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20/10/20 - Para celebrar o Dia do Médico, o GLOBO, com apoio da Afya, promoveu dois debates sobre o presente e o futuro da profissão. O primeiro deles teve como tema "O novo médico". Em pauta, a incorporação das novas tecnologias e das novas habilidades que os profissionais devem desenvolver e o futuro do ensino de medicina.

Participaram do encontro: Dr. Alexandre Siciliano, diretor médico do hospital Pró-Cardíaco; Natasha Slhessarenko Fraife Barreto, conselheira do Conselho Federal de Medicina; Romeu Domingues, cochairman do Conselho da Dasa; e Júlio de Angeli, VP de Inovação e Serviços Digitais da Afya. A mediação foi da jornalista Ana Lucia Azevedo.

Conhecimento médico e tecnologia

Durante o debate, Alexandre Siciliano, diretor médico do hospital Pró-Cardíaco, disse que há hoje a explosão do conhecimento médico. Na década de 1950, era estimado em 50 anos o tempo para dobrar o conhecimento médico. Já em 1960, essa estimativa passou para 10 anos. E hoje, estima-se que o conhecimento dobre a cada três meses.

— Isso torna impossível querer aprender ou conhecer tudo. Hoje a gente pode usar a tecnologia para feedback em tempo real e minimizar o erro de diagnóstico, e até o robô para intervenções em cirurgias. A gente vai precisar de um novo comportamento psicomotor para lidar com essa interface tecnológica — avalia.

Júlio de Angeli, VP de Inovação e Serviços Digitais da Afya, salientou que, na educação, a tecnologia vem caminhando a passos lentos, muito mais como complemento. Já os diagnósticos e tratamentos mudam numa velocidade incrível.

— A tecnologia existe para ajudar o médico a tomar uma decisão mais assertiva e exercer de fato aquela relação. Este momento é muito importante e tem que ser preservado, principalmente do ponto de vista educacional — considera.

Escolas médicas

Natasha Slhessarenko Fraife Barreto, conselheira do Conselho Federal de Medicina, afirmou que o Conselho Federal de Medicina está preocupado com a abertura indiscriminada de escolas médicas. Segundo ela, atualmente, o Brasil tem 342 escolas médicas, perdendo apenas para a Índia:

— Nos últimos 20 anos, esse número quase dobrou, especialmente nos últimos 10 anos. Tivemos 164 escolas abertas. Isso nos deixa preocupados em prezar pela formação desse médico.

Esta abertura de escolas preocupa também Romeu Domingos, do conselho da Dasa. Para ele, é preciso fazer com que, mesmo pequenas, estas instituições tenham acesso ao conhecimento e a tecnologia pode ser uma aliada nisso.

— Com tecnologia, se não tiver um especialista em algo numa faculdade, é possível levar ensino a distância, complementando essa deficiência — avalia.

Empatia com o paciente

Uma das reclamações mais comuns entre pacientes é a falta de empatia e de proximidade com os médicos. E os debatedores concordam com essa opinião. Mas como fazer com que os novos profissionais tenham este sentimento pelo próximo? Segundo Natasha, a escola precisa se preocupar com a formação deste aluno. Para ela, muitas vezes, o estudante entra na escola com a impressão de que a medicina é glamour:

— Apesar de todo o avanço tecnológico, o médico que tiver capacidades mais afetivas vai agregar e fazer os pacientes confiarem nele. Óbvio que isso caminha junto com conhecimento tecnológico e capacidade.

Para Siciliano, do Pró-Cardíaco, a empatia é um dom, mas que pode ser treinado. No entanto, ele ressalta que é necessário repensar o tempo de relação médico-paciente para atender a demandas financeiras:

— São consultas cronometradas para que, no final do dia, as instituições gerem um número de performance e o médico tire seus honorários de forma digna. Talvez essas reflexões devam ser feitas. Ainda temos que entender qual a real demanda do paciente.

Treinamento é uma das soluções

Júlio de Angeli, da Afya, concorda que a solução é o foco em treinamento:

— Fazemos treinamentos focados na experiência do paciente e trazemos esse modelo para a sala de aula. A competência sócio-emocional talvez seja a mais difícil de treinar. Exige treinar os alunos e o treinador. É um ambiente com uma pressão muito grande.

O exemplo dos professores é apontado por Romeu Domingues, da Dasa, como uma maneira de levar este sentimento aos jovens profissionais:

— A forma como os professores lidavam com os pacientes ficava na nossa memória. Esses alunos de faculdades menores devem ter aulas, mesmo a distância, para ver como o médico conversa com os pacientes, como atende, o carinho… Como o médico pode não dar "bom dia" e perguntar como o paciente está? Isso leva menos de dez segundos.

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