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Pesquisadoras da Ufba estudam como lágrimas de animais podem ajudar problemas oftalmológicos humanos — Foto: Arianne Oriá/Arquivo pessoal

Estudo pode ter impactos farmacêuticos e é desenvolvido por pesquisadoras da área de medicina veterinária. MEC anunciou corte de verbas para 2021.


Por Itana Alencar, G1 BA

Pesquisadoras da área de medicina veterinária da Universidade Federal da Bahia (Ufba) desenvolvem um estudo que pode ajudar a sanar problemas oftalmológicos humanos, a partir de lágrimas de animais, como jacarés e tartarugas marinhas. No entanto, a falta de apoio financeiro tem atrasado o desenvolvimento da pesquisa que pode ter impacto farmacêutico.

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O estudo é desenvolvido principalmente pelas médicas veterinárias Ana Cláudia Raposo e Ariane Lacerda, sob orientação da doutora em Oftalmologia Veterinária Arianne Oriá, que é professora da Ufba.

Ana Cláudia, que é doutora em Ciência Animal nos Trópicos, explica que sua pesquisa começou a ser desenvolvida em 2013, quando ainda era doutoranda, a partir da análise sobre a composição e as estruturas das lágrimas de diversos animais, principalmente dos répteis.

“Nós percebemos que determinados animais conseguem ficar em diferentes ambientes sem que isso represente uma agressão aos olhos. Imagine como seria se a gente pudesse ficar o tempo todo embaixo da água sem irritar os olhos. Esse entendimento começou a existir a partir da observação dos jacarés, no zoológico de Salvador. Eles ficam muito tempo embaixo da água, que é uma água salobra natural para a sua espécie. Notamos também que além de ficar com o olho aberto nessas condições, ele permanecia cerca de 1h30 sem piscar e sem que isso interferisse na sua proteção ocular”, explica.

Quando a hipótese surgiu, Ana Cláudia e o grupo de pesquisa precisaram de estrutura para dar prosseguimento aos estudos. As pesquisadoras fizeram diversas parcerias, entre elas o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“O Cetas nos possibilitou ter acesso aos animais e fazer coleta das lágrimas, claro que sempre sendo supervisionados por um comitê de ética e pelo próprio Ibama. Então fomos atrás de entender a composição dessas lágrimas. O professor Ricardo Portela [Ufba] nos possibilitou o uso de uma tecnologia adequada para a gente iniciar os estudos de comparação, foi então que a gente percebeu que estava entrando em temática pertinente”, conta Ana Cláudia.

Apesar da facilitação que conseguiu, o grupo de Ana Cláudia ainda tinha dificuldades em encontrar tecnologia adequada para dar segmento às análises necessárias. Uma nova oportunidade surgiu então a partir de um edital do Ministério da Educação, em 2016.

“O edital do MEC possibilitou um intercâmbio de doutorado pra universidades parceiras. A partir do Brasil, coletamos amostras dos animais e levamos para a Universidade da Califórnia, que tinha um processamento com maior de tecnologia, que nos permitia avaliar minuciosamente aves e répteis, principalmente jacarés e tartarugas marinhas”, detalhou.

Foi então que, a partir da análise mais capacitada sobre as moléculas, Ana Cláudia e o grupo perceberam que era possível aplicar os conhecimentos para o tratamento de condições humanas.

“Chegamos a uma conclusão inédita de que poderíamos encontrar, na lágrima dos animais, moléculas que podem melhorar condições oftalmológicas humanas, como a doença do ‘olho seco’. Só que precisamos encerrar os estudos na fase dos Estados Unidos porque não temos fomento para fazer novas avaliações. Nosso grupo começou a engatinhar no estudo de um potencial farmacêutico para o que a gente analisa e, para irmos à frente, dependemos de financiamento”, avaliou.

“Esse é nosso grande sonho, porque a nossa ideia é produzir ciência de uma forma acessível. Popularizar a ciência sempre. Nosso país investe pouco na ciência” – Ana Cláudia Raposo.


“Esse é nosso grande sonho, porque a nossa ideia é produzir ciência de uma forma acessível. Popularizar a ciência sempre. Nosso país investe pouco na ciência” – Ana Cláudia Raposo.

A orientadora e doutora Arianne Oriá reforçou a necessidade de apoio financeiro para que os pesquisadores possam dar prosseguimento à pesquisa.

“Toda dificuldade que tivemos que enfrentar é em relação ao apoio financeiro, que se deu única e exclusivamente na bolsa de estudo dos alunos de doutorado no intercâmbio. Apoio em fomento de material, deslocamento, processamento não tivemos nenhum e isso é um fator que impacta e atrasa bastante a pesquisa.

“Ainda temos muito mais a avançar e o único fator impeditivo para chegar realmente ao que buscamos é a questão financeira. O pesquisador que faz pesquisa hoje, no Brasil, faz porque ama. Se não for por isso, desiste” – Arianne Oriá.

“Ainda temos muito mais a avançar e o único fator impeditivo para chegar realmente ao que buscamos é a questão financeira. O pesquisador que faz pesquisa hoje, no Brasil, faz porque ama. Se não for por isso, desiste” – Arianne Oriá.

Cortes de verbas

A pesquisa do grupo de Ana Cláudia deve ser ainda mais impactada no próximo ano, depois dos cortes de verba anunciados pelo MEC. A Ufba deve perder cerca de R$ 30 milhões, por causa do projeto de lei orçamentária de 2021 que prevê redução de 18%.

De acordo com o MEC, “em razão da crise econômica em consequência da pandemia do novo coronavírus, a administração pública terá que lidar com uma redução no orçamento para 2021, o que exigirá um esforço adicional na otimização dos recursos públicos e na priorização das despesas”.

O MEC ressaltou que, com base no Referencial Monetário recebido pelo Ministério da Economia, a redução de orçamento para as despesas discricionárias da pasta foi de 18,2% frente à Lei Orçamentária Anual 2020, sem emendas. O percentual informado pelo MEC representa cerca R$ 4,2 bilhões de redução no orçamento da pasta.

A redução do orçamento apresentada no Projeto de Lei Orçamentária Anual 2021 vai ser encaminhada ao Congresso Nacional pela Presidência da República ainda este ano.

Fonte: G1

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