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Frascos da vacina contra a Covid-19 da AstraZeneca e uma seringa 14/03/2021 REUTERS/Dado Ruvic/Ilustrativa/Arquivo - Foto: Reuters

Demanda pela segunda aplicação será crescente nos próximos meses e deve desafiar planejamento de encurtar período entre doses. Secretários cobram liberação para misturar vacinas

by Ítalo Lo Re e Mariana Hallal | Terra

Estados veem risco de desabastecimento de vacinas da AstraZeneca para as próximas semanas. O receio ocorre diante de um cenário em que a demanda pelas doses produzidas no Brasil pela Fiocruz seguirá em alta, e deve se intensificar ainda mais com o plano de encurtar o intervalo entre as aplicações, de 12 para oito semanas. Trinta e dois milhões de pessoas começam a retornar para a 2ª dose da AstraZeneca a partir de setembro até novembro.

Nesta quinta-feira, 9, metade dos postos da cidade de São Paulo estava sem o imunizante e ainda não há previsão de reabastecimento. As contas já estão sendo feitas pelos secretários de saúde de outros locais. Parte deles reforça a posição de que será necessário misturar doses de diferentes fabricantes entre 1ª e 2ª dose para fazer frente à demanda crescente. A adoção do chamado esquema heterólogo (aplicação da AstraZeneca na 1ª dose e Pfizer na 2ª, por exemplo) está em análise pelas autoridades.

Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e secretário de Saúde do Maranhão, Carlos Lula diz que já havia expectativa de faltar doses da vacina da AstraZeneca para completar os esquemas vacinais iniciados nos últimos meses. O desabastecimento pode acontecer principalmente em Estados e municípios que usaram as vacinas destinadas à 2ª aplicação como 1ª dose.

“A gente já tinha pedido ao Ministério da Saúde para resolver isso com o intercâmbio de vacinas”, diz Lula. Estudos mostram que é seguro e eficaz fazer o chamado esquema heterólogo. No País, isso foi feito em gestantes que tomaram o imunizante fabricado pela Fiocruz antes de a Anvisa recomendar a suspensão do uso das vacinas de vetor viral neste grupo.

No Maranhão, o intervalo entre a 1ª e a 2ª dose da AstraZeneca é de 12 semanas. Lula ainda não se compromete a diminuir esse tempo para oito semanas a partir de 15 de setembro, conforme orientação federal. “O ministério não disse no que está se baseando para fazer essa conta. Só poderemos diminuir o intervalo quando a vacina chegar aqui”, reforça.

A Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo informou que está cobrando o envio de 4 milhões de doses da AstraZeneca para concluir esquemas vacinais com vencimento em setembro e outubro. “Caso o governo federal não tenha disponibilidade de mais remessas da AstraZeneca, o Estado aguarda envio imediato do quantitativo da Pfizer para suprir esta demanda e concluir os esquemas em conformidade com a solução de intercambialidade indicada pelo próprio PNI.”

O secretário municipal de Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, diz que estava conseguindo cumprir o calendário de aplicação da 2ª dose até esta quarta-feira. Na manhã de quinta, o estoque era de só 37 mil doses, insuficiente para abastecer todas as unidades. “É a primeira vez que estamos tendo problemas com a 2ª dose da AstraZeneca”, diz.

Questionado sobre a possibilidade de aplicar uma dose de Pfizer em quem recebeu a 1ª de AstraZeneca, Aparecido diz que essa poderia ser uma saída viável se houvesse Pfizer em abundância. No momento, esses imunizantes estão sendo usados na vacinação de adolescentes, que têm aderido fortemente à campanha.

O secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, também cobra mais diretrizes ao ministério sobre a falta de doses e a possibilidade de adotar o esquema heterólogo. “A câmara técnica do PNI [Programa Nacional de Imunização] e gestores estaduais são favoráveis ao assunto. Só falta o ministério se posicionar.” Para ele, a redução do prazo de aplicação entre doses aumenta ainda mais o desafio de cumprir o calendário. “Se o ministério quiser antecipar a 2ª dose, será praticamente obrigado a aprovar o esquema heterólogo”, diz.

A epidemiologista Ethel Maciel relembra que, na nota técnica 6/2021, o ministério determinou que vacinas heterólogas podem ser administradas quando houver indisponibilidade do imunizante aplicado como 1ª dose e o intervalo entre doses já estiver no limite. O documento do órgão ficou conhecido por determinar que gestantes e puérperas (mães que tiveram o filho há até 45 dias) vacinadas com a 1ª dose da AstraZeneca poderiam receber a 2ª dose de outros imunizantes.

Ainda com esse trecho presente em uma nota técnica, de acordo com Maciel, os critérios para a vacinação heteróloga seguem vagos no País, não havendo uma indicação de como os municípios devem agir em casos de falta de segunda dose. “Essas orientações precisam estar mais explícitas, mais claras e mais assertivas, para que não haja demora e confusão”, defende a epidemiologista.

Em Florianópolis, o secretário municipal de Saúde, Carlos Alberto Justo da Silva, diz que, como o município reservou as segundas doses enquanto fazia a primeira aplicação, a previsão é que não irá faltar vacina da AstraZeneca para completar o esquema vacinal na cidade. Ele reconhece, porém, que esse pode ser um problema para municípios que não guardaram a quantidade total de segundas e contaram com a chegada de novas remessas.

Consultados pelo Estadão, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Tocantins afirmam que podem enfrentar desabastecimento da vacina da AstraZeneca caso o governo federal atrase as entregas previstas. Em Mato Grosso, municípios que não reservaram a segunda dose correm risco de ficar sem vacinas para cumprir esta etapa. O governo de Santa Catarina também admitiu que pode ficar sem estoque de AstraZeneca e, caso isso aconteça, usará a vacina da Pfizer.

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