Israel prevê que mutações obrigarão a criar nova vacinas

Folha de S.Paulo
Jornalista: Igor Gielow


País com o mais adiantado programa de vacinação em curso no planeta, Israel prevê que as novas mutações do novo coronavírus tornarão mudanças nas fórmulas dos imunizantes inevitáveis e já busca se preparar para isso.

"Não temos como evitar isso, mas vamos superar. Eu espero que as companhias mudem rapidamente suas vacinas", disse o premiê Binyamin Netanyahu, citando as variantes mais transmissíveis já encontradas no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil.

Até aqui, Israel vacinou 47% de seus cerca de 9,3 milhões de habitantes, de acordo com o agregador OurWorldInData. Segundo Netanyahu, já estão cobertos 82% no grupo dos mais vulneráveis, como idosos e profissionais de saúde.

Ainda não há dados revisados pela comunidade científica, mas indicações de que não só o número de internações despencou 60%, mas também o de novas infecções. "Mas é uma questão de tempo para que as vacinas não funcionem, segundo o que me foi informado", disse o primeiro-ministro.

Liderando um país em conflito permanente com vizinhos, ele fez uma analogia militar com seu plano de uso das vacinas da Pfizer e da Moderna, que comprou a um preço médio de US$ 47 (R$ 254) as duas doses por pessoa —mais do que outras negociações pelo mundo.

"É como checar munições na guerra. Eu espero que a inoculação seja anual, e temos de estar preparados para isso e futuras compras", afirmou. Em relação ao fato de ter pago mais pelas doses, ele disse apenas que mandou os burocratas "pararem com bobagem" (em inglês pouco diplomático, "cut the crap").

As duas vacinas empregadas em Israel usam a nova tecnologia em que material genético, RNA mensageiro, é usado para levar uma proteína análoga à usada pelo novo coronavírus para se ligar às células humanas e gerar uma resposta imune.

As três variantes que vêm assustando os cientistas têm mutações concentradas justamente nessa proteína, levando ao questionamento sobre a eficácia das vacinas. Isso está em estudo, embora a Moderna já tenha dito que o seu imunizante segue funcionando.

No caso da Coronavac, fármaco chinês desenvolvido em conjunto com o Instituto Butantan que por enquanto é o mais amplamente distribuído no Brasil, a tecnologia é diferente.

Usando um método tradicional, uma versão desativada do coronavírus é levada para estimular a resposta imune. Teoricamente, isso torna a vacina menos suscetível às mutações, já que não é apenas a proteína de ligação que é utilizada, e sim o conjunto todo do vírus.

Ainda não há, contudo, estudos claros sobre isso. Já a vacina de Oxford, desenvolvida pela universidade britânica homônima e o laboratório anglo-sueco AstraZeneca, usa só a proteína de ligação, enviada por um vetor viral —um adenovírus que causa resfriados em macacos.

"Isso é uma corrida armamentista entre a vacina e as mutações. Você sempre está duas semanas atrasado", disse Netanyahu.

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