Polícia fecha 8 farmácias que seriam ligadas ao tráfico

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O Globo
Jornalista: Rafael Nascimento de Souza

22/10/20 - Vinte farmácias que seriam utilizadas pela milícia chefiada por Wellington da Silva Braga, o Ecko, foram alvos de mandados de busca e apreensão nesta quarta-feira. Os estabelecimentos, segundo a Polícia Civil, eram usados para lavar o dinheiro do grupo que atua principalmente nas Zona Oeste e Baixada Fluminense. Uma das fontes de renda seria a rede de farmácias Cumani, que tem filiais em diversas regiões onde a milícia atua. O Conselho Regional de Farmácia (CRF) acompanhou a ação que ocorreu em sete bairros. Até 11h20, dez pessoas haviam sido presas e oito farmácias interditadas.

Segundo a Polícia Civil, foram encontrados medicamentos de uso controlado e anabolizantes de comercialização proibida. Os produtos apreendidos foram levados para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho.

— Gerentes e responsáveis legais pelas farmácias foram presos. Além de lojas funcionando sem as licenças, encontramos medicamentos de uso controlado sem autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o que configura crime contra a saúde pública. Estamos analisando alguns (remédios) que poderão configurar crime de tráfico de drogas — disse Felipe Curi, delegado titular do Departamento Geral de Polícia Especializada (DGPE)

A operação é mais um desdobramento da força-tarefa da Polícia Civil, criada para combater o crime organizado na Baixada Fluminense e também na Zona Oeste e evitar que exerçam algum tipo de influência nas eleições deste ano.

Na filial da farmácia Cumani na Rua Carvalho de Souza, em Madureira, os investigadores verificaram os documentos do estabelecimento e vasculharam o depósito onde são armazenados medicamentos. Às 10h, a polícia determinou que o estabelecimento fosse fechado e e interditado.

Ao todo, sete funcionários foram dispensados e tiveram que voltar para casa. Os dois responsáveis, um gerente e um farmacêutico, foram detidos e conduzidos à Cidade da Polícia para prestarem esclarecimentos. Diversos relatórios e medicamentos foram apreendidos.

Além das lojas da Cumani em Madureira, os investigadores estivarem em filiais de Campo Grande, Santa Cruz, Cosmos, Paciência e Urucânia (sub-bairro da Zona Oeste). A rede de farmácias a preços populares também está presente em Duque de Caxias, Nova Iguaçu e Itaguaí.

De acordo com o CRF, a empresa não tem licença junto ao órgão para abrir filiais.

— Nessa empresa, recebemos muitas denúncias de que havia uma abertura de filias, mas elas estavam ilegais que configuram tráfico. Apreendemos muitos enternecestes nesses locais — disse Denise Ribeiro, porta-voz do CRF.

O GLOBO tentou localizar a direção da empresa ou o escritório que representasse a Cumani mas não conseguiu contato em nenhum dos telefones disponibilizados no site.

O Portal dos Procurados oferece uma recompensa de R$ 10 mil pela captura de Ecko. O anonimato é garantido. O telefone para a denúncia é o (21) 2253-1177.

Ameaças a fiscais

André Neves, titular da Delegacia do Consumidor (Decon), afirma que a milícia passou a ameaçar fiscais do Conselho de Farmácia em áreas dominadas por grupos paramilitares. A partir dessas denúncias, os investigadores acreditam que essas empresas eram utilizadas para a lavagem de dinheiro dos criminosos.

— Essa investigação começa a partir de notificações do CRF. Fiscais do órgão receberam ameaças de morte durante as fiscalizações (em área de milícia) e a partir daí comecemos a apuração. Hoje, chegamos nesses locais e encontramos dezenas de medicamentos controlados sem permissão e autorização da Anvisa. Além isso, muitas dessas lojas estavam sem alvará de funcionamento — afirmou Neves.

Neves destacou a importância de preciso combater o braço financeiro desse grupo paramilitar.

— Sabemos que a milícia tem vários braços financeiros, e farmácia é um deles. Há suspeita de lavagem de dinheiro e as investigações estão em andamento para atacar esse grupo que lucra com o dinheiro alheio — afirmou o delegado.

Todos os detidos responderão pelos crimes contra a saúde pública, economia popular, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro.

— Vamos analisar a conduta de cada um, e essa investigação prossegue.

Como funciona a fiscalização de farmácias

No estado, toda farmácia precisa estar regularizada junto ao Conselho Regional de Farmácia (CRF) do Rio para poder funcionar. Para isso, o estabelecimento precisa cumprir obrigações como dispôr de pelo menos um farmacêutico durante horário de funcionamento e atender a adequações sanitárias, como armazenamento correto de medicamentos controlados.

A fiscalização é feita, inicialmente, pelo CRF. Mas o conselho não tem poder de polícia e não pode interditar estabelecimentos, atribuição que cabe à Vigilância Sanitária ou à própria polícia. Assesora da diretoria do CRF, Denise Ribeiro explicou que, na constatação de ilegalidades mais graves, como constatação de farmácia clandestina, as denúncias são encaminhadas ao Ministério Público ou órgãos competentes.

— Nas nossas fiscalizações, questionamos o farmacêutico registrado, no caso de irregularidades. Se for algo mais grave, que necessite interdição de estabelecimento, encaminhamos aos órgãos competentes — explica Denise, que cita a recorrência de casos em que medicamentos de carga roubada são vendidos. — Acontece de encontrarem produtos sem nota fiscal. Na operação de hoje, foram encontrados remédios de empresas ilegais, então não sabemos a procedência dos produtos.

Braço financeiro da milícia

A operação atinge o braço financeiro do grupo paramilitar chefiado por Wellington da Silva Braga, o Ecko. A ação tem como objetivo asfixiar as fontes de renda e interromper comércios e serviços ilegais, que geram lucro para a organização criminosa.

Somente este mês, dois candidatos a vereador em Nova Iguaçu foram assassinados. Mauro Miranda da Rocha (PTN) foi morto no dia 1º em uma padaria. Quase dez dias depois, Domingos Barbosa Cabral (DEM), também foi morto a tiros no município.

A operação desta quarta-feira conta com as equipes dos Departamentos de Polícia Especializada. Além da Delegacia do Consumidor (Decon), Delegacia de Defesa dos Serviços Delegados (DDSD); Delegacia de Repressão aos Crimes Contra a Propriedade Imaterial (DRCPIM); Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA); Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e Divisão de Capturas da Polícia Interestadual (DC-Polinter).

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