Folha de S.Paulo 
Jornalista: Renan Sukevicius

O mundo da ciência ganhou um novo ritmo com a pandemia da Covid-19. Em um ano, vimos surgir diante de nossos olhos imunizantes capazes de frear o ataque do Sars-CoV-2 ao nosso organismo.

Mas uma outra epidemia, que já dura 40 anos, ainda não teve a mesma sorte: a de Aids.

Desde as primeiras infecções, nos anos 80, quase 33 milhões de pessoas morreram por complicações decorrentes da doença, segundo o Unaids, braço da ONU focado no combate à enfermidade. Todos os anos, aqui no Brasil, há cerca de 40 mil novas infecções.

Mas, agora, uma perspectiva de mudança se desenha no horizonte.

O único estudo em fase 3 no mundo de uma vacina para prevenir o HIV está recrutando voluntários para testes no Brasil. Ao todo, serão 136 voluntários selecionados. E ainda restam muitas vagas.

O estudo internacional chamado Mosaico, ocorre também em outros países como Argentina, Itália, México, Peru, Polônia, Espanha e Estados Unidos, e tem cerca de 3,8 mil voluntários no total.

Estão envolvidas nos estudos a Rede de Ensaios de Vacinas contra o HIV (HVTN); Janssen Vaccines & Prevention B.V., parte das Empresas Farmacêuticas Janssen da Johnson & Johnson; o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID) dos EUA e o Comando de Pesquisa e Desenvolvimento Médico do Exército dos EUA (USAMRDC)

Eu conversei com o professor Álvaro Furtado da Costa, médico infectologista do Hospital das Clínicas, que tem acompanhado a preparação. Segundo ele, “a vacina parece promissora”.

O estudo utiliza como vetor da vacina o Adenovírus 26, um vírus inofensivo aos seres humanos. Os voluntários precisam tomar quatro doses e a expectativa é de que, a partir da primeira, o organismo já comece a produzir os anticorpos necessários para defesa contra o HIV.

As várias mutações do HIV exigem um número pouco comum de doses. “[As mutações] são muitas, são variáveis geográficas. O HIV tem várias ferramentas de escapar do sistema imunológico”, explica o médico.

Esse é também um dos motivos pelos quais o mundo ainda não viu nascer um imunizante efetivo para a doença, como aconteceu com o novo coronavírus. “A estrutura externa do HIV tem mais variações genéticas que o novo coronavírus, que tem uma proteína só, aquela ‘coroa’. É como se o HIV fosse uma caixa de lápis de cor com vários lápis e o Sars-CoV-2 tivesse um lápis só”, traduz o infectologista.

As três primeiras doses dos testes têm um intervalo de aplicação a cada três meses. Já a última dose tem um intervalo de seis meses. Ao todo, os voluntários serão acompanhados por três anos.

Segundo os cientistas, a vacina não causa infecção pelo HIV, porque não é feita a partir do vírus vivo, e sim de uma proteína produzida artificialmente em laboratório, imitando uma das proteínas que compõem a parte externa do vírus.

Para se inscrever os interessados devem acessar o site do projeto. Só serão aprovados candidatos considerados mais vulneráveis ao vírus para este estudo: homens cisgênero (que se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram) que se relacionam sexualmente com homens cisgênero, e mulheres e homens trans com vida sexual ativa.

Além disso, é necessário ter entre 18 e 60 anos e ser HIV negativo

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