Pague Menos tenta corrigir rumo

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Valor Econômico
Jornalista: Adriana Mattos


21/01/20 - No auge da expansão do setor de farmácias, entre 2014 e 2017, quando as vendas subiam 20% ao ano e o resto do varejo vivia em crise, a Pague Menos era uma fábrica de abrir loja. Fundada em 1981 pela família Queirós, a rede cearense abria, em 2016, uma unidade a cada três dias - número menor apenas que o da Raia Drogasil, que vende quase o triplo da empresa.

O plano era ganhar tamanho para avançar numa oferta pública inicial de ações (IPO, da sigla em inglês), que levaria a sua sócia, a gestora General Atlantic (GA), a sair do investimento após junho de 2018. Mas a situação da empresa complicou-se de dois anos para cá.

A Pague Menos perdeu ritmo de crescimento e a taxa de endividamento líquido (ajustado) foi a seis vezes no fim de 2019, segundo a agência de rating Fitch - a empresa não confirma o número.

Economia fraca, concorrência mais agressiva, falhas da gestão e a saída do fundador, preso em 2018, criaram um cenário desfavorável, dizem fontes.

A varejista diz que a expectativa é que, neste ano, as vendas nas lojas mais antigas (índice “mesmas lojas”) voltem a acelerar e isso ajude a sustentar o caixa. “O que aconteceu é que abrimos quase 500 lojas desde 2016 e paramos para corrigir erros em 2019. Vamos voltar a abrir lojas, mas num ritmo mais lento do que no passado”, diz Luiz Renato Novais, diretor vice-presidente administrativo e financeiro. Em 2019, foram sete aberturas por trimestre, em média, 20% do que se via no ano anterior.

Em linhas gerais, fontes observam que a situação reflete um conjunto de fatores. “Houve maior tolerância a lojas que tinham desempenho ruim por alguns anos, para segurar o ponto, o que foi um erro. E a decisão de estocar mais produtos em 2018, superando 100 dias em estoque na época, não elevou tanto a receita e fez a empresa acumular produto de giro baixo”, diz uma fonte do setor. “No começo de 2019 tiveram que incinerar quase R$ 20 milhões em produtos que estavam com data vencida”.

A crise que afetou o setor após 2017, com a queda da taxa do emprego, e o aumento da rivalidade entre cadeias no Nordeste fizeram a Pague Menos perder vendas nas lojas mais antigas (com mais de um ano). Em 2018, essa venda caiu 4%. No acumulado de 2019, a empresa deve reportar nova retração, apurou o Valor.

A empresa sentiu a concorrência e entrou em guerra de preços para defender seu mercado. No Nordeste, estão mais de 600 pontos do total de 1,1 mil lojas do grupo. Resultado: de julho a setembro a cadeia perdeu 1,6 ponto de margem bruta, para 29%. “Com maior fôlego financeiro, a Raia Drogasil correu para abocanhar esse filão no Nordeste que poderia ter caído todo no colo da Pague Menos, que já era líder em certas capitais”, diz o diretor de uma rede varejista.

No começo de 2018, a Pague Menos tinha 21% do mercado no Nordeste, e em setembro de 2019, 19,8%. No período, a fatia da RD passou de 5% para 8%.

Também foi em 2018 que o fundador Francisco Deusmar Queirós, com 57% das ações da Pague Menos, foi condenado pela Justiça. O planos de abrir o capital em bolsa, que já não estava tão firme, acabaram suspensos, apurou o Valor.

Queirós foi preso em setembro de 2018 por crime contra o sistema financeiro nacional. Segundo o Ministério Público, corretoras de Queirós praticavam “garimpagem” ao comprar papéis “de acionistas privados e geralmente desinformados a um preço bem menor do praticado no mercado”.

Condenado a 9 anos e 2 meses, ficou menos de três meses preso e depois foi transferido ao regime semiaberto. Neste mês, o Tribunal Regional Federal da 5ª região alterou a tipificação para crime contra o mercado de capitais e a pena caiu a 10 meses. Queirós foi afastado, deixando o cargo de presidente do conselho de administração para o filho Mário de Queirós, atual CEO.

Segundo duas fontes, Queirós tem orientado o filho sobre os negócios. Em nota, a empresa diz que Mário tem autonomia na gestão e Deusmar “é atualizado regularmente sobre o andamento dos negócios, mas não tem gerência direta sobre o dia a dia”.

A respeito da relação com a sócia GA, a varejista diz que é “excelente” e que a gestora é um investidor de longo prazo. A GA tem 17% da Pague Menos. Procurada, a gestora não se pronunciou.

A direção da varejista entende há avanços na operação. Após redução no ritmo de abertura de lojas, a receita passou a crescer mais do que as despesas. “Estamos convencidos que o Nordeste vai reagir após 2020 e vamos nos beneficiar disso”, diz Novais.

No dia 30 de dezembro, uma assembleia geral de investidores, da 4ª emissão de debêntures, foi convocada para votar um aditamento na escritura que permitiria uma nova emissão de dívida. A rede já tinha fechado nova operação, a 5ª emissão, mas a escritura da 4ª emissão, informava que a assunção de nova dívida levaria a vencimento antecipado desta. “Isso estava mal escrito e foi preciso chamar assembleia para fazer o aditamento”, disse Novais.

Por causa do erro, a empresa pagará 0,25% de prêmio sobre o valor nominal das debêntures, de R$ 200 milhões. O item foi aprovado. Em dezembro, a Fitch rebaixou o rating da empresa relativo a esta 4ª emissão, de “A-(bra)” para “BBB+(bra)”, com perspectiva negativa. A agência projeta relação dívida e Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) em seis vezes em 2019 e 5,8 em 2020. A Pague Menos questiona aspectos desse cálculo e diz que fechou em setembro do ano passado com uma relação de 1,8. Um ano antes, era de 1,7.

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