Pfizer e Astrazeneca são eficazes contra Delta, mas proteção cai com tempo | Exame

O Estado de S.Paulo, notícia também publicada em O Globo, Valor Econômico e Correio Braziliense
Jornalista: João Ker


20/08/21 – Um estudo feito pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, concluiu que as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca são eficazes contra a variante Delta, mas o nível da proteção tende a cair com o tempo. A pesquisa em formato preprint (sem revisão dos pares), publicada nesta quinta-feira, também apontou que a carga viral dos pacientes infectados pela Delta, mesmo após imunizados, é maior do que entre aqueles que contraíram o vírus por outras cepas. Mais transmissível, essa variante tem preocupado autoridades e desacelerado planos de reabertura econômica pelo mundo.

Ao todo, o estudo analisou 2,58 milhões de testes PCR referentes a mais de 380 mil adultos, entre dezembro de 2020 e maio deste ano, quando a variante Alfa, identificada originalmente no Reino Unido, era a principal causa das novas infecções. Os dados foram comparados com outros 811,6 mil testes de quase 359 mil adultos, coletados entre maio e agosto, já com a predominância da Delta.

Os resultados apontam para a eficácia de ambos os imunizantes contra a variante , após a aplicação das duas doses dos dois imunizantes. O estudo se limitou à análise de adultos. No caso da vacina da Pfizer, foi encontrada eficácia de 94% contra a Delta 14 dias após a segunda dose. Esse índice caiu ao longo do tempo, chegando a 90%, 85% e 78%, quando passados 30, 60 e 90 dias. A mesma tendência foi encontrada para a AstraZeneca, que 14 dias após a aplicação da segunda dose apresentou eficácia de 69% contra a Delta. Com uma queda menos abrupta, este índice chegou a 61% passados 90 dias da segunda aplicação.

Carga viral

Outra descoberta foi a de que a carga viral de pacientes infectados pela Delta, mesmo após tomarem duas doses da vacina, era muito maior do que aquela encontrada entre os casos de infecção pela Alfa, por exemplo. Ainda não é claro o que isso significa exatamente, mas uma das implicações é a confirmação de que a Delta é altamente mais transmissível.

A pesquisa também apontou que indivíduos já imunizados e que foram previamente infectados pela covid-19 apresentaram mais proteção contra o vírus do que aqueles que nunca haviam contraído a Sars-CoV-2. A diferença foi de 88% para 68%, entre aqueles imunizados com a AstraZeneca; e de 93% para 85%, entre quem recebeu as duas doses da Pfizer.

Ambos os imunizantes também oferecem mais proteção às pessoas mais jovens, de acordo com o estudo. No caso da Pfizer, a eficácia caía de 90% para aqueles entre 18 e 35 anos, para uma taxa de 77% entre quem tinha de 35 a 64 anos. Para a AstraZeneca, as taxas variaram de 73% a 54% nessas faixas etárias, respectivamente.

Para Monica Levi, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a pesquisa expõe a importância de os jovens tomarem cuidado diante do risco de transmissão, especialmente se tiverem contato com idosos ou pessoas com comorbidade. “Algumas vacinas não têm a capacidade de esterilizar, que é interromper a capacidade do indivíduo de transmitir o vírus”, explica.

Terceira dose

O aumento de infecções e óbitos entre idosos já vacinados – como foi o caso do ator Tarcísio Meira, que morreu aos 85 anos na semana passada – levou o Ministério da Saúde do Brasil a avaliar a aplicação de uma terceira dose em grupos mais vulneráveis, como idosos.
Nesta quarta-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou que o governo federal considere essa estratégia para quem tomou a Coronavac. Já o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a aplicação de uma terceira dose começaria justamente por idosos e profissionais de saúde – a exemplo de como foi iniciada a campanha original.

Outros países – como Israel, Chile e Uruguai – já começaram a adotar a injeção de reforço.
Nesta semana, o governo americano também anunciou que vai aplicar essa dose extra n a partir de setembro, enquanto o país voltou a superar o patamar de mil mortes diárias.
Especialistas se dividem sobre a estratégia da terceira dose da vacina no Brasil. Parte dos médicos e cientistas fala em risco de mais infecções diante de uma queda da proteção vacinal. Já outros acreditam ser melhor ampliar a parcela da população adulta vacinada e, assim, reduzir as chances de contágio.

Imunidade de rebanho

Com o avanço da Delta, especialistas dizem ainda que a imunidade de rebanho para o coronavírus é uma realidade distante – se é que chegará um dia. “Ainda estudamos se é possível atingir isso para os coronavírus já existentes ou para vírus respiratórios de forma geral. É uma questão aberta”, explica Luana Costa, professora de Microbiologia da Universidade Federal do Rio (UFRJ). "O fato de existirem variantes só demonstra que precisamos de outras ferramentas da contenção do vírus. E que só a vacinação, pelo menos nesse estágio em que o mundo está, não é por si só suficiente.”

Enviar-me um e-mail quando as pessoas deixarem os seus comentários –

DikaJob de

Para adicionar comentários, você deve ser membro de DikaJob.

Join DikaJob

Faça seu post no DikaJob