Mandetta cita dados incorretos sobre vacinas e testagem em massa na CPI da Covid; veja checagem - 04/05/2021 - Poder - Folha

Folha de S.Paulo 

Jornalista: Carol Macário

05/05/21 - O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta prestou depoimento na CPI da Covid nesta terça-feira (4).

Em uma fala introdutória, ele apresentou um resumo das ações desempenhadas desde que assumiu a pasta, em 1º de janeiro de 2019, até sua demissão, em 16 de abril de 2020, após divergências com o presidente Jair Bolsonaro sobre a política de isolamento social no enfrentamento da pandemia de Covid-19.

Na sequência, Mandetta passou a responder a perguntas de senadores, que fizeram questionamentos sobre o uso de hidroxicloroquina, testagem em massa, exportação de equipamentos hospitalares e de proteção, além de vacinas contra o coronavírus.

A Lupa verificou algumas das declarações de Mandetta. A reportagem contatou o ex-ministro a respeito das verificações, mas não teve retorno até a conclusão desta edição.

“Em maio, depois de eu ter saído do ministério, é que a primeira vacina começa a ter o primeiro teste em humanos.” Luiz Henrique Mandetta, em depoimento à CPI da Covid falso Em 16 de março de 2020, a farmacêutica americana Moderna começou a primeira fase de testes em humanos de sua fórmula com a tecnologia de mRNA. Isso aconteceu exatamente um mês antes de Mandetta deixar o Ministério da Saúde, em 16 de abril, e não depois.

No mês de abril, outros cinco laboratórios iniciaram estudos clínicos em voluntários. A Universidade de Oxford, por exemplo, aplicou as primeiras doses de sua fórmula ChAdOx1 nCoV-19 em 23 de abril do ano passado. Cerca de 1.100 pessoas participaram da fase 1 dos testes, quando os imunizantes são testados em um grupo reduzido.


Ainda no final de abril, o laboratório chinês CanSino Biological já havia iniciado a segunda fase de testes em humanos, na qual o número de participantes é ampliado. Ao todo, são três fases de testes para a confirmação da eficácia e da segurança de uma determinada vacina.


“Nós só fizemos transmissão comunitária depois do dia 24 de março.” falso No dia 20 de março de 2020, o Ministério da Saúde reconheceu a transmissão comunitária do novo coronavírus em todo o território brasileiro. Em nota, a pasta destacou a diferença da transmissão do vírus entre as regiões, afirmando, por exemplo, que a região Norte tinha apenas 1,6% do total de casos, enquanto o Sudeste apresentava 61,1%.

Antes disso, regiões do país já apresentavam transmissão comunitária. Em 13 de março, São Paulo e Rio de Janeiro já tinham casos registrados desse tipo. Em outros quatro estados, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, também foi registrada transmissão comunitária antes do dia 20.

É considerado um caso de transmissão comunitária quando não há um vínculo conhecido do paciente com outro caso confirmado —como uma pessoa que contraiu o vírus no exterior.

“Foi dali [estratégia centralizada de compras do Ministério da Saúde] que saíram quase 15 mil respiradores a um custo de R$ 13 mil o respirador para todo o território nacional.” falso O Ministério da Saúde adquiriu 15 mil respiradores mecânicos a valor unitário de US$13mil—não R$13mil—no início de abril de 2020, conforme divulgação feita na época pela própria pasta em seu site.
Mandetta equivocou-se, portanto, ao citar o preço em reais. Na cotação de 3 de abril de 2020, último dia útil anterior à publicação do anúncio, cada equipamento custou o equivalente a R$ 68.770. Naquele dia, o dólar estava a R$ 5,29, segundo dados do Banco Central. Os aparelhos custaram 429% a mais do que o citado por Mandetta durante depoimento na CPI.

O Ministério da Saúde afirmou, na época, que a negociação toda representava um “investimento de R$ 1 bilhão”. Ainda assim, o valor unitário seria de R$ 66.666, o que dá uma diferença de 412% — também superior ao número mencionado por Mandetta.

“Porque a orientação dele [Tedros, diretor-geral da OMS], quando ele fala ‘vamos testar 100% da população do mundo’, ela seria inexequível.” falso Em 16 de março, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, disse que era preciso testar todos os casos suspeitos de Covid-19 e não 100% da população, como afirmou o ex-ministro Mandetta.

Durante entrevista coletiva, Tedros destacou que a testagem era a única forma de quebrar a corrente da transmissão do coronavírus e, por essa razão, era tão importante ser implementada.

“Todos os países precisam tomar uma abordagem abrangente. Teste, teste, teste. Teste todo caso suspeito. Se for positivo, isole e descubra de quem ele esteve próximo. Não se consegue combater um incêndio com os olhos vendados. Você não consegue parar essa pandemia se não souber quem está infectado”, disse Tedros na ocasião.

O diretor da OMS recomendou ainda que quem tivesse contato com pessoas infectadas também fosse testado e isolado, evitando assim a disseminação maior do vírus. Em momento algum ele falou em testar “100% da população do mundo”.

Dois dias depois, Mandetta criticou a fala do diretor da OMS. “A Organização Mundial da Saúde, no senhor presidente da organização, Tedros, ele coloca que todo o planeta deve fazer o teste em 100% das pessoas. Primeiro, isso do ponto de vista sanitário é um grande desperdício de recursos preciosos para as nações”, disse o então ministro da Saúde brasileiro.

“E o Brasil também fez, por minha determinação, a capacitação de todos os países da América do Sul e Central.” verdadeiro, mas Nos dias 6 e 7 de fevereiro de 2020, o Ministério da Saúde, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) e a Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) realizaram um treinamento sobre diagnóstico laboratorial do novo coronavírus para profissionais de saúde de Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Panamá, Paraguai, Peru e Uruguai.

Essa capacitação, contudo, foi realizada a pedido da Opas, de acordo com texto publicado pelo Ministério da Saúde. Na época, Mandetta defendeu a “atuação solidária” entre os países vizinhos e reforçou a preocupação com a Venezuela, “por conta do desmanche do sistema de saúde deles, que resultou em casos de difteria e sarampo, e da fronteira com Roraima”.

Ainda em fevereiro, Mandetta participou da 3ª Reunião Extraordinária dos Ministros da Saúde do Mercosul, quando os participantes assinaram um projeto de intenções para compartilhamento de informações e tecnologias na “Declaração dos Ministros de Saúde do Mercosul perante a situação epidemiológica de Dengue, Sarampo e Coronavírus (Covid-19)”.

“Naquele mesmo mês [dezembro de 2019] nós entregamos a renovação da frota Samu com 40% de ambulâncias novas.” verdadeiro Em dezembro de 2019, o governo federal entregou 458 novas ambulâncias ao Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), um investimento de R$ 79 milhões. Em setembro daquele ano, o Ministério da Saúde já havia entregado 866 ambulâncias, totalizando 1.324, o que representa 40,4% das 3.274 ambulâncias do Samu.

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