O Globo 

Jornalistas: Lucas Altino e Luiz Ernesto Magalhães

Os salários atrasados de 16 mil profissionais da Saúde terceirizados o um indício de que as contas da pasta correm o risco de fechar o ano no vermelho. O vereador Paulo Pinheiro (PSOL), presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal, calcula que a futura gestão vai herdar uma dívida de R$ 800 milhões apenas no setor, com base em informações que ele obteve na própria prefeitura.

Levantamento feito pelo vereador mostra que a Saúde do município já empenhou (contratou serviços e o fornecimento de materiais e equipamentos) R$ 5,977 bilhões este ano. Neste valor, diz Paulo Pinheiro, estão incluídos o 13º e os salários de dezembro (pagos em janeiro). A Rio Saúde, empresa pública que administra mais da metade das unidades da rede municipal, já quitou metade do abono natalino de seus funcionários, mas até agora não depositou os vencimentos de novembro.

Sem pagamento, funcionários esta semana recorreram ao Tribunal Regional do Trabalho. O presidente Sindicato de Médicos do Rio, Alexandre Telles, diz que o diálogo com a prefeitura só vem piorando e que muitos profissionais já faltaram nesta quarta-feira ao plantão. Um funcionário do Hospital de Campanha do Riocentro, que preferiu não se identificar, disse que cerca de 15% dos 130 médicos não apareceram na unidade:

— Com isso, ficaram, em média, 25 pacientes para cada médico, quando o normal é uma proporção de 12 a 13 doentes.

Do valor empenhado na área de saúde, a prefeitura já liquidou (reconheceu que o serviço foi prestado) R$ 5,079 bilhões, mas só pagou R$ 4,65 bilhões. Isso significa que a dívida está hoje em R$ 429 milhões, mas pode chegar a R$ 1,327 bilhão se tudo aquilo que foi contratado for executado e reconhecido pela prefeitura. Como o ano ainda não terminou, essa diferença ainda pode ser paga se o município tiver dinheiro em caixa. Procurada, a Secretaria municipal de Saúde não respondeu se terá a verba para cobrir as despesas.

— Entre as dívidas da Saúde, as mais altas são as com as Organizações Sociais. Depois, vêm os contratos de alimentação e, sem seguida, a compra de gases medicinais e medicamentos — disse Paulo Pinheiro.

Segundo o vereador, que é médico, apenas a Rio Saúde precisa de R$ 200 milhões para pagar seus gastos até o fim do ano. No Portal de Transparência, consta que, em 2020, a empresa empenhou R$ 960 milhões, liquidou R$ 705 milhões e pagou R$ 507 milhões — uma dívida que vai de R$ 198 milhões a R$ 453 milhões.

Como se não bastassem as dívidas, parte dos equipamentos que a prefeitura comprou no ano passado na China para modernizar o parque tecnológico da rede pública permanece encaixotada no Hospital Ronaldo Gazolla, em Acari, onde há leitos desativados enquanto pacientes com Covid-19 sofrem na fila por internação. Em visita à unidade, o futuro secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, contou cerca de 50 respiradores e 50 monitores cardíacos, além de autoclaves e outros insumos, sem uso. O material chegou ao Rio em abril e maio em voos fretados pela prefeitura para equipar a rede durante a pandemia.

— A conclusão é que a prefeitura comprou equipamentos em excesso na China. Mesmo com esses equipamentos nas caixas, hoje, a rede tem leitos plenamente equipados e fechados em várias unidades por falta de pessoal. O Gazolla, por exemplo, tem 86 leitos indisponíveis. O Riocentro jamais funcionou em sua capacidade plena — criticou Soranz.

Inventário nos hospitais


O futuro secretário acrescentou que já pediu um levantamento sobre equipamentos e leitos fora de operação aos diretores de todas as unidades. Ele espera ter esse inventário até o fim do mês, para que seja enviado ao Tribunal de Contas do Município (TCM). Soranz disse ainda que recebeu a informação de que há sete tomógrafos — entre novos e usados — fora de operação na rede. O equipamento no Hospital da Piedade, por exemplo, estaria sem funcionar há dois anos. Outro está para ser instalado no Instituto de Medicina Veterinária Jorge Vaitsmann, em São Cristóvão, que já recebeu um dos aparelhos de ultrassom vindos da China.

A Secretaria municipal de Saúde (SMS) contesta Soranz e diz que há apenas três tomógrafos sem uso porque precisam de “ajustes”. Negou ainda que o equipamento do Hospital da Piedade esteja inoperante, mas confirmou que o centro veterinário receberá um tomógrafo desativado que está no Hospital Salgado Filho, no Méier. Antes da pandemia, a prefeitura firmou nove contratos no valor de cerca de R$ 300 milhões com a China Corporation. O pagamento foi dividido em parcelas que vão até 2024.

Em nota, o subsecretário executivo da SMS, Jorge Darze, acusou Soranz, que foi secretário de 2013 a 2016, de ter deixado a rede sucateada. Segundo ele, parte dos equipamentos armazenados no Gazolla será usada para abrir novos leitos de UTI nos próximos 15 dias.

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