Orgulho de Cuba, sistema de saúde sofre com variante Delta

O Globo 
Jornalista: Frances Robles, do The New York Times

O sistema de saúde de Cuba, há muito uma fonte de orgulho nacional, está em grave perigo, especialmente em províncias distantes. Depois de conter o avanço do coronavírus no ano passado, a ilha caribenha agora está sendo devastada pela variante Delta, altamente contagiosa, que aumentou as taxas de contaminação e inundou o sistema médico do país.

Mais de 8,6 mil novos casos foram registrados na terça-feira, cerca de seis vezes mais do que o número de novos casos há apenas dois meses, de acordo com dados do Ministério da Saúde. O suprimento de oxigênio para pacientes de Covid-19 está acabando, e a fábrica que produz os cilindros do país está atualmente fechada.

Mortuários e crematórios foram sobrecarregados. Na cidade de Guantánamo, por exemplo, o número de mortes aumentou em oito vezes em pouco dias, disse um funcionário do governo. Os cubanos estão postando vídeos comoventes de familiares mortos, dizendo que seus entes queridos morreram por falta de atendimento médico.

No último fim de semana, depois que o primeiro-ministro Manuel Marrero Cruz disse que os cubanos estavam reclamando mais dos médicos e do mau serviço do que da escassez, mais de 20 jovens médicos e estudantes de medicina recorreram às redes sociais para afirmar, um por um: “Estou declarando publicamente que os médicos não são os culpados pelo colapso do sistema público de saúde.”

A atitude foi um passo ousado em Cuba, onde qualquer demonstração pública de descontentamento pode resultar na perda do emprego ou mesmo em prisão.

O presidente Miguel Díaz-Canel reconheceu recentemente que a pandemia "excedeu a capacidade" do sistema de saúde cubano, mas culpou o embargo comercial dos EUA pela escassez que o país sofre.

Embora a pandemia tenha afetado os sistemas médicos em todo o mundo, a calamidade em Cuba é particularmente significativa porque o governo manteve por décadas seu sistema de saúde gratuito como um sinal de sucesso da revolução socialista. Mas a crise crescente revelou um sistema desgastado que, embora frequentemente produza avanços médicos, também é denunciado como mal equipado e carente de recursos.

O Ministério da Saúde cubano não respondeu a vários pedidos de comentários. Alexander Figueredo Izaguirre, médico da província cubana de Granma, disse que foi despedido este ano depois de criticar o mau estado dos hospitais do país após a morte de seu avô.

— As casas funerárias não aguentam, os hospitais não aguentam, as clínicas não aguentam — disse. — Estamos lutando há um ano e meio nesta batalha contra esta doença sem armas, enquanto centenas e milhares de pessoas estão morrendo.

Cuba registrou até agora 536 mil casos e 4.240 mortes por Covid-19. A maior parte dos casos e óbitos ocorreu neste ano, depois da reabertura da ilha ao turismo.

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