de produção nos próximos meses”, diz Yuki.

Ele menciona ainda o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (Nuci) da indústria, calculado pela Fundação Getulio Vargas, que avançou 5,7 pontos percentuais em julho, para 72,3%. “O Nuci voltou 80% do que caiu. De fato, as empresas estão usando mais máquinas e fatores de produção”, diz.

O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria no Brasil atingiu o nível recorde de 58,2 em julho, enquanto o PMI de serviços até subiu para 42,5, ante 35,9 em junho, mas ainda está abaixo de 50, indicando retração da atividade. Com a aparente melhora no consumo e na produção, a última constatação é que “o produto tem de circular”, brinca Yuki. No grupo CCR, o tráfego de veículos comerciais cresceu 6,1% em julho, ante 2019.


Se a atividade em julho começa bem, já garante a possibilidade de um terceiro trimestre “bem legal” para o Produto Interno Bruto (PIB), diz Marcela Rocha, economista-chefe da Claritas Investimentos. Ela projeta alta de 6,8% ante o segundo trimestre. “Estou confortável, mas esses primeiros ‘cheiros’ dizem que pode ser uma alta um pouco mais forte. Não é um crescimento só por carrego estatístico, mas sim dos setores ganhando força”, afirma.

O indicador diário de atividade construído pelo Itaú Unibanco atingiu 86 pontos na média móvel de sete dias até 2 de agosto, crescendo gradualmente desde o patamar de 66 pontos de abril, segundo Luka Barbosa, economista do banco. A base 100 é a primeira quinzena de março. A percepção de recuperação, diz Barbosa, é geral e esperada mesmo para os serviços - único grande setor que ainda não trouxe resultado positivo nos dados oficiais do IBGE -, mas parece mais rápida na indústria. “Até agora, está em ‘V’, mas não sabemos se vai completar”, afirma.

Nos serviços prestados às famílias, o retorno deve ser mais lento, diz Barbosa, a depender da desaceleração nos números da pandemia, da redução das medidas de restrição e também da confiança da população. “Em julho, esse segmento não parece ter melhorado tanto em relação a junho. A grande dúvida é se ele começa a se recuperar em agosto.”

O Itaú projeta alta de 8,5% para o PIB do terceiro trimestre e de 1,9% nos três meses seguintes. A perspectiva de retomada em dois tempos, primeiro em um “V” incompleto e, depois, mais gradual, também faz parte do cenário da Tendências Consultoria. “Talvez esse primeiro momento tenha sido relativamente mais rápido em intensidade”, reconhece o economista Thiago Xavier. Isso não altera, segundo ele, a perspectiva de uma segunda metade do ano com “limitadores”. Os meses de agosto e setembro serão importantes exatamente para medir o quanto a retomada depende dos estímulos fiscais e ajudar a projetar a “velocidade normal” do quarto trimestre, diz Marcela, da Claritas.


A possibilidade de o auxílio emergencial ser estendido até dezembro, com valor menor, foi incorporada pela Panamby, que prevê altas de 6,5% no PIB do terceiro trimestre e de cerca de 3% no quarto, fechando 2020 com queda de 4%. Yuki vê “riscos altistas” para o segundo semestre na aparente poupança precaucional das famílias, que poderia sustentar consumo, e na política monetária, pela enorme injeção de liquidez e pelos efeitos defasados do corte de juros na economia real.

O fator negativo, segundo ele, seria uma percepção de deterioração das contas públicas e, por isso, é importante garantir o teto de gastos sem “malabarismos”. Para Vitor Vidal, economista da XP, o maior risco à frente é “a questão sanitária tirando a confiança de todo mundo”.

Aloisio Campelo Jr., superintendente de Estatísticas Públicas do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), nota que a velocidade de recuperação das confianças está, em geral, mais parecida com a da crise de 2008/2009 - mesmo que a situação fiscal do país agora seja pior - do que com a registrada na recessão de 2014/2016, muito lenta. “Os índices avançaram primeiro nas expectativas, na ideia de que ‘pior do que está não fica’. A percepção da situação atual começa a melhorar, mas lentamente. Enquanto houver incertezas tão grandes, é possível que a trajetória vá ‘aos trancos e barrancos’”, diz.

Enviar-me um e-mail quando as pessoas deixarem os seus comentários –

DikaJob de

Para adicionar comentários, você deve ser membro de DikaJob.

Join DikaJob

Faça seu post no DikaJob