Os gargalos da saúde

IstoÉ

Jornalista: Anna França

17/04/20 - UTIs lotadas, médicos correndo pra lá e pra cá, falta de respiradores e outros tipos de equipamentos. Este cenário de horror já vivido dentro de muitos hospitais brasileiros pode não ser o que de pior acontecerá durante a pandemia de coronavírus no País. Novos gargalos começam a surgir na área da saúde à medida que o tempo passa. Os médicos e os laboratórios já sentem falta de equipamentos de proteção individual, os chamados EPIs, há também uma grande dificuldade para se conseguir reagentes para realização dos exames junto aos fornecedores internacionais, devido à forte demanda global, e ainda por cima podem faltar medicamentos devido aos atrasos na chegada de insumos básicos vindos da Ásia.

Presidente do Instituto Coalizão Saúde e do Conselho da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Claudio Lottenberg. Segundo ele, o setor emprega hoje cerca de 5 milhões de pessoas e mais de 2 milhões de temporários, o que corresponde a quase 10% da população economicamente ativa no País. E muitos deles estão sendo contaminados pelo vírus. “Estamos indo para uma guerra e os soldados estão sendo os primeiros abatidos”, diz Lottenberg.

Segundo o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), o coronavírus já contaminou pelo menos 237 profissionais de enfermagem no país, segundo balanço divulgado no dia 13 de abril. Destes, 14 morreram com a Covid-19 e 223 recuperam-se da doença. Outros 2.321 profissionais têm suspeita de contaminação e 12 mortes estão sendo investigadas pelas autoridades sanitárias. “É uma situação grave, que exige medidas imediatas para evitar o adoecimento em massa de profissionais, que pode ser catastrófico para o sistema de Saúde”, diz em nota o presidente do Cofen, Manoel Neri. Segundo Lottenberg, nos hospitais, além da lotação das UTIs, há problemas com a lotação dos leitos comuns. Antes muitos deles operavam com 85% da capacidade, com atendimento de procedimentos eletivos e agora as unidades estão basicamente voltadas para os doentes da Covid-19, que ocupam cerca de 60% dos leitos.


Falta de testes

Nos laboratórios, o atraso na chegada dos testes para o coronavírus eleva a fila dos exames. Em São Paulo, o número de pessoas que esperam resultados foi de 12 mil para 17 mil na última semana. O estoque de testes do governo estadual esgotou na semana anterior, segundo o secretário de Saúde, José Henrique Germann. Os exames têm sido feitos apenas por clínicas particulares, que são pagas pelo governo estadual para fornecer os resultados. Mas mesmo os laboratórios particulares enfrentam problemas, como a falta de reagentes para fazer exames e dos equipamentos de proteção para os profissionais, que manuseiam material contaminado, segundo a diretora executiva da Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed), Priscilla Franklin Martins, “A demanda pelos testes cresceu muito, não só no Brasil como no mundo”, explica.

De acordo com Priscilla, como a Covid-19 é uma doença nova os laboratórios foram testando os reagentes que existiam para chegar a uma composição certa que detecta a molécula do vírus e a indústria vai fornecendo conforme a demanda. Há ainda os chamados testes rápidos, que usam a sorologia do doente para ver se há anticorpos contra o vírus, confirmando assim a doença. Mas todos precisam ser validados dentro das regras recomendadas pela sociedade médica e pela Anvisa. “O teste é muito importante e deveríamos testar 100% da população, mas diante da escassez precisamos gerenciar os estoques, por isso começamos pelos profissionais que estão mais expostos”, afirma. Na outra ponta, o Brasil sofre o risco de desabastecimento de medicamentos, de acordo com a Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa (Interfarma). A entidade informa que os cancelamentos de voos já se tornaram uma preocupação ao setor farmacêutico, em especial no caso das regiões Norte e Nordeste, onde há dificuldades logísticas. Já os planos de saúde foram obrigados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) a atender todos os pacientes com suspeita de coronavirus, mesmo que em período carência. Por outro lado, todos os procedimentos eletivos foram adiados, jogando para frente problemas sérios como tratamentos de câncer e outras doenças, tornando a situação da saúde cada vez mais crítica em todo o Brasil. Esses gargalos precisam ser rapidamente superados.

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