Startups ‘vegetais’ atraem investidores

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O Estado de S.Paulo 
Jornalista: Bruno Capelas


09/09/20 - Há cerca de um ano, uma nova categoria de produtos chegou aos supermercados: hambúrgueres que imitam carne, mas são feitos à base de vegetais, maionese sem ovos ou “leite”, com ingredientes como chicória e abacaxi.

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Gestado por startups que misturam algoritmos com engenharia de alimentos, o mercado plant-based (“à base de vegetais”, em inglês) pode ainda não ser a primeira opção à mesa do brasileiro, mas dá água na boca de investidores, que assinam cheques milionários de olho no potencial do setor. Hoje, mais um aporte vem à tona: uma rodada de US$ 85 milhões na chilena NotCo, presente no Brasil desde abril de 2019.


Liderado pelos fundos L-Catterton (ligado ao grupo LVMH, de marcas como Louis Vuitton) e Future Positive, do cofundador do Twitter, Biz Stone, o aporte reforça uma onda no setor. Na quarentena, as startups “vegetais” cresceram por uma combinação de fatores. Entre eles, mudanças de comportamento como o hábito de cozinhar em casa, a busca por alimentos saudáveis, além da preocupação – ética ou sustentável – com a cadeia de produtos de origem animal.
“É um movimento de antes da pandemia, mas que se intensificou a favor do plant-based”, diz Sérgio Molinari, presidente da consultoria Food Consulting. E o mercado só deve crescer: relatório da consultoria CB Insights aponta que a categoria deve movimentar US$ 2,7 trilhões globalmente em 2040. Além da NotCo, outro investimento no setor chama a atenção: o aporte de R$ 115 milhões na Fazenda Futuro, liderado pelo BTG Pactual na última semana.
Faz de tudo. Com o aporte, a NotCo pretende acelerar sua expansão no País – a expectativa de Luiz Augusto Silva, gerentegeral da NotCo no País, é de que o Brasil seja seu maior mercado até o fim de 2021. Para isso acontecer, a empresa aposta na expansão para as regiões Norte e Nordeste e em contratações.Até dezembro, pretende ter 60 pessoas em seu time no País – começou o ano com 20. No mundo, o total deve saltar de 200 para 300 funcionários.

A estratégia inclui ainda um portfólio de produtos variado – além de hambúrguer, há maionese, leite e sorvete – e um restaurante próprio, o WhyNot. Aberto só para delivery em São Paulo, o WhyNot foi criado quando a empresa percebeu que, na quarentena, não podia mais contar com a experimentação dos produtos em mercados. “No primeiro mês, acabamos vendendo quatro vezes mais do que esperávamos”, diz Silva. “Agora, talvez faça sentido ter mais WhyNots em outras cidades.”

O novo investimento na NotCo tem ainda uma última função: preparar a empresa para o mercado americano, em 2021. “Para empresas de consumo, é um caminho de amadurecimento ir para lá”, diz Silva.

Na carne

Quem também ensaia chegar aos EUA é a Fazenda Futuro, de Marcos Leta, criador dos sucos Do Bem. “Já estamos na Europa e vamos entrar nos EUA como Future Farm até o fim do ano”, diz Leta. Segundo ele, a disputa com pioneiras do plant-based, como Impossible Foods e Beyond Meat, não intimida.

“Podemos chegar com produto 30% mais barato nos EUA porque o Brasil produz muitos vegetais. Temos fabricação própria, e o câmbio está a nosso favor”, afirma Leta. Os recursos do aporte também serão usados para a evolução do principal produto da empresa. “Trabalhamos para o consumidor não perceber mais a diferença entre carne vegetal e animal.”

Quem também disputa espaço no mercado da carne vegetal é a New Butchers, que recebeu em julho um aporte de investidoresanjo – entre eles, Paulo Veras, cofundador da 99. Segundo Bruno Fonseca, fundador da startup, o cheque ajudará a empresa a quadruplicar, até o fim do ano, sua capacidade de produção – hoje, faz 20 toneladas de carne vegetal por mês.

A New Butchers também aposta em novos produtos: foi a primeira brasileira a lançar uma imitação de frango e, nesta semana, estreou a versão de salmão, à base de ervilhas. Uma bandeja com dois filés, somando 180 gramas, sai por R$ 25.

Jogo da imitação

A semelhança quanto aos produtos de origem animal é, ao mesmo tempo, trunfo e desafio das startups plant-based. De um lado, imitar carne pode ajudar a converter o consumidor que não pretende virar vegetariano, mas almeja reduzir o consumo de proteína animal. Mas a diferença ainda bastante perceptível pode trazer rejeição.

“No último ano, a evolução foi enorme, mas a reação do consumidor é de que o produto ainda não é igual à carne. Talvez não chegue tão cedo a ser igual”, diz Molinari, da Food Consulting. Já Silvio Laban, professor do Insper, vê outro empecilho no preço.
“A maioria dos produtos de substituição ainda é mais cara que o produto normal. É um desafio de escala e tributação.”

As atualizações também podem servir como um fator de contínua redescoberta, diz Molinari. “O mercado plant-based ainda não tem produtos finais. Ele avança ao mesmo tempo que os produtos são desenvolvidos, com o hábito do consumidor.
É questão de tempo.”

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