Os americanos acreditarão numa vacina?

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Valor Econômico 
Jornalista: Edward Luce, do Financial Times

31/07/20 - Se uma vacina for desenvolvida até as eleições. isso poderia favorecer Trump. Mas será que os americanos acreditarão nela? Pesquisas indicam que boa parte não tomaria a vacina. O movimento antivacina prospera na desconfiança com a ciência propagada pelo próprio presidente.

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É fim de outubro e Donald Trump tem uma surpresa. Ao invés do tradicional choque pré-eleição, essa revelação envolve esperança, e não medo. O “vírus chinês” foi derrotado graças à engenhosidade do presidente dos EUA. O país desenvolveu uma vacina que estará disponível a todos até o fim do ano.

É possível que Trump possa influenciar uma parcela importante do eleitorado com tal declaração. O maior perigo é que ele eleve a desconfiança nos EUA em relação à ciência. Uma pesquisa recente constatou que só metade dos americanos planeja tomar uma vacina contra o coronavírus. Outras dão entre um quarto e um terço.

Seja qual for o dado real, a militância antivacina está se dando bem. Cerca de três quartos da população teria de ser vacinada para se obter a imunidade de rebanho.

As doenças infecciosas prosperam na desconfiança. Parte da “relutância às vacinas” no país está bem estabelecida. As autoridades estão sob forte pressão para permitir que grandes farmacêuticas encurtem os processos de testes clínicos. Isso poderá levar a erros.

O nacionalismo vacinal não envolve só governos ricos fazendo pré-encomendas de vacinas. Diz respeito ainda a conquistar um direito inimaginável de se gabar na corrida para salvar o mundo. Mas usar atalhos imunológicos poderá ser perigoso para a saúde pública.

Tal temor atinge muitos que hesitam em ser inoculados. O resto é capturado por teorias da conspiração. Na batalha com o sentimento antivacina, a ciência leva a pior. Ela enfrenta uma aliança diversificada e metastática de desconfiança popular. As mensagens de saúde pública não são páreo para memes de oponentes nas redes sociais.

É essa mistura de conhecimento tecnológico e transtorno intelectual que conduz a política hoje. Trump não inventou o charlatanismo pós-moderno, apesar de ter endossado medicamentos perigosos. A ironia é que ele pode ser vítima da desconfiança que alimentou.

Se uma vacina eficaz surgir até a eleição nos EUA, Trump não seria a pessoa ideal para informar o país. Tendo apregoado o uso de desinfetantes e da cloroquina, ele perdeu a credibilidade. A validação deveria vir de Anthony Fauci, o maior especialista em doenças infecciosas dos EUA, cuja taxa de confiança é quase o dobro da do presidente.

Ainda assim, o desafio estaria só começando. Não se duvida do potencial de pesquisa dos EUA. Mas há bons motivos para suspeitar da capacidade do establishment médico de conquistar a população.

O moderno movimento antivacina começou na esquerda, onde ainda é forte e segue a filosofia do “meu corpo é o meu templo”. Não se pode confiar que a ciência corporativa coloque coisas no nosso organismo. Mas os antivacinas da direita têm uma força maior. Desde o século 19 proliferam nos EUA a paranoia religiosa de que vacinas são coisa do diabo e um temor mais generalizado de que a liberdade esteja ameaçada. A tensão ressurgiu no QAnon, culto virtual que acredita que os EUA são comandados por um Estado profundo satânico que abusa de crianças.

Seria difícil inventar descrição mais insana do mundo. Trump, porém, respondeu no Twitter a contas simpáticas ao QAnon mais de 90 vezes desde o início da pandemia. Entre as teorias do QAnon está a de que a covid-19 é uma farsa liderada por Fauci para impedir a reeleição de Trump. A ciência não consegue narrativas tão criativas.

Tudo isso é uma grande dor de cabeça para a maioria silenciosa que ficaria feliz com a vacina. Suas vidas são ameaçadas tanto pela pandemia quanto pela “infodemia”. A primeira parece mais fácil de ser resolvida do que a segunda.

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