Medir anticorpos pós-vacina, uma má ideia

O Globo 
Jornalista: Mariana Rosário

A pandemia da Covid-19 e sua longa duração trouxeram um asérie de ineditismos em relação às vacinas. Eis alguns deles: antígenos desenvolvidos em tempo recorde, aprovação de novos imunizantes pela Anvisa acompanhadas pela televisão e um interesse repentino da população em conhecer sua sorologia, ou seja, sua produção de anticorpos após a inoculação.

Especialistas em saúde e entidades médicas, porém, desaconselham a prática e explicam que o sistema de imunização disparado pela vacina é muito mais complexo do que o exame de anticorpos neutralizantes pode revelar. Além disso, há ainda uma série de fatores a serem descobertos em relação aos anticorpos e a proteção da vacina em si.

— Não estimulamos ninguém a realizar esse teste. O problema é que existem perguntas que não sabemos responder. Ninguém sabe exatamente quanto você precisa ter (de volume de anticorpos no exame) para determinar que você está protegido —explica Celso Granato, infectologista e diretor médico do Grupo Fleury.

Essa taxa de proteção necessária para atingir a imunidade tem um nome científico: correlato de proteção. Em resumo, quando se descobre esse aspecto de uma doença, sabe-se qual é o nível necessário de anticorpos para se tornar imune. Sem essa informação, saber o resultado do exame é, basicamente, infrutífero.

Granato aponta que observar 0 laudo do exame sorológico “gera uma dúvida sem cabimento”. Para que os indicativos do exame apontem uma conclusão válida, é preciso estudar, ainda mais, essa relação —o que a ciência tem se apressado em fazer. E, em última instância, os exames disponíveis no mercado não foram desenvolvidos para essa finalidade: saber se a vacina “pegou” ou não.

Há um outro fator importante. O sistema de proteção do organismo é também muito mais elaborado do que sugere a mera medição de anticorpos. Isso porque a defesa contra a Covid-19 é fruto da ação de imunidade celular, que funciona em duas frentes: lembrar ao organismo como se proteger e destruir células infectadas.

— Os linfócitos TCD4 são as células que chamamos de “assassinas”, elas matam as células que estão infectadas pelos vírus e também estimulam os linfócitos B a produzir mais anticorpos — explica Mônica Levi, presidente da Comissão de Revisão de Calendários de Vacinação da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Além disso, Levi explica que essa proteção conferida pelas células conta com um importante mecanismo de reconhecimento diante de um novo contato com o vírus. Com uma nova infecção, essa parte da imunidade faz com que o sistema reconheça o causador e reative os mecanismos de defesa desenvolvidos após a vacina.

Essa segunda proteção, inclusive, é a chave para que as pessoas que realizaram mais de um exame sorológico e perceberam uma redução no nível de anticorpos sigam confiantes na vacina. Caso os anticorpos não sejam indicados no exame, há ainda essa camada extra de defesa que, até esse momento acredita-se, mais potente diante das variantes.
As evidências da proteção das vacinas se acumulam.

Uma pesquisa conduzida no estado de São Paulo pelo Vebra Covid-19 apontou que duas doses da vacina AstraZeneca têm efetividade — que é o quanto a vacina funciona no mundo real — de 77,9% para casos sintomáticos, 87,6% para hospitalizações e 93,6% para mortes.

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