Em Natal, 400 pessoas estão em testes da vacina de Oxford

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Créditos: Divulgação Cientista Sue Ann Costa Clemens é responsável pela condução dos testes da vacina de Oxford no Brasil

Por Ícaro Carvalho

Tribuna do Norte

Desde o início da pandemia do novo coronavírus, a maior expectativa da humanidade é com a chegada de uma vacina que garanta a não infecção da doença. Essa proteção se aproxima com os avanços nos estudos clínicos da Universidade de Oxford, com expectativa de oferecer o imunizante até o primeiro semestre do ano que vem. Para isso, os testes para garantir a segurança da vacina já estão acontecendo.

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Em Natal, uma das seis cidades brasileiras escolhidas por Oxford para receber as avaliações, as atividades já estão sendo feitas há duas semanas e pelo menos 400 pessoas, até esta sexta-feira (02), já receberam a aplicação da primeira dose, segundo revela à TRIBUNA DO NORTE a cientista Sue Ann Costa Clemens, responsável pela condução dos testes da vacina de Oxford no Brasil. No Nordeste, apenas Natal e Salvador estão na rota dos testes do imunizante.

Na capital potiguar, os trabalhos acontecem desde o último dia 22 de setembro, quando o Centro de Pesquisas Clínicas de Natal (CPClin) passou a ser um dos seis centros brasileiros a receber os testes, que está selecionando, a princípio, 1.000 voluntários do RN. A escolha pela capital potiguar, de acordo com a cientista Sue Ann Costa Clemens, que coordena os estudos de Oxford no Brasil, se deu pelo fato de que havia a necessidade de ter uma capilaridade nos testes em lugares diferentes do Brasil. Além de Natal e Salvador, também fazem parte dos testes São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Santa Maria (RS). A ideia é vacinar pelo menos 10 mil pessoas no Brasil e 5,5 mil já recebram a primeira dose e 3 mil, a segunda dose.

“Estava procurando centros acima da Bahia, no Nordeste, para ter variedade geográfica e étnica no nosso estudo. Estávamos com os centros em Rio, Salvador e São Paulo e estava procurando um centro mais ao Sul e ao Norte. O CPCLIN tem uma boa reputação em qualidade e experiência em estudos de vacina, conheço várias companhias que fizeram estudos aí e recebi excelentes recomendações”, explica a cientista brasileira, em entrevista exclusiva à TN. Ela é professora e diretora do grupo de vacina da Universidade de Oxford, Reino Unido, e também professora e diretora da Universidade de Siena, na Itália.

Uma das mais avançadas entre várias vacinas pesquisadas no mundo, a vacina de Oxford está na fase 3 e foi a primeira a iniciar os testes clínicos nesta etapa no Brasil. Trata-se da etapa final para a aprovação e o registro de um imunizante. No mundo todo, mais de 18 mil pessoas já foram vacinadas pelo estudo. A pesquisa começou no Reino Unido e também é realizada na África do Sul e nos Estados Unidos. O ministro da Saúde, Eduardo Pazzuelo, anunciou na última sexta-feira (02), que a entrega do primeiro lote, com 30 milhões de doses, será em janeiro. A cientista Sue Ann Costa Clemens foi uma das que moveu esforços para que a vacina pudesse ser testada no Brasil.

“É muito importante que haja um voluntariado. Não adianta nós estarmos prontos medicamente falando para aplicar a vacina e seguir um voluntário se não temos esse voluntário que possa ser acompanhado por 12 meses. Não depende só da gente estar pronto com a vacina e disposto a vacinar, também precisamos da vontade desse voluntário em contribuir, ajudar, por um ano. Existem várias tomadas de sangue durante esse período, por isso precisamos que o voluntário volte”, comenta sobre a importância do comprometimento das pessoas que se comprometem com os testes.

Em nota enviada à TRIBUNA DO NORTE, a Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap), informou que “o processo é conduzido pela iniciativa privada e o Governo do RN não tem participação no processo e segue as recomendações do Ministério da Saúde, que coordena a Política Nacional de Imunização”.

“Para a indústria farmacêutica é rotina a realização de testes dos produtos por meio de pesquisas clínicas, esses estudos normalmente podem ser conduzidos por empresas de pesquisas clínicas, que é o que ocorre para os testes das vacinas em questão”, acrescentou a Sesap.

A cientista Sue Ann Clemens conta ainda que está chefiando uma força tarefa junto a Fundação Bill Gates e obteve um investimento de U$S 1,7 milhão, com o objetivo de identificar e captar outros 21 centros de pesquisa, em oito países da América Latina, para prepararem esses locais para receberem mais testes da fase 3 de vacinas da covid-19 que cheguem entre novembro e fevereiro de 2021. O treinamento começa na semana que vem e a expectativa é que, em novembro, eles estejam aptos.

Restrições

A decisão de tomar a vacina da covid-19, que ainda está em fase de testes, traz uma série de restrições aos voluntários que se interessam em participar dos exames iniciais, durante e pós vacina. Para mulheres, a recomendação é de não engravidar por um período de um ano. “Se ela engravidar, tomou a primeira dose, não aplicamos a segunda. Mas continuamos acompanhando essa grávida até porque ela se vacinou e queremos saber a reação imune dela”, explica a coordenadora nacional dos estudos clínicos e representante da Universidade de Oxford no Brasil, Sue Ann Costa Clemens.


Feita a inscrição voluntária nos centros clínicos das respectivas cidades sede, os usuários passam por uma triagem que os qualificam para irem tomar a vacina ou não, além de responderem uma série de questionários e assinarem termos de consentimento.

“Dentro dos critérios de elegibilidade, quando o voluntário chega ao centro, existem outros critérios, para saber se a pessoa tem uma doença crônica não controlável, se não está grávida, se não está em algum tratamento de câncer, tomando drogas que sejam imunossupressoras, entrando por todos esses critérios e vendo que confere, ela pode participar do estudo”, explica. Pessoas com comorbidades, como diabetes e pressão alta controlada, por exemplo, além de obesidade e pessoas fumantes também podem participar.

Os usuários são divididos em dois grupos: metade dos voluntários recebe a Chadox1 ncov-19, contra a covid-19, e a outra metade recebe a meningocócica ACWY, a chamada vacina de controle, um imunizante contra a meningite e placebo. Um sistema define, de forma aleatória, quem receberá qual vacina. Passadas de uma a quatro semanas, os participantes recebem uma dose de reforço e são acompanhados pela equipe do estudo com frequência, ao longo de um ano. A vacina comparadora, que é a de meningite, foi escolhida por ter reações semelhantes a da covid-19.

“Ela tem muitas reações parecidas com a nossa da covid-19, então realmente o voluntário fica “cego”. Se você tiver sentado e foi vacinado com uma e o outro com a comparadora, ninguém vai saber porque vão ter reações muito parecidas. O que pode se encontrar: reações locais, dor, vermelhidão e inchaço no local. Acontece com todo mundo? Não. Pode acontecer, mas não acontece. E as reações sistêmicas, que são febre, dor de cabeça, algum mal estar, cansaço, basicamente isso, reações que encontramos em outras vacinas. A segunda dose dá menos reação ainda. Por isso que é a de placebo”, conclui.

Voluntários

Desde que a coordenação da vacina de Oxford anunciou os testes em Natal, centenas de potiguares se inscreveram e procuraram o Centro de Pesquisas Clínicas de Natal (CPClin) para se candidatar, voluntariamente, a receber a aplicação da vacina. Após o anúncio, no dia 15 de setembro, a alta procura, inclusive, fez com que as inscrições fossem encerradas temporariamente. Segundo a coordenação do estudo, só em Natal, foram pelo menos 12 mil inscrições.

Uma das pessoas que tomou a primeira dose da vacina foi a enfermeira Erianna Macedo, de 35 anos, natalense que, apesar de não estar na linha de frente para a covid-19, conviveu de perto com o vírus nas unidades que trabalha. Ela comenta que o processo durou pouco mais de três horas, respondeu uma série de questionários sobre sua saúde, exposição ao vírus, entre outros itens, além de ter se comprometido a ficar sendo avaliada periodicamente pela equipe. A rigidez nos protocolos e a seriedade no procedimento como um todo, explica, lhe trouxeram segurança ao receber a aplicação da dose.

“Desde que apareceram as primeiras matérias sobre as vacinas, já enxerguei essa oportunidade de me voluntariar de alguma maneira, já que não estava na linha de frente, eu iria me voluntariar sem pensar duas vezes. E assim foi”, comenta Erianna, que tomou a vacina há nove dias. Ela diz que teve reações após a tomada da vacina, como dores nas articulações e musculares, e febre baixa. “Essas possíveis reações foram descritas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), bem como outras que poderiam aparecer, ou seja nada que fugisse do padrão inclusive de outras vacinas”, acrescentou Erianna.

Outra potiguar que se comprometeu com o estudo foi a jornalista e radialista Karol Dantas, 32 anos. Ela também cita que se sentiu segura ao fazer o teste e que não apresentou grandes reações a tomada da vacina, aplicada há 10 dias. Ela diz que o interesse em se propor aos testes partiu do interesse de “usar o corpo para o bem da ciência” e da incidência de casos positivos próximas a ela. “Quero ver o mais rápido possível essa vacina disponível para a população”, comenta.

“Eu tive inúmeros casos de pessoas ao meu redor que, infelizmente, faleceram, e me propus porque acho que tudo que for válido para conseguirmos esse status da vacina, quanto mais cedo conseguirmos, melhor. Me propus por isso, fiquei desolada em ver tanta gente morrer, por isso me coloquei a frente e disponível para não ver, no futuro, ninguém falecer dessa doença”, completa.

Fonte: Tribuna do Norte

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