Novos surtos ameaçam frear a recuperação global

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Valor Econômico 
Jornalista: Enda Curran, da Agência Bloomberg


29/07/20 - O aumento dos novos casos de coronavírus em toda a região da Ásia-Pacífico, que era considerada como tendo contido o vírus com mais eficiência do que outras regiões, está sendo vista como uma advertência precoce para o resto do mundo.

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A China registrou nesta semana o maior número de infecções domésticas em mais de quatro meses e um novo caso surgiu em Pequim, o primeiro em 21 dias. Tóquio, Hong Kong e Melbourne contabilizaram um número recorde de novos casos, e até o Vietnã, que passou cem dias sem notificar nenhum novo paciente local, está combatendo um surto e colocou uma grande cidade em lockdown.

A pandemia continua a assolar partes dos Estados Unidos, pontos de grande movimento na Europa e grandes economias emergentes, entre as quais Índia e Brasil. Com pouca perspectiva de uma interrupção antes da descoberta e distribuição de uma vacina, os governos estão tendo de elevar significativamente os pacote de ajuda à economia, que já somavam US$ 11 trilhões, e o apoio sem precedentes dos bancos centrais liberados desde o início da crise.

O Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) se reunirá nesta semana para tomar decisão sobre a taxa de juros, num momento em que os parlamentares americanos discutem mais um pacote de estímulo fiscal, de ao menos US$ 1 trilhão. A União Europeia (UE) acaba de aprovar o planejado pacote anticrise de € 750 bilhões (US$ 878 bilhões) e os governos de todos os países estão tendo de prorrogar programas de ajuda.

“A recuperação da economia mundial está ameaçada“, disse Mark Zandi, economista-chefe da Moody’s Analytics. “O fundamental para garantir que a economia mundial não volte a resvalar para a recessão nos próximos meses é persistir no agressivo apoio monetário e fiscal.”

Muita coisa vai depender da velocidade com que a confiança do consumir puder ser restabelecida. As viagens e o turismo, por exemplo, ainda estão estagnados, o que mantém a demanda reprimida. A confiança também será influenciada pelo grau de sucesso no controle do vírus e pela brevidade com que os desempregados puderem encontrar um emprego.

Grandes marcas mundiais, como Lufthansa, Airbus, Marks & Spencer e a rede LinkedIn, da Microsoft, ainda estão fechando vagas. A Yelp estima que mais de metade dos fechamentos de empresas americanas, que eram tidos como temporários quando começou a pandemia, estão sendo atualmente considerados permanentes.

“Visto que os consumidores foram os principais propulsores do desempenho excepcional e do robusto nível de emprego durante todo o ano de 2019, enquanto o consumidor não voltar, o desempenho do crescimento mundial será baixo”, disse Catherine Mann, economista-chefe do Citigroup e ex-economista-chefe da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Nos EUA, a confiança do consumidor caiu mais que o previsto em julho, pois o aumento dos casos de covid-19 frustrou a expectativa dos americanos de melhora da economia e do mercado de trabalho, conforme revelou relatório divulgado ontem.

O banco Goldman Sachs advertiu que as economias da região Ásia-Pacífico, que responderam por mais de 70% do crescimento mundial em 2019, passaram por um relevante ponto de inflexão em junho, quando o ritmo da reabertura da economia da região “desacelerou substancialmente”, e desafios significativos cresceram.

As economias da região alcançaram ’o fim do começo’ da recuperação”, segundo Andrew Tilton, economista-chefe do Goldman para os países da Ásia-Pacífico.

Embora a China tenha retomado o crescimento no último trimestre, e os indicadores de produção industrial tenham indicado uma recuperação em V (acelerada), tanto a demanda do consumidor quanto os investimentos privados continuam fracos.

A recuperação dos EUA empacou após o aumento dos casos de covid-19 em vários Estados.

Os pedidos de seguro-desemprego subiram pela primeira vez no país desde março na semana encerrada no dia 18, para 1,42 milhão. As reservas em restaurantes deixaram de crescer em todo o território americano e continuam em cerca de um terço do nível do mesmo período de 2019. O sentimento do consumidor, medido pela Universidade de Michigan, caiu neste mês com a propagação do vírus.

Houve “notável perda de impulso” nos EUA, diz Michael Hanson, economista do J.P.Morgan Chase.

Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA e um dos colaboradores remunerados da Bloomberg, disse em entrevista no dia 25 no programa de TV Bloomberg Wall Street Week que “não consegue se lembrar de um momento em que a recuperação [americana] foi tão incerta.”

Os sinais vindos da Europa são mais promissores. O nível de atividade do setor privado na zona do euro subiu para o maior patamar em mais de dois anos em julho, com o crescimento tanto do setor de serviços quanto da indústria. No Reino Unido, o volume de vendas no varejo subiu em junho para níveis próximos ao pré-confinamento, apesar de as medidas de distanciamento social ainda impedirem uma volta à normalidade.

Dados de alta frequência sobre a economia da Alemanha, como as reservas em restaurantes e os anúncios de empregos, mostram tendência de alta, e o grau de confiança das empresas está melhorando. Esse tipo de avanço é um bom prenúncio de uma recuperação relativamente modesta no segundo semestre deste ano, disse o diretor de pesquisa econômica do Barclays Bank, Christian Keller.

“Era de se esperar que, após os regimes de confinamento terem criado grave contração da atividade, a reabertura [da economia] trouxesse alguma recuperação inicial, em especial na demanda reprimida do consumidor, que, depois disso, desaceleraria”, disse ele.

Mas o recente aumento nos novos casos de covid-18 na Europa pode prejudicar esse cenário. A Espanha contava com a temporada de turismo para recuperar parte dos mais de um milhão de empregos perdidos no segundo trimestre, um recorde no país. Mas os novos surtos estão prejudicando a chegada de turistas

Entre os motivos para se esperar uma recuperação mais forte estão a maior capacidade de administrar surtos do vírus, os avanços na busca de uma vacina e as enormes medidas de estímulo, de acordo com economistas do Morgan Stanley liderados por Chetan Ahya. Eles estimam que os BCs de EUA, zona do euro, Japão e Reino Unido expandirão seus balanços em 28% do PIB até o fim do ano que vem.

Mas, mesmo com a chegada efetiva de uma vacina, haverá um período de espera até que ela esteja disponível mundialmente, disse o ex-presidente do banco central da Índia Raghuram Rajan em conferência “on-line” organizada na semana passada pelo DBS Group.

“A volta mais precoce das economias à plena operação deverá ser no segundo ou no terceiro trimestre do ano que vem, mesmo que tudo evolua conforme o planejado, o que, neste mundo, é difícil de imaginar”, disse ele.

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