Primeiro dia de lockdown em Santos (SP) tem praias vazias

Primeiro dia de lockdown em Santos (SP) tem praias vazias, lojas fechadas e ciclistas nas ruas - 23/03/2021 - São Paulo - Agora

Folha de S.Paulo 
Jornalista: Alfredo Henrique

Com sol forte e temperatura na casa dos 29º C, o primeiro dia de lockdown nesta terça-feira (23)? em Santos (72 km de São Paulo) foi com praias desertas, comércios não essenciais fechados e os que podem realizar vendas, como padarias e mercados, controlando o acesso de clientes. Em contrapartida, a ciclovia na orla da praia mantinha um fluxo contínuo de ciclistas.

As medidas mais restritivas foram anunciadas pela Prefeitura de Santos, gestão Rogério Santos (PSDB), na semana passada com o objetivo de frear as infecções e mortes provocadas pela pandemia da Covid-19. As outras oito cidades da Baixada Santista também aderiram ao lockdown, que vale até 4 de abril.

Guardas-civis fazem ronda na praia do Gonzaga, em Santos (SP), no primeiro dia de lockdown na Baixada Santista para conter o avanço do novo coronavírus na região - Rubens Cavallari/Folhapress
Nas ruas e no calçadão, algumas pessoas desrespeitaram as restrições ao realizar atividade física ao ar livre após as 8h. Outras caminhavam sem máscara de proteção pelo calçadão, mesmo com o local bloqueado com faixas, para inibir a circulação de pedestres.

Com as novas restrições, somente farmácias e hospitais, incluindo veterinários, podem funcionar nas cidades litorâneas, que decretaram regras para o funcionamento de comércios essenciais, como padarias e supermercados, e também para a circulação de pessoas nas ruas.

O ajudante operacional João Paulo Haddad, 28 anos, aguardava um ônibus intermunicipal para retornar à Praia Grande, por volta das 9h10, na avenida Bernardino de Campos, perto da Vila Belmiro. Neste horário, ônibus municipais estão proibidos de circular em Santos.


“Vim fazer um exame, aquele do cotonete [RT-PCR], para o coronavírus. Quando o resultado sair, em cinco dias, vou ficar sabendo se posso começar no emprego novo”, afirmou, se referindo a uma vaga que conquistou em uma empresa de Cubatão. Ele afirmou que os ônibus estavam mais vazios nesta terça.

Haddad já foi infectado pela Covid-19, em setembro, e acredita ter contraído o vírus por meio do irmão, que também testou positivo para o novo coronavírus após permanecer uma semana trabalhando em um navio. “Tirando que não fiquei sem falta de ar, senti todos os outros sintomas como febre e moleza. Chega a ser uma ironia, pois sou um fumante inveterado”, afirmou.

A entrevista com Haddad foi interrompida, logo em seguida, por dois homens sem máscara de proteção, que ameaçaram a reportagem. “Melhor vocês [repórter e fotógrafo] saírem logo daqui. Se não fizerem isso, vou partir para a ignorância”, ameaçou o mais exaltado da dupla, que caminhou até uma residência e lá permaneceu.

Na avenida Ana Costa, dez pessoas em uma fila aguardavam para entrar em um supermercado, por volta das 9h30. Segundo o decreto municipal, supermercados, açougues, padarias e distribuidoras de gás podem ter atendimento presencial, em Santos, de segunda a sexta-feira, das 6h às 20h, mas com limite de clientes.

A aposentada Dirce Carvalho, 67 anos, aguardava para entrar no mercado e fazer sua compra semanal de mantimentos. Ela afirmou ter percebido um fluxo “bem menor” de pessoas caminhando pelas ruas nesta terça, mas também pontuou que o fluxo de carros observado pela manhã “é praticamente o mesmo”, em relação à semana passada.

“Concordo com esse lockdown, pois ele está obrigando as pessoas a ficarem em casa. Precisa mesmo esvaziar as ruas para diminuir o número de mortes do pessoal que pega a Covid-19”, disse a idosa. Ela afirmou que pegou Covid-19, junto com o marido de 77 anos, em setembro. “Perdi o paladar e senti dores pelo corpo, mas consegui, assim como meu marido, me recuperar em casa mesmo”, acrescentou.

Pela orla da praia do Gonzaga, centenas de ciclistas trafegavam pela ciclovia, por volta das 9h50, da mesma forma que veículos pela avenida Presidente Wilson, contrastando com a faixa de areia deserta e isolada com telas.

Quando a reportagem caminhava pela areia para registrar imagens, dois guardas-civis municipais, cada qual em um quadriciclo, realizou uma abordagem. Ao saberem que falavam com uma equipe de jornalistas, liberaram o acesso. Eles disseram que a população está respeitando a proibição de permanecer na faixa de areia. "As abordagens são muito raras”, disse um dos guardas.

Ainda na avenida Presidente Wilson, o Agora flagrou dois ônibus municipais, com cinco passageiros cada um deles, por volta das 9h50. Este tipo de veículo só pode trafegar pela cidade, durante o lockdown, das 5h30 às 8h30 e das 15h30 às 19h30, exclusivamente para trabalhadores de serviços essenciais.

Rodoviária vazia
Menos de dez pessoas estavam na rodoviária de Santos, por volta das 14h30 desta terça, aguardando para embarcar em algum ônibus, ou para pegar uma carona, como a motorista de aplicativo Luana Lourenço, 22 anos.

Ela havia acabado de chegar de um ônibus, vindo de Itanhaém, onde mora, para se encontrar com o pai na rodoviária de Santos, de onde ambos iriam de caminhão para Minas Gerais.

“Senti que a viagem de Itanhaém para Santos foi bem mais rápida hoje [terça], com o ônibus quase vazio. Foram feitas somente duas paradas no percurso e, geralmente [antes do lockdown] são feitas umas dez”, destacou.

Luana afirmou concordar com o lockdown, reforçando para que as pessoas mantenham distanciamento e respeitem medidas de proteção. “Perdi uma prima de 35 anos para a Covid-19, no Paraná, e dois tios ficaram muito mau depois de pegar o vírus. Se cuidem por favor”, afirmou.

Perto de Luana, a malabarista Rafaela Vieira Nascimento, 26 anos, aguardava um ônibus para Goiânia (GO), para onde iria com a filha de 8 anos. Rafaela permaneceu no litoral por cinco dias, pois veio à região buscar a filha, que estava na casa do pai.

Segundo a malabarista, ela ficou hospedada em uma comunidade no Guarujá onde, afirmou, as pessoas circulam pela rua “normalmente”. “Os centros das cidades ficam vazios mesmo. Mas as periferias, não. E não ficam porque as pessoas precisam se virar. Não adianta falar para se isolar em casa, mas sem dar respaldo como auxílio financeiro”, afirmou.

A malabarista acrescentou que sua mãe vive em Portugal, país que conseguiu diminuir os casos de infecção e morte, provocados pelo novo coronavírus, após adotar isolamentos mais rígidos, como o lockdown. “Mas lá deu certo pois o governo ajudou financeiramente as pessoas. Isso, aqui [no Brasil], não acontece.”

Em frente à rodoviária taxistas aguardavam desanimados eventuais clientes. Um deles afirmou, pedindo anonimato, que havia feito somente duas corridas desde o início da manhã, até por volta das 14h. “Antes disso [lockdown] já teria feito no mínimo oito”, disse.

Quem descumprir as regras do lockdown estará sujeito a multas que variam entre R$ 300 e R$ 10 mil. A fiscalização ficará por conta da Polícia Militar, Guarda Municipal, Procon e Sefin (Secretaria Municipal de Finanças).

Praia Grande deserta
A orla da Praia Grande estava praticamente deserta na tarde desta terça-feira (23), da mesma forma que suas praias. Somente ciclistas, a maioria sem máscaras de proteção, circulavam pela ciclofaixa, ao lado da faixa de areia, bloqueada com fitas plásticas.

Somente o tráfego de veículos se mantinha intenso, por volta das 16h, na avenida Presidente Castelo Branco.

Praia Grande e outras oito cidades da Baixada Santista decretaram lockdown, iniciado nesta terça e que se estende ao menos até o próximo dia 4. As medidas mais restritivas de circulação foram tomadas para frear o aumento de infecções, mortes e internações decorrentes do novo coronavírus.

A reportagem trafegou por toda a extensão da orla da cidade, no fim da tarde desta terça, constatando que comércios e quiosques estavam fechados. A única circulação vista nas areias foi a de viaturas de GCM (Guarda Civil Municipal) que circula pelas praias para evitar eventuais descumprimentos às medidas de isolamento, entre elas a proibição de permanecer nas praias da cidade.

Caso encontrem eventuais banhistas, eles são orientados a sair da praia. O mesmo tipo de orientação é dado para pessoas também flagradas no calçadão, que também está bloqueado para pedestres.

Resposta
A GCM informa que, na manhã desta terça-feira (23), foram registradas 12 abordagens a munícipes sobre o uso da praia no lockdown e de máscara na região da orla. Não foi necessária a aplicação de multas até o momento. A maioria da população aderiu às medidas em vigor. Irregularidades devem ser denunciadas pelos telefones 153 (GCM), 162 (Ouvidora) e 190 (PM).

A Prefeitura de Santos informa que, de acordo com o Decreto 9.270, de 21/03/21, as viagens do transporte coletivo municipal estão autorizadas, de segunda a sexta-feira, em horários específicos. No período da manhã, os trajetos têm início às 5h30, sendo que a última partida dos ônibus (da garagem) deverá ocorrer até às 8h30. Desta forma, informamos que não houve qualquer tipo de irregularidade nas linhas citadas pela Reportagem e nem na operação do transporte coletivo.

A Prefeitura ressalta que, em virtude do crescimento exponencial de casos de covid-19 e internações causadas pela doença, o Município decretou lockdown, além de restringir o acesso de pessoas aos jardins, calçadão e faixa de areia da orla da praia. A fiscalização é feita pela Guarda Civil Municipal (GCM) com apoio da Polícia Militar. O uso obrigatório da máscara facial também é fiscalizado.

A GCM orienta os munícipes sobre proibição de uso destes espaços. Em caso de descumprimento, o infrator poderá ser encaminhado ao distrito policial. O Artigo 268 do Código Penal estabelece como crime o ato de infringir determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa. Este crime é passível de multa (estabelecida pela Justiça) e detenção de um mês a um ano.

Sobre a ocorrência envolvendo as duas mulheres citadas pela reportagem, a GCM esteve no local e não constatou a presença de nenhum banhista. Com relação à obra mencionada, a fiscalização foi a campo averiguar a denúncia feita pelo jornal. Vale ressaltar no período de lockdown estão permitidas apenas obras emergenciais.

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