Receita dos hospitais deve cair de 30% a 40%

Valor Econômico
Jornalista: Beth Koike


29/05/20 - Apesar do expressivo aumento de pacientes acometidos pelo novo coronavírus, os hospitais privados projetam queda de receita entre 30% e 40% neste ano devido ao cancelamento de outros procedimentos médicos, cuja rentabilidade é maior. Há ainda o impacto da escalada de preços e de demanda de materiais como máscaras de proteção, luvas, álcool em gel e respirador pulmonar. O grupo formado pelos 122 maiores hospitais privados do país, associados à Anahp, estima encerrar o ano com faturamento de R$ 30,6 bilhões, o que representa uma queda de 30% quando comparado a 2019. No período imediatamente anterior, a receita cresceu 9%.

Considerando o setor como um todo, formado por 4,2 mil hospitais privados com ou sem fins lucrativos, a projeção é de uma queda mensal de R$ 800 milhões no lucro operacional no período em que persistir a pandemia. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Saúde (CNSaúde), esse resultado leva em consideração uma estimativa de redução de 28% no volume de cirurgias eletivas, aumento de 10% em afastamento de pessoal devido à contaminação e alta de 15% no preço dos insumos e materiais médicos. A margem Ebitda cai de 5% para -8,7%, de acordo com Bruno Sobral, diretor da CNSaúde.

Segundo Marco Aurélio Ferreira, diretor-executivo da Anahp, o custo dos equipamentos de proteção individual (EPIs) nos hospitais associados à entidade aumentou 300% e a demanda teve um salto de 200%, entre janeiro e abril, quando comparado ao mesmo período do ano passado.

Essa combinação de queda de receita e aumento de custos deve impactar a rentabilidade do setor. Muitos hospitais têm acordos com operadoras de planos de saúde que pagam um valor fixo por procedimento médico, e não são mais remunerados pela chamada conta aberta. Segundo fontes do setor, algumas operadoras não estão aceitando negociar esse aumento de custos. Até o momento, essa alta nos gastos com materiais não se refletiu em elevação da inflação médica, que poderia levar a um reajuste maior dos planos de saúde. Isso porque esse aumento dos insumos está sendo compensado pela redução na frequência de procedimentos. No entanto, a variação da inflação médica depende ainda do ritmo de retomada dos procedimentos eletivos e das negociações com operadoras para repasse desses custos.

No começo da pandemia, houve orientação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) e do Ministério da Saúde para que os procedimentos médicos fossem postergados a fim de que os leitos fossem liberados para atender os pacientes com ou suspeita de covid-19. A classe social que possui convênio médico conseguiu manter-se em isolamento social, o que ajudou a diminuir as internações na rede hospitalar privada - movimento contrário ao que ocorre, hoje, entre os mais pobres e que está levando à lotação na rede pública de saúde.

No HCor, em abril, a taxa de ocupação era de 60% e a receita foi 50% menor. Em maio (até dia 28), o percentual de leitos ocupados aumentou para 70% e o impacto da pandemia é 42,5%. “Para o ano, projetamos que nossa receita caia 8%, para R$ 707 milhões. Esperamos que haja uma retomada dos demais procedimentos médicos nos próximos meses, o que compensa um pouco essas perdas”, disse Fernando Torelly, superintendente corporativo do HCor, que atualmente, analisa se mantém os planos de expansão do hospital, que previam uma nova área de oncologia e laboratório de medicina diagnóstica.

Adelvânio Francisco Morato, presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), diz que a situação dos pequenos e médios hospitais é a mais crítica porque muitos deles não têm infraestrutura e pessoal treinado para atender pacientes com covid-19 e, ao mesmo tempo, viram uma redução relevante de cirurgias. Cerca de metade dos hospitais do país tem menos de 50 leitos e muitos deles são focados em procedimentos médicos eletivos. “Há hospitais que registraram queda de até 60% no volume de atendimentos. No caso de atendimentos oncológicos, a redução é de até 70% na procura por exames e tratamentos”, disse Morato.

A crise nos hospitais abriu uma oportunidade para os grupos consolidadores de saúde. A NotreDame Intermédica, operadora verticalizada de planos de saúde, informou que acelerou as negociações de compra de hospitais tendo em vista o atual cenário. Segundo Irlau Machado, presidente da NotreDame Intermédica, que já tem no radar dez ativos no Sul do país, há hospitais com 35% de taxa de ocupação.

Torelly, do HCor, acredita que numa retomada mais consistente a partir da metade do ano. No entanto, a receita apurada nos últimos meses do ano só deve ser contabilizada no começo de 2021, porque os hospitais levam até 80 dias para receber das operadoras. Os hospitais chegaram a pleitear junto às operadoras de planos de saúde um pagamento mensal com base nos valores recebidos em 2019 que seriam debitados nos meses seguintes à pandemia, mas o pedido não foi atendido. Uma das possibilidades era que as operadoras usassem o dinheiro de suas reservas para pagar os prestadores de serviço, porém, não se chegou a um acordo com a ANS.

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