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A plitidepsina bloqueia uma proteína humana conhecida como eEF1A, sem a qual o vírus é incapaz de se multiplicar

Pesquisa com a plitidepsina

Usada contra câncer de sangue

Foi testada em camundongos

Uma equipe internacional de pesquisadores divulgou nesta 2ª feira (25.jan.2021) os primeiros dados comprovados sobre a eficácia da plitidepsina, que teria uma “potente eficácia pré-clínica” contra a covid-19, segundo estudo publicado na revista científica Science.

Eis a íntegra do estudo (em inglês, 5,56 MB).

A plitidepsina é uma droga sintética baseada em uma substância produzida por animais invertebrados e hermafroditas que vivem ancorados em pedras ou nascentes do Mar Mediterrâneo. A farmacêutica Pharmamar desenvolveu o medicamento sob o nome comercial Aplidina para tratar o mieloma múltiplo, um câncer de sangue, embora por enquanto só tenha sido aprovado na Austrália.

Após o início da pandemia de covid-19, a empresa iniciou testes clínicos usando a droga contra o SARS-CoV-2.

A equipe de especialistas da Universidade da Califórnia, do Instituto Pasteur em Paris e da Pharmama rastreou todas as proteínas do novo coronavírus que interagem com proteínas humanas. Eles então analisaram drogas já conhecidas que podem interferir nessas interações e identificaram 47 medicamentos promissores.

Os efeitos da plitidepsina foram comparados com os do Remdesivir em 2 camundongos infectados com SARS-CoV-2. Os resultados mostraram que a plitidepsina reduz em cerca de 100 vezes a multiplicação do vírus e também combate a inflamação nas vias aéreas.

A plitidepsina bloqueia uma proteína humana conhecida como eEF1A sem a qual o vírus é incapaz de se multiplicar.

“Nossos resultados e dados positivos dos ensaios clínicos da Pharmamar [farmacêutica que desenvolveu o medicamento] sugerem que novos ensaios clínicos com plitidepsina devem ser priorizados para o tratamento da covid-19″, afirma o estudo.

Terapias direcionadas não ao vírus, mas contra uma proteína específica do paciente, são mais resistentes ao surgimento de novas variantes do vírus. A genética do paciente muda muito menos rapidamente do que a do vírus, de modo que tais tratamentos não seriam tão afetados pela chegada de novas mutações do coronavírus.

A equipe publicou outro estudo, neste caso ainda preliminar, mostrando que 2 desses tratamentos –plitidepsina e ralimetinib, outra molécula usada contra o câncer– têm eficácias semelhantes no combate à variante britânica do coronavírus.

O mecanismo molecular alvo dessa droga também é importante para a multiplicação de muitos outros vírus, incluindo influenza e vírus sincicial respiratório. Isso sugere que ele tem o potencial de criar antivirais genéricos contra muitos outros patógenos.

Especialistas independentes alertam que ainda há um longo caminho a percorrer.

“Este é um estudo pré-clínico muito bom conduzido por um grupo muito confiável de pesquisadores”, diz Marcos López, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia.

“A parte do ensaio clínico em pacientes está à frente do caminho e esclarece quando essa droga pode ser mais eficaz.”

Elena Muñez, pesquisadora-chefe do hospital Puerta de Hierro, em Madri, alerta que esses resultados “são muito preliminares”.

“Esse tipo de dados pré-clínicos é baseado em experimentos com camundongos totalmente controlados, uma situação muito diferente da realidade que vemos com pacientes em um hospital”, afirma.

A virologista Isabel Sola diz que os 2 medicamentos têm efeito apenas nos estágios iniciais da infecção.

“Tanto a plitidepsina quanto a remdesivir teriam um efeito apenas nos estágios iniciais da infecção durante os quais a replicação viral ainda está disponível, mas não nas fases posteriores e mais graves, quando já há inflamação generalizada”, diz.

Há também evidências de que a plitidepsina não é tóxica em doses moderadas. Em parte, a informação vem de estudos que foram realizados para medir seu efeito contra o mieloma, mas também de outros ensaios em que uma dose da droga muito semelhante à usada contra o coronavírus estava sendo testada em combinação com o corticosteroide dexametasona. Nesses estudos, a plitidepsina não teve efeitos colaterais graves.

A Pharmamar está finalizando o documento oficial para solicitar o início de um ensaio de fase 3 que estudará a eficácia do medicamento em pacientes internados com covid-19.

José María Fernández, presidente da Pharmamar, diz que a plitidepsina inibe a mutação de novas cepas, como a brasileira.

“Este trabalho confirma tanto a atividade poderosa quanto o alto índice terapêutico da plitidepsina e que, por seu mecanismo especial de ação, inibe o SARS-CoV-2 independentemente de sua mutação em sua proteína S, como as cepas britânicas, sul-africanas, brasileiras ou as novas variantes que surgiram recentemente na Dinamarca.”


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