O Globo

Enquanto o Brasil volta a observar um aumento no número de casos de Covid-19 e a situação se agrava novamente nos hospitais das redes públicas e privadas em todo o país, o mundo começa a vislumbrar a esperança das vacinas.

No Brasil, porém, a falta de uma ação coordenada entre estados e governo federal, além de uma disputa política sobre as medidas de enfrentamento à pandemia, deixou o país atrasado em relação ao resto do mundo na questão da imunização.

As festas de fim de ano também devem alimentar a alta dos casos. Tudo isso traz a perspectiva de que os brasileiros não poderão retomar a vida normal em 2021, o que terá impactos significativos no cenário econômico.

Essa é a conclusão dos especialistas que participaram do evento on-line “E Agora, Brasil?”, na última quinta-feira. O debate teve a participação do oncologista, cientista e escritor Drauzio Varella; da pneumologista, pesquisadora da Fiocruz e colunista do GLOBO em “A Hora da Ciência” Margareth Dalcolmo; e da economista e pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics Monica de Bolle.

O evento, realizado pelos jornais O GLOBO e Valor Econômico, com patrocínio do Sistema Comércio através da CNC, do Sesc, do Senac e de suas Federações, foi mediado pelo colunista do GLOBO Pedro Doria e pelo editor-assistente de Brasil do Valor Eduardo Belo.

Recuperação econômica

Para Monica de Bolle, não pode haver recuperação econômica sem o controle da pandemia e do vírus. Nesse ponto, segundo a economista, as vacinas cumprem um papel fundamental.

— É apenas com essa conscientização da importância da vacina para o coletivo que a gente vai ter qualquer possibilidade de recuperação, em todos os sentidos. De recuperação da saúde, do nosso sistema de saúde, que hoje está absolutamente sobrecarregado, e da economia — afirmou a economista.

Drauzio Varella ressaltou que o país ainda terá que conviver com o vírus em 2021, devido à demora no programa de imunização e ao desafio de vacinar toda a população brasileira. Por isso, afirmou, as pessoas precisam manter os mesmos cuidados deste ano: usar máscara, higienizar bem as mãos e evitar aglomerações. Qualquer outra mensagem, segundo ele, não está de acordo com a realidade.

A pneumologista Margareth Dalcolmo ressaltou ainda que, com o verão e as festas de fim de ano — quando as pessoas têm o hábito de se reunir —, a previsão é que o número de casos e de mortes por Covid-19 suba ainda mais em janeiro. Ela disse que a população precisa entender que, apesar dos avanços na pesquisa por vacinas, a pandemia ainda não acabou:

— Este dezembro não é igual aos outros, e para que nós estejamos vivos para os próximos Natais, é preciso que tenhamos muita resiliência e muita paciência.

O problema, segundo os médicos, está em convencer a população a evitar aglomerações em meio a um cenário de informações desencontradas do poder público. Drauzio lembrou não é por acaso que o Brasil é o segundo país do mundo em número de mortes pela Covid-19.

Ele apontou que, desde o início da pandemia no país, a questão foi cercada por uma “confusão enorme”, com a falta de um discurso único a favor das medidas de segurança e do distanciamento social. Para o médico, essa mesma falta de unidade é o que tem gerado os atrasos na vacinação no país.

Falta no Brasil, segundo Drauzio, uma coordenação central para a vacinação que seja nacional, liderada pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

— Se tem uma coisa que o Brasil sabe fazer é vacinar, temos o maior programa de imunização do mundo. Mas é um desafio absurdo, de fazer algo que nunca foi feito, que é vacinar 210 milhões de pessoas.

Maior desigualdade

Os especialistas também criticaram o que veem como politização das vacinas. Para eles, o planejamento da imunização e as políticas públicas de distribuição de renda na pandemia deveriam ser pensados para mitigar as desigualdades sociais e econômicas do país. Eles criticaram ainda o fato de o plano do governo não ter incluído os presidiários entre a população prioritária para receber a vacina.

— No Brasil, as desigualdades não passam só por pessoas, mas por regiões, temos regiões no país extremamente desiguais. É preciso levar em conta essas características do país — disse Monica.

Para o colunista do GLOBO Pedro Doria, fica do debate a urgência do alerta emitido desde o início do ano pela comunidade científica sobre os protocolos de prevenção ao coronavírus:

— Continua fundamental ficarmos em casa, evitarmos aglomerações, cuidar principalmente daqueles mais frágeis próximos de nós.

Já o editor-assistente do Valor Eduardo Belo ressaltou que os debatedores traçaram um panorama amplo e concreto da situação sanitária e econômica do país.

— O debate confirmou uma sensação já disseminada por vários círculos, econômicos, sociais e científicos, de que o Brasil precisa urgentemente rever seus princípios nessas áreas e encarar a pandemia não como uma grande catástrofe, mas como um convite para consertar equívocos de suas políticas públicas e econômicas e dar um passo adiante.

O presidente da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), José Roberto Tadros, afirmou que a entidade e as federações que integram o Sistema Comércio têm acompanhado e orientado os empresários e também a população, por meio do Sesc e do Senac, buscando contribuir para que o Brasil possa superar a maior crise sanitária global em um século.

— O importante agora é a comprovação da eficácia e a agilização da compra e distribuição da vacina, ou das vacinas, para que nós brasileiros fiquemos livres do flagelo que nos tem afligido e que já ceifou quase 200 mil vidas em nosso país.

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