Ministério da Saúde adota precaução com vacina russa

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Folha de S.Paulo 
Jornalistas: Renato Machado e Ricardo Della Coletta

12/08/20 - O Ministério da Saúde adota precaução em relação ao anúncio da nova vacina contra o coronavírus, desenvolvida pela Rússia, pela ausência dos resultados produzidos pela imunização. O governo federal também teme uma corrida por parte dos estados, que poderiam, na avaliação dos técnicos da Saúde, gastar somas altas de verba em projetos ainda pouco transparentes.

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O estado do Paraná já anunciou que vai assinar nesta quarta-feira (12) um acordo com os russos para a produção da nova vacina.

A embaixada da Rússia no Brasil também informou que a Bahia mantém negociações com o Fundo de Investimento Direto da Rússia para a obtenção e produção da nova vacina contra a Covid-19.

"Em 30 de julho o Embaixador da Rússia teve uma reunião virtual com o governador da Bahia Rui Costa e o Secretário da Saúde do estado Fábio Vilas-Boas. As partes conversaram sobre o estabelecimento de uma possível parceria entre as instituições de pesquisa nordestinas e os centros científicos russos nos testes e produção da vacina. Avalia-se a possibilidade de outros estados da região se juntarem à negociação", informou a embaixada em nota.

Em São Paulo, a gestão do governador João Dória (PSDB) negou a intensão de testar a imunização russa. O estado já concluiu uma parceria para o desenvolvimento de uma vacina em parceria com um laboratório chinês.

A Rússia anunciou nesta terça-feira (11) que concedeu a primeira aprovação regulatória do mundo para uma vacina contra a Covid-19, que recebeu o nome de Sputnik V para os mercados estrangeiros.

De acordo com o presidente russo, Vladimir Putin, a aprovação foi dada pelo Ministério da Saúde do país à imunização produzida pelo Instituto Gamaleia de Moscou, após menos de dois meses do início dos testes humanos.

A vacina foi recebida com certo ceticismo pela comunidade internacional. Cientistas afirmam ser necessário mais transparência da parte dos russos em relação aos resultados dos ensaios clínicos.

O diretor-assistente da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde), Jarbas Barbosa da Silva Jr., afirmou que a OMS (Organização Mundial de Saúde) não recomendará a vacina russa sem os resultados de ensaios clínicos das fases 1, 2 e 3.

Oficialmente, o Ministério da Saúde do Brasil afirma que monitora o desenvolvimento de todas as vacinas atualmente em pesquisa e que não tem preferência pela imunização com origem em nenhum país em específico.

"O Ministério da Saúde está atento aos estudos de todas as vacinas em desenvolvimento e garante que, assim que tiver acesso à vacina comprovadamente eficaz contra a Covid-19, os brasileiros terão acesso a ela", informou a pasta por meio de nota.

Reservadamente, no entanto, representantes da pasta e da Fiocruz afirmam que ainda são necessários mais esclarecimentos a respeito da vacina, principalmente em relação aos resultados obtidos em todas as fases da análise clínica da imunização.

Representantes do Ministério da Saúde e da Fiocruz se reuniram na terça-feira da semana passada (4) com os russos e também com a farmacêutica chinesa Sinopharm, para ouvirem novas propostas e estudos para o desenvolvimento de vacinas.

Em relação aos russos, os servidores e técnicos da área da saúde brasileiros consideraram que haviam diversos pontos não esclarecidos, principalmente quanto aos testes clínicos. Pediram mais informações, que ainda não foram entregues. Muitos se surpreenderam com o anúncio feito pelo presidente russo Vladimir Putin hoje.

"Causou estranheza na comunidade científica internacional, por conta da falta de transparência", afirmou o vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, que participou da conferência com os representantes chineses, mas não com os russos na semana anterior.

"Não quer dizer que não seja uma boa vacina, mas a gente não pode abrir mão de certos passos. Tem que haver preocupação com a segurança", completou.

Krieger afirma que a vacina russa tende a ser barrada pelos países, inclusive pela Anvisa, no Brasil, caso não haja transparência sobre os resultados dos testes clínicos.

O representante da Fiocruz lembra que a vacina trabalhada pelo órgão e pela Universidade de Oxford segue um rito acelerado, devido à urgência da pandemia, mas que mesmo assim não há "pulo de etapas" e que os testes serão aplicados em 50 mil voluntários.

Após receberem diversas críticas pela falta de coordenação, principalmente na compra de ventiladores pulmonares, os representantes do Ministério da Saúde temem que estados iniciem uma corrida por conta própria para a produção da vacina, sem uma garantia sobre sua eficácia.

Os representantes da pasta afirmam que é normal que estados assumam uma certa parcela de risco para obter uma forma de imunização. O próprio ministério mantém com a Universidade de Oxford um acordo com "compartilhamento de risco", no qual foram investidos R$ 600 milhões.

O temor é que estados invistam grandes somas em projetos considerados precipitados, como afirmou uma fonte, e depois recorram para o governo federal.

Eles avaliam, por exemplo, que a parceria de São Paulo para a obtenção de uma vacina chinesa, firmada através do Instituto Butantan com a farmacêutica chinesa Sinovac, ainda se mostra mais promissora. Além disso apostam, claro, na parceria da Fiocruz, do governo federal, com a Universidade de Oxford.

Os representantes da Saúde consideram que a apresentação do pedido para autorização de pesquisa e desenvolvimento da vacina russa pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) vai ser o marco definidor. Isso porque a agência apenas aprova imunizações e outros medicamentos com base nos estudos clínicos — que ainda não foram apresentados.

Na tarde desta terça-feira (11), a Anvisa informou que ainda não foi procurada pelo laboratório russo que desenvolveu a vacina contra o novo coronavírus e que, portanto, não recebeu pedidos para autorização de pesquisa ou registro da vacina.

"A análise da Anvisa começa a partir da solicitação do laboratório farmacêutico.? Desta forma, não é possível para a Agência fazer qualquer avaliação ou pronunciamento em relação a segurança e eficácia deste produto antes que tenha acesso a dados oficiais apresentados pelo laboratório", disse a agência em nota.

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