Laboratório do Exército acelera oferta de cloroquina

 Valor Econômico
Jornalista: Fabio Murakawa


17/04/20 - O plano do presidente Jair Bolsonaro de aumentar a oferta de cloroquina e hidroxicloroquina no Brasil colocou o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército (LQFEx), uma instituição criada em 1808 pela família real portuguesa e pouco conhecida pela sociedade, numa função estratégica no combate ao coronavírus. O estímulo presidencial também mexe com o setor privado, com empresas aumentando sua capacidade de produção do medicamento e driblando dificuldades logísticas e políticas para trazer o insumo da Índia para o Brasil.

Tradicionalmente, a produção de cloroquina do LQFEx era destinada principalmente ao público interno para o tratamento de casos de malária. Atualmente, toda produção está destinada ao combate ao coronavírus, disse ao Valor o coronel Haroldo Paiva Galvão, diretor do laboratório. Isso ocorre por determinação do presidente.

“No dia 21 de março, o Ministério de Defesa informou ao presidente da República que o Laboratório Químico Farmacêutico do Exército era capaz de produzir a cloroquina. A partir desse momento o LQFEx foi acionado”, disse em entrevista ao Valor por e-mail.

A produção em maior escala no LQFEx iniciou no dia último 23 de março. Segundo ele, a produção média antes da crise era de aproximadamente um lote com 250 mil comprimidos a cada dois anos. Com a crise, a produção pode chegar a quatro lotes por semana.

As Forças Armadas montaram uma operação coordenada para otimizar a produção da cloroquina. Enquanto o LQFEx produz o medicamento em si, os laboratórios da Marinha e da Aeronáutica fazem o controle de qualidade e embalagem do medicamento. O abastecimento é uma preocupação, uma vez que o insumo está escasso no mercado mundial.

A cloroquina será distribuída aos hospitais militares da Marinha, Exército e Aeronáutica e ao Ministério da Saúde, que coordenará a distribuição dos comprimidos por Estado.
O custo de produção atual é de R$ 0,21.

No caso do LQFEx, as importações são feitas sob a coordenação dos ministérios da Defesa, Saúde e das Relações Exteriores. Segundo o coronel Galvão, a última aquisição feita pelo LQFEx em 23 de março ainda foi dentro do preço do pregão vigente, de R$ 488,00 por quilo de cloroquina. Ele estima que o preço de mercado possa chegar hoje a R$ 2.200,00.

“O LQFEx fez todas as tratativas com o fornecedor vencedor do processo licitatório. As fases de empenho liquidação e pagamento foram rigorosamente cumpridas conforme está previsto na legislação vigente”, disse ele. “Não houve oferta de outros fornecedores ao Laboratório Químico Farmacêutico do Exército.” Já foi produzido o equivalente a 1,25 milhão de comprimidos. Nas próximas semanas, devem chegar novos carregamentos para a produção de mais 1,75 milhão de comprimidos. Todo insumo existente no Laboratório já foi consumido, diz o coronel.

O LQFEx produz a cloroquina, medicamento desenvolvido na década de 1930 para o combate à malária. Alguns laboratórios também produzem a hidroxicloroquina, um derivado menos tóxico.

Na outra frente de batalha, no setor privado, a EMS faz parte desse esforço coordenado a partir do Palácio do Planalto. A farmacêutica patrocina um estudo liderado pelo Hospital Albert Einstein com entre 800 e 1.000 pacientes com o uso da hidroxicloroquina e da azitromicina, outro medicamento, no combate à covid-19. Os resultados devem sair em maio.
Diretor e acionista da empresa, Leonardo Sanchez também relata dificuldades para adquirir matéria prima para a produção do medicamento. Recentemente, ele fechou a compra de cerca de 6,5 toneladas de insumos de um fornecedor indiano. O fabricante, conta Sanchez, exigiu pagamento adiantado. Mas, ao receber o primeiro lote de 530 kg, na semana passada, teve uma surpresa.

“O fornecedor mais que dobrou o preço do insumo, com o negócio já fechado e o primeiro lote entregue”, disse ele ao Valor. “Teremos que pagar a mais mesmo pelo lote que já recebemos.” Sanchez não revela o fornecedor nem o quanto paga pela matéria-prima, mas afirmou que montou uma operação logística para trazer o medicamento via Qatar. Assim, evita-se escalas nos Estados Unidos e na Europa, onde há relatos de confisco desses produtos.
Sanchez disse ter recebido em março uma ligação do Palácio do Planalto perguntando como estava a situação de abastecimento de insumos da EMS para produzir hidroxicloroquina. Com as exportações proibidas pelo governo indiano, a liberação só ocorreu após as intervenções dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump junto ao premiê Narendra Modi.
Com a carga recebida, Sanchez diz que é possível produzir aproximadamente 50 mil caixas com 30 comprimidos. A produção média da empresa subiu de 300 a 400 caixas diárias para entre 1.800 e 2 mil. E tem concentrado a venda para hospitais que usam a hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, evitando as farmácias. “Já recebemos ofertas de R$ 15 milhões de uma grande rede de farmácias”, disse ele. “Mesmo se tivesse essa quantidade, não venderia. Estou segurando consumo irresponsável desse medicamento”, afirmou.

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