Marcelo Hahn, dono da Blau: patrocinador e piloto de stock car — Foto: Reprodução
Marcelo Hahn, dono da Blau: patrocinador e piloto de stock car — Foto: Reprodução

Por Maria Luíza Filgueiras e Ana Paula Ragazzi | PIPELINE

A farmacêutica Blau não conseguiu evitar o desconto que tem sido regra nos últimos IPOs, mas emplacou há pouco sua oferta sem grandes dificuldades. O book atraiu investidores estrangeiros como Fidelity e TRowe (que não vinham aderindo às últimas ofertas), além de GMO e JP Morgan.

A ação saiu a R$ 40,14, desconto de 10% sobre o piso da faixa indicativa, levantando R$ 1,26 bilhão, como antecipou o Valor PRO. Itaú BBA, Bradesco BBI, J.P. Morgan, Citi, XP Investimentos e BTG Pactual coordenaram a oferta e a estreia na B3 será na segunda-feira.

O empresário Marcelo Hahn, dono da companhia, não vendeu o lote adicional – que era tranche secundária. Nem precisa ter pressa: seu patrimônio acaba de saltar para R$ 5,8 bilhões, considerando o preço que a companhia terá na estreia.

Hahn já era bastante conhecido no setor de saúde e também no meio automobilístico – ele patrocina uma equipe de stock car e pilota em competições nacionais e internacionais. Há seis anos, no Mercedes-Benz Challenge, seu carro virou lata velha ao ser lançado na barreira numa tentativa de ultrapassagem, mas ele saiu ileso.

No mercado financeiro, é figura nova – e a Faria Lima adora um personagem. Como uma tentativa anterior de IPO não avançou, quase não houve reunião com investidores à época. Desta vez, além das formais apresentações a investidores para o IPO, rapidamente correram vídeos nos acelerados WhatsApps da Faria Lima sobre a vida de Hahn – um bilionário que adora sua vida de bilionário. Boa parte vem do canal da filha influencer Alexia Hahn e outros foram gravados pelo próprio.


‘Ele é exótico’, diz um gestor que participou de reuniões com o empresário no roadshow. Os investidores passaram a última semana intercalando discussões sobre a oferta e sobre o estilo de vida do empresário – como a história de que ele sempre manda dar a partida em dois helicópteros, para que seja mais difícil identificar em qual está, e que todos os vidros de sua casa são à prova de balas.

Quando foi pedir a esposa em casamento, já estava com a festa e vestido prontos – e ela soube no café da manhã do dia do evento. O vídeo tem quase 30 mil visualizações no YouTube. ‘Quando conheci, me lembrou o João Adibe. Nuns tons acima’, diz um banqueiro. Um gestor implicou com a empresa e não avançou na tese, depois que recebeu um “Blau tarde” do empresário como cumprimento.

Se a família é animada nas redes sociais, os almoços de domingo também já devem ter sido quentes. Uma disputa societária chegou a virar caso de polícia. Há três anos, o irmão mais velho de Hahn entrou com uma representação na CVM, que virou processo administrativo, sobre questões familiares sucessórias e societárias, referentes à venda de uma companhia do pai, Rodolfo Hahn – chairman da Blau. O processo já foi encerrado na CVM e uma representação na Polícia Federal, sob o mesmo tema, arquivado.

Como era uma empresa de único dono, a Blau mantém uma série de contratos com partes relacionadas, o que não é incomum. Hahn é sócio da esposa na F11 Facilities, que presta serviços de mão de obra terceirizada à companhia, e do diretor jurídico Roberto Altieri na F11 Segurança Privada, que presta serviço para a matriz e unidades fabris. O empresário é credor da companhia, por meio de seu fundo multimercado Symbiosis, que detém debêntures da Blau.

Em seu prospecto, a companhia diz que as operações já foram avaliadas pelo comitê de auditoria e ética, incluindo reembolsos por aluguel de avião, por exemplo, e estão em linha com a média de mercado.

Família à parte, a companhia também enfrenta seus conflitos. No mês passado, a Biolab questionou na Justiça a conduta comercial da Blau por conta de seu remédio para enjoo Vonau Flash. Segundo a Biolab, a Blau estava vendendo um medicamento para enjoo apresentando como genérico do Vonau, quando, na argumentação da dona do produto original, ele se assemelha a outro medicamento – menos conhecido do público. O Vonau é o segundo produto que mais vende na Biolab. A Blau avaliou que a reclamação não ia prosperar na justiça.

Como tem contratos com governos, a Blau também tem processos relativos a esses relacionamentos. Há discussões judiciais movidas pelo MPF sobre alegados sobrepreços exercidos pela companhia no estado do Amazonas, no Pará e no município de Campinas. ‘Esse tipo de discussão está em toda companhia que tem contrato com governo’, diz um investidor que entrou na oferta.

A farmacêutica existe há 10 anos e teve sua origem na Blausiegel, sendo seu negócio mais conhecido a fabricação do preservativo Preserv, na década de 80. O pai e o irmão já tinham uma farmacêutica, a Ariston. O avô e o bisavô eram químicos, donos de laboratórios.

A Blau foi crescendo, hoje com atuação mais relevante no segmento de medicamentos genéricos. A companhia vai chegar à bolsa valendo R$ 7,2 bilhões.

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