PME: Cannabis abre oportunidades a pequenos

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O Estado de S.Paulo 

Jornalista: Marina Dayrell

30/09/20 - Entre alimentos, medicamentos, cosméticos, roupas, materiais de construção e biocombustíveis, existem cerca de 25 mil itens que podem ser produzidos a partir da planta Cannabis nos países em que o mercado é regulamentado. No Brasil, onde a legislação permite desde dezembro de 2019 apenas a importação e a produção para fins medicinais (e onde o cultivo é proibido, salvo casos decididos por liminar), as pequenas empresas que fazem parte do chamado “cannabusiness” caminham pelas bordas, promovendo serviços auxiliares.

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“Na regulamentação que existe, entrar no âmbito farmacêutico acaba não sendo um jogo para as pequenas empresas porque a regulamentação é muito exigente. É mais fácil uma indústria que já trabalha nessa regulamentação inserir mais um produto no portfólio do que uma empresa que entende de cannabis virar uma farmacêutica. O papel das pequenas e médias agora é o de atuar como facilitadoras importando produtos, ajudando a registrar a qualidade e gerando serviços auxiliares, que não toquem diretamente na planta”, explica Fabrício Pamplona, farmacologista e diretorcientífico da Proprium, multinacional que desenvolveu exame capaz de medir a capacidade do paciente de metabolizar canabinóides (compostos químicos da cannabis).


O setor pode ser lucrativo. Só em 2018, o mercado global de cannabis movimentou US$ 18 bilhões, segundo a consultoria norte-americana New Frontier Data, especializada no tema.


No Brasil, a estimativa é que, nos próximos três anos, o mercado ligado ao uso medicinal da planta deve movimentar R$ 4,6 bilhões. Mas, para isso, é preciso ir além das barreiras atuais da desinformação, do estigma e do preconceito.


O ‘cannabusiness’

 

Para entender o mercado da cannabis, é preciso primeiro compreender onde ele começa. A espécie de planta Cannabis sativa dá origem a várias composições (chamadas de canabinóides, veja quadro ao lado). De uma maneira simplificada, uma das diferenças mais importantes entre elas é a capacidade de gerar THC (tetra-hidrocanabinol) e CBD (canabidiol).  As duas substâncias atuam no sistema nervoso central, mas é a quantidade de THC que faz com que a maconha seja utilizada como psicotrópico, é ela que dá o “barato”.


Tanto o THC quanto o CBD possuem uso medicinal, mas é o CBD que se popularizou nesse mercado nos últimos anos por ser uma substância muito segura. É ele que dá origem a uma variedade imensa de produtos, como os listados no início desta reportagem.


“O cânhamo foi proibido junto com a maconha sem motivo algum. A nossa luta agora é trazer para os legisladores essa diferença, sem deixar o THC como vilão porque ele não é, mas que o estigma que o THC tem não atrapalhe a indústria do cânhamo. Este pode gerar muitos empregos, impostos e produtos de alta qualidade”, diz Marcelo Grecco, cofundador da The Green Hub, consultoria e aceleradora de startups voltadas ao mercado da cannabis.


Em relação à legislação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) permite hoje a importação de medicamentos à base de cannabis, a partir de prescrição médica, e também a importação de matéria-prima semielaborada para que empresas nacionais fabriquem produtos para fins medicinais.


“A grande trava do Brasil hoje é a insegurança jurídica. Muitas iniciativas são baseadas em liminares, mas falta uma regulamentação firme, que deixe as regras claras para o mercado poder operar sem percalços”, diz Emílio Figueiredo, advogado especializado na questão da cannabis. Para ajudar as empresas a entrarem nesse mercado, ele fundou em 2018, ao lado de três sócios, a Sinapse Social – consultoria jurídica e estratégica para negócios de impacto social que atuam com cannabis. Hoje, a empresa tem seis clientes ativos e chegou a ter mais de 50 consultas em 2020, com destaque para empresas estrangeiras que querem atuar no mercado brasileiro.


Também atuando pelas bordas e com foco no incentivo às empresas, desde 2017 a The Green Hub opera com inteligência de dados, consultoria e aceleração no mercado da cannabis. Formada por cinco amigos, a empresa começou no fomento à parte medicinal, mas hoje já foca no que chamam de visão global da cannabis.


“Fomos crescendo e percebemos a visão da cannabis como commodity, como agronegócio.
Se a gente não começar a tirar o estigma e liberar o plantio, não vamos surfar essa onda que o mundo está surfando e explorar esse potencial de bilhões de reais”, diz Grecco.


Apoio científico

 

Em parceria com a farmacêutica alemã Merck, a Green Hub abriu até 13 de novembro as inscrições para sua segunda chamada de aceleração de startups. Podem se inscrever projetos de todas as áreas, com exceção do uso recreativo (psicotrópico) da cannabis. As selecionadas terão apoio científico para desenvolver produtos e assistência na captação de investimentos.

Uma das empresas já aceleradas pela The Green Hub é a fintech Cannapag, que chega ao mercado no fim de outubro. O negócio surgiu em João Pessoa (PB), pela experiência do sócio Mizael Cabral na Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (Abrace), entidade sem fins lucrativos que apoia famílias no tratamento de patologias com cannabis medicinal.

“Quando foi abrir conta bancária, a associação teve diversos problemas. Nunca encontramos banco ou fintech que entendesse o que estávamos fazendo porque o preconceito é muito grande. Tivemos inúmeros pagamentos não liberados, o que dificultava a aquisição de produtos pelos pacientes. Então, vimos que precisávamos de solução de nicho”, diz Cabral.

A Cannapag já tem a Abrace e outras duas empresas como primeiros clientes. Entre os serviços oferecidos a pacientes e empresas estão conta digital, cartão de crédito, máquina para pagamento, contas salário para colaboradores e transferências.

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