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Imagem: Unsplash

Da Agência Bori

Com o crescimento da disseminação do novo coronavírus no país, aumentou também a preocupação com os trabalhadores que atuam na "linha de frente" do combate à pandemia. Os profissionais de saúde são aqueles mais diretamente afetados pela crise, na medida em que a população passa a depender deles para ter acesso a tratamento, mas também ficam extremamente expostos ao contágio da doença.

Para tentar compreender o impacto da covid-19 sobre os profissionais da saúde, o NEB (Núcleo de Estudos da Burocracia)), da EAESP-FGV (Escola de Administração de Empresa de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), realizou a pesquisa "A pandemia de covid-19 e os profissionais de saúde pública no Brasil".

O survey online foi realizado com 1.456 profissionais da saúde pública, de todos os níveis de atenção e regiões, entre os dias 15 de abril e 1º de maio de 2020. Em média, 64,97% dos profissionais da saúde entrevistados não se sentem preparados para lidar com a crise da covid-19.

Apenas 14,29% se sentem preparados e o resto não sabe responder. Os estados do Norte e Nordeste parecem estar em situação ainda mais frágil quanto à preparação dos profissionais. E, dentre os profissionais analisados, os agentes comunitários de saúde (ACS) e agentes de combate à endemia (ACE) são aqueles que se sentem mais despreparados (apenas 7,61% se sentem prontos para enfrentar a crise). O índice é também bastante preocupante entre profissionais de enfermagem, dos quais apenas 20,09% dizem se sentir preparados.

Os resultados indicam que o medo é um sentimento comum para os profissionais da saúde que atuam na linha de frente, independente da região, do nível de atenção ou da profissão. Segundo os dados coletados, 91,25% dos ACS e ACE sentem medo da doença; enquanto o medo atinge 84,31% dos profissionais da enfermagem, 77,68% dos médicos e 88,24% de outros profissionais das equipes ampliadas da saúde. Mais de 55% dos profissionais de saúde conhecem alguém que se contaminou ou foi diagnosticado com suspeita de covid-19.

"A pesquisa mostra que os profissionais de quem mais dependemos para enfrentar a pandemia estão em situação de extrema vulnerabilidade. Há escassez de equipamentos de proteção, faltam informações e suporte governamental e a maioria não se sente preparada para lidar com a crise. Isso coloca esses profissionais em uma situação de muita fragilidade, na medida em que precisam estar na linha de frente, mas sentem medo e podem tanto adoecer como se tornarem vetores de contágio", avalia Gabriela Lotta, professora da EAESP-FGV, coordenadora do NEB e pesquisadora do Centro de Estudos da Metrópole.

"Importante lembrar que o Brasil já lidera o ranking de mortes entre profissionais de saúde em decorrência do covid-19. Quem vai cuidar de quem precisa cuidar de nós?", questiona Lotta.

EPI e treinamento
De acordo com o estudo, os resultados podem ser explicados por outros indicadores do questionário, como a disponibilidade de EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), o suporte governamental e o acesso a treinamentos.

Apenas 32% dos profissionais apontam ter recebido EPI, número que se torna alarmante no caso dos ACS e ACE: destes, apenas 19,65% receberam equipamentos de proteção. "Um trabalho de atendimento na ponta sem o devido EPI gera um risco altíssimo de contágio tanto para profissionais como para usuários dos serviços de saúde. Além disso, aumenta a insegurança desses profissionais e a hostilidade por parte dos pacientes", aponta Lotta.

Com relação ao suporte governamental, mais da metade dos entrevistados afirmam não sentir que o governo os apoia, sendo que esse número é muito maior quando avaliam o governo federal (67%) em relação ao estadual (51%). Sobre ao apoio direto de seus superiores, 71,82% dizem não sentir esse suporte.

A grande maioria afirma não ter recebido orientações ou ações oficiais de formação. Apenas 21,91% relatam ter recebido treinamento, sendo que a maioria corresponde a médicos. "É muito grave a maneira como os profissionais estão sendo expostos sem apoio, sem equipamento e sem informações. É como se estivessem sendo jogados num confronto vendados e desarmados. Se o Estado não consegue cuidar de seus próprios profissionais, como esperar que eles possam cuidar da população? Só com atos de heroísmo", afirma a pesquisadora.

Relação com pacientes
O estudo também analisou em que medida a crise alterou os processos de trabalho e as interações entre profissionais e usuários. Três em cada quatro entrevistados responderam que a crise alterou suas rotinas, com mudanças relativas ao fluxo de trabalho, procedimentos, mudança de prioridades, introdução de novas tecnologias, entre outras mudanças.

Com relação às interações, 88% dos profissionais afirmam que a crise alterou a maneira como se relacionam com os pacientes, sendo que o maior impacto citado diz respeito ao distanciamento físico. "Estas questões são bastante importantes para a saúde, especialmente para a atenção primária, onde o contato cotidiano e o toque físico são centrais para construção de vínculos com as famílias atendidas.

Como relatou uma ACS, "é muito ruim para o serviço não poder pegar na mão do paciente e dizer que tudo vai ficar bem". A crise, portanto, tem impactos importantes para além da doença em si, afetando a maneira como os profissionais se relacionam com os pacientes", analisa Lotta.

Dos 1.456 respondentes, 79% são mulheres, 19,6% homens e menos de 1% que preferiu não declarar. Quanto ao tempo de atuação, 64,84% dos profissionais exercem seu trabalho na respectiva área há mais de 10 anos e 65% têm vínculos prévios com o território ou nasceram na região onde trabalham.

Quanto à amostra, 60,44% são ACS e ACE, 14,01% profissionais de enfermagem, 8,31% médicos e 17,24% correspondem às demais profissões relacionadas às equipes ampliadas ou à gestão do serviço.

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