Demora no trâmite atrasa distribuição de vacina

Demora no envio de documentação do Ministério da Saúde à Anvisa atrasa distribuição de vacinas - Jornal O Globo

O Globo, notícia também publicada em O Estado de S.Paulo e Correio Braziliense 
Jornalista: Natália Portinari e Paula Ferreira

A demora no envio de documentação à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é um dos principais problemas que travam a distribuição de doses de vacina para os estados.

Ontem, o Ministério da Saúde informou que cerca de 6,9 milhões de doses estão paradas no seu Centro de Distribuição, em Guarulhos (SP). Segundo a pasta, 3,3 milhões de imunizantes aguardavam trâmite para liberação dos órgãos reguladores, mas o GLOBO apurou que isso se deve à ausência de informações fornecidas pelo ministério à agência, entre outros pontos, sobre questões relacionadas à temperatura de armazenamento de vacinas da Pfizer.
Fontes do ministério atribuem a demora à fabricante, mas a assessoria da Pfizer informou que apenas duas caixas, com 11.700 doses, estão nesse momento aguardando “o relatório de qualidade por parte da Pfizer por mais de 48 horas”.

As caixas contendo imunizantes da Pfizer possuem um dispositivo que monitora a temperatura à qual as vacinas são submetidas no processo. Esse relatório deve ser enviado à Anvisa para que a agência ateste que as vacinas não foram transportadas em temperaturas inadequadas que possam comprometer sua eficácia e segurança, mas a documentação tem demorado a chegar às mãos da agência.



FORA DO NORMAL

Servidores da Saúde ouvidos pelo GLOBO relataram que houve um atraso acima do normal no envio da documentação da temperatura referente a quatro embarques de vacina da Pfizer, mas nem todas as vacinas estocadas no centro de distribuição são da Pfizer, segundo o próprio Ministério da Saúde. A distribuição de outras vacinas ocorre de forma mais imediata, já que elas não têm os mesmos critérios em relação à medição de temperatura.
Em nota, a Anvisa afirmou que não havia pendências por parte da agência, ou seja, que a análise da documentação disponível já foi feita, e mencionou ausência de informações.
O envio pela Pfizer das informações de monitoramento de temperatura deve ocorrer antes que a documentação seja remetida à Anvisa. Por outro lado, pessoas envolvidas no processo relatam que as trocas de comando no Departamento de Logística (DLOG) após denúncias de corrupção teriam impactado na organização interna, de modo que esses problemas começaram agora, após a importação de vários lotes.

“Até o momento, a Pfizer já entregou ao Ministério da Saúde mais de 6.800 caixas, sendo que apenas nove tiveram relatórios de qualidade submetidos com mais de 48 horas após sua chegada”, informou a Pfizer. “Nas últimas três semanas, 98% das caixas entregues ao Ministério da Saúde tiveram relatórios de qualidade submetidos em até 24 horas após a chegada”.
“A companhia segue tomando as medidas necessárias para reduzir os poucos casos em que a emissão dos relatórios de qualidade acontecem em mais de 48 horas após da chegada da vacina ao país”, acrescentou o laboratório.

Em entrevista ao GLOBO, o diretor da Anvisa Alex Campos responsável pelo tema na agência, explicou que o processo tem sido pontuado por ausência de documentações. Segundo ele, entre os problemas, há questões relacionadas ao fornecimento de informações sobre a temperatura das cargas, que já foram abordadas em comunicações com o ministério.
— Já tivemos tratativas com o Ministério da Saúde na semana passada sobre o tema (monitoramento da temperatura), porque existem algumas caixas da Pfizer que estão vindo com o datalog (sensor) quebrado, sem funcionar, e aí não tem como monitorar (a temperatura). O que orientamos é que segreguem essa caixa e liberem o resto, mas eles têm que nos informar. A questão foi tratada e já foi provida uma solução para o desembaraço, que é segregar a caixa (com defeito) e alimentar o sistema. Isso tudo é logística.

BAIXA TEMPERATURA

O diretor explica que as informações são importantes, uma vez que vacinas da Pfizer são armazenadas antes da liberação em caixas com temperatura entre -25 °C e -15 °C por até 14 dias.

— No momento da importação apresenta-se um conjunto de documentos que tem a ver com a qualidade da vacina, sobretudo. E, normalmente, esse dossiê chega com documentos ausentes. Mas ainda assim isso é feito com muita rapidez. Existe um trabalho de cooperação entre o Ministério e a Anvisa para que isso ocorra da maneira mais rápida possível. Entre esses documentos também há o monitoramento da temperatura da vacina e esse é um aspecto importante, porque estamos falando de vacinas que vêm a uma temperatura baixíssima — explica o diretor da agência.



SUSPENSÃO

Desde terça-feira há relatos sobre a demora na distribuição de doses. O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD-RJ), chegou a suspender a vacinação na capital na quarta e na quinta-feira, e cobrou o envio de doses por parte do Ministério. Nas redes, Paes afirmou que a pasta teria cerca de 11,2 milhões de doses em estoque.

Segundo dados do Consórcio de Veículos de Imprensa, do qual O GLOBO faz parte, ontem o Brasil acumulava 112.046.147 pessoas vacinadas com a primeira dose, o que corresponde a 52,91% da população. Os dados mostram ainda que 48.269.832 pessoas estão totalmente imunizadas, seja com duas doses ou com dose única do imunizante da Janssen, o número representa 22,80% da população nacional.

O GLOBO procurou o Ministério da Saúde com questionamentos sobre o tema, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.

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