O Globo
Colunista: Natalia Pasternak
Há duas vacinas novas chegando. A Novavax, de subunidade proteica, ou seja, utiliza apenas um pedaço do vírus, uma proteína purificada, anunciou eficácia de 89% em análise preliminar. O estudo contou com 15 mil voluntários no Reino Unido, incluindo 27% de maiores de 65 anos, o que é muito bom: outras vacinas foram pouco testadas em idosos. Não surgiram efeitos adversos dignos de nota, e dos 62 eventos — pessoas doentes — analisados, 56 estavam no grupo placebo e apenas seis, no vacinado.
Mas na África do Sul, com um grupo menor de voluntários, notou-se uma queda da eficácia para 60%, com uma forte presença da variante local do vírus. A eficácia ainda está boa, mas o resultado levanta a possibilidade de essa variante ter uma mutação que a torna mais resistente à vacina.
Quanto mais tempo o vírus corre solto, maior a probabilidade de aparecerem mutações que o “ajudam” a escapar do sistema imune, e de vacinas. A melhor maneira de evitar isso é vacinar muita gente, depressa, para não dar ao vírus tempo de se adaptar, e caprichar nas medidas de prevenção.
A outra vacina com resultados recentes é a da Janssen. Usa um adenovírus como vetor, tem dose única e mostrou excelentes resultados.
Ainda sem apresentar os dados completos, anunciou 72% de eficácia para o ensaio feito nos EUA, 66% para América Latina, e 57% para África do Sul, após 28 dias da dose única. Novamente, chama atenção a redução da eficácia na África do Sul.
Precisamos realmente intensificar o sistema de vigilância de novos mutantes, e organizar as campanhas de vacinação com urgência. Mostra também a importância de termos vacinas diferentes. Vacinas de vírus inativado podem se sair melhor contra mutantes. Já vacinas de mRNA e vetor podem ser rapidamente adaptadas. Ter vacinas com tecnologias diferentes aumenta nosso arsenal.
As duas vacinas são apropriadas para a cadeia de frio brasileira, pois requerem apenas temperatura de geladeira. A Janssen tem a vantagem de cumprir o requisito da Anvisa de ter sido testada no Brasil. Mas este requisito pode — e deve — ser revisto. Tecnicamente, não faz sentido, e pode acabar impedindo que recebamos boas vacinas. Tanto a Novavax como a Moderna, uma boa vacina desenvolvida nos EUA, integram o portfólio Covax, o acordo internacional que oferece 42 milhões de doses para o Brasil. Se estas vacinas forem oferecidas, vamos recusá-las?
Não estamos na posição de ficar escolhendo vacinas que já tenham eficácia e segurança comprovada, e precisamos urgentemente negociar novos acordos.
Resta saber se o general, que não se decide nem se aceita 46 milhões de doses do Butantan, e esnobou a Pfizer para “não frustrar os brasileiros”, vai retornar para a realidade em tempo de firmar novos acordos. O que frustra os brasileiros, general, é não ter vacinas por falta de planejamento e vontade política.
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