Neurociência aplicada pode melhorar o clima no trabalho

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Folha de S.Paulo

Jornalista: Renan Marra

 

 

Cresce o número de empresas que aderem à neurociência organizacional como forma de estimular o bemestar no trabalho.

O estudo das respostas do cérebro no mundo corporativo acompanha a evolução tecnológica. Exames de ressonância magnética mapeiam as atividades cerebrais e associam as movimentações com situações do dia a dia profissional.

As técnicas servem para compreender bases inconscientes que determinam o modo como a pessoa age em situações de pressão ou conflito, por exemplo.

Empresas do setor expandiram ao menos 30% em 2019. Na prática, essas consultorias fazem palestras e workshops para influenciar o comportamento e estimular a empatia de pessoas que ocupam cargos de liderança.

O aumento da demanda é reflexo de esforços das companhias para reduzir a incidência de estresse e síndrome de burnout entre profissionais. Segundo Fátima Jinnyat, sócia da consultoria Jinnyat, que dá treinamento com base em neurociência organizacional, o quadro de esgotamento mental causado por trabalho cresceu muito no Brasil nos últimos três anos.

Além de aulas expositivas, as atividades incluem dinâmicas de grupo e técnicas de gamificação, com vídeos interativos e realidade virtual.

A neurociência sugere que equipes com alto desempenho quase sempre estão em ambientes de segurança psicológica, em que há respeito à diversidade e ajuda mútua, segundo Marco Fabossi, sócio-diretor da Crescimentum, especializada em desenvolvimento comportamental.

“Quando uma pessoa não é bem aceita pelo grupo, ela sofre a dor social, mais difícil de ser tratada que a dor física. Isso produz cortisol, hormônio associado ao estresse que, em excesso, gera o burnout e a depressão”, diz Fabossi.


Por isso, segundo ele, investir em diversidade resulta em ganhos de produtividade.

Considerar o erro inédito como parte do aprendizado é outra maneira de estimular a segurança psicológica. Eventuais punições podem criar bloqueios e inibir a criatividade. “O funcionário vai entrar no modo proteção e passar a fazer só o básico, sem estímulos criativos”, afirma Fabossi.

É o que acontece também quando o líder tem conduta autoritária e adota tom agressivo. Uma relação profissional baseada no medo pode ainda estimular a produção de cortisol em quantidade prejudicial à saúde, caracterizando a chamada liderança tóxica.

Nesse contexto, consultorias focadas em neurociência aprimoram técnicas de comunicação para estimular a empatia. A expressão “sair da zona de conforto”, por exemplo, muito usada em ambiente de trabalho, é desaconselhada. “Se a trocamos por zona de segurança, o indivíduo não se sente vulnerável, e sim disposto para avançar”, diz Carla Tieppo, doutora em neurociência e diretora da Ilumne, consultoria especializada em desenvolvimento humano.

A tecnologia é outro fator que aumenta a pressão emocional no trabalho. A praticidade dos recursos tecnológicos associada a uma pressão maior por produtividade faz com que críticas e feedbacks sejam transmitidos por mensagens. Isso pode gerar sentimentos negativos exagerados e a percepção de que os gestores são frios, afirma Ana Carolina Souza, sócia da Nêmesis, que oferece assessoria em neurociência organizacional.

“Ao dar retorno sobre desempenho, faça contato visual e exercite a escuta ativa, inibindo julgamentos para de fato compreender a perspectiva de quem fala”, diz Souza.

Para mapear a reação de uma pessoa em situação de estresse e ajudar a escolher candidatos em processos seletivos, a Fellipelli Consultoria de Desenvolvimento Humano e Organizacional recorre à inteligência artificial.


Um dos treinamentos usa óculos de realidade virtual em simulações de gerenciamento de conflitos. Em uma delas, um personagem tenta persuadir o profissional a esconder seus erros de um chefe virtual. As decisões do jogador influenciam o enredo do vídeo.

O algoritmo, então, compara o desempenho com a média geral. Embora não existam escolhas consideradas certas ou erradas, o sistema identifica qual candidato se encaixa mais no perfil exigido pela empresa contratante.

“Ao identificar como o cérebro reage, o profissional também consegue compreender e mudar determinados comportamentos”, diz Adriana Fellipelli, fundadora da consultoria. Em alguns casos, ela encaminha profissionais para terapeutas ou psiquiatras.

Segundo Fernanda Garcia, gerente de RH da Corteva, os estudos que norteiam o trabalho da neurociência transmitem credibilidade aos participantes. “Quando passamos a investir em neurociência, nossos líderes ganharam autoconhecimento e uma visão mais sistêmica dos funcionários, analisando o ser humano com seus medos e raivas. As relações ficaram mais transparentes”, diz Garcia.

 

 

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