Tecnologia de Saúde: Startups de saúde atraem investidores

O Globo 
Jornalista: Mateus Campos

Em tempos pandêmicos, as soluções inovadoras na área da saúde ganharam novo fôlego entre médicos, pacientes e investidores. Prova disso é o crescimento recente das healthtechs, as startups de tecnologia do setor, que em maio bateram o recorde histórico anual de investimentos no Brasil. Ao todo, US$ 111,1 milhões (cerca de R$ 580 milhões) foram destinados a empresas nacionais que atuam nesse campo em 2021. Os dados integram o mais recente relatório distribuído pela plataforma Distrito, que monitora iniciativas e tendências nessa área.

Trata-se de mais um capítulo na ascensão das empresas baseadas em soluções tecnológicas para problemas da saúde. Com foco no digital, esses novos competidores privados da saúde atuam em várias frentes, desde apps de monitoramento a telemedicina, dispositivos vestíveis, robótica, big data e gestão.

O valor acumulado antes mesmo do fim do segundo trimestre é expressivo: para efeito de comparação, o setor movimentou US$ 430 milhões (cerca de R$ 2,2 bi) em investimentos entre os anos de 2014 e 2020. Desde 2017, a Distrito mapeia o ecossistema de inovação e empreendedorismo no país, não apenas na área da saúde. A plataforma de inovação utiliza dados e números do mercado para identificar e destacar as melhores iniciativas e práticas.

Pandemia acelera setor

Ao todo, mais de 30 mil empresas já foram avaliadas. Só no mês de abril, o observatório identificou 17 novas healthtechs no país, confirmando a tendência de crescimento do setor. Lilian Natal, sócia da Distrito, explica que a pandemia de Covid-19 acelerou o processo de desenvolvimento da área, que já vinha se destacando em anos anteriores:

— O setor da healthtechs é um dos que mais vem crescendo, quase como o das fintechs — explica Lilian Natal, que lidera o programa Distrito For Startups. – Com certeza, a pandemia foi um dos fatores que mais estimulou esse mercado. Principalmente para soluções como telemedicina, que vimos crescer muito ano passado, já que muitas pessoas não poderiam ir ao hospital para consultas. Quem resistia a esse tipo de solução acabou se adaptando. Da mesma forma, as empresas tradicionais de saúde, que ainda não acreditavam muito nessas inovações, acabaram se adaptando também.
Das 714 empresas identificadas pela Distrito como healthtechs brasileiras, a maior parte delas se concentra nas categorias de gestão e de prontuários eletrônicos do paciente (PEP): são 200, representando 28,01% do total. Elas são seguidas por 113 companhias focadas no acesso à saúde (15,83%) e por 89 empreendimentos especializados em fornecer soluções inteligentes para telemedicina (12,46%).

Se a categoria de gestão e PEP lidera no número de empresas, a realidade é bem diferente quando se fala em volume de investimentos. Em 2021, segundo o relatório, a categoria que abarca inteligência artificial e big data na área da saúde foi a preferida dos investidores, com um total de aportes de US$ 36,9 milhões (cerca de R$ 192 milhões).

— Na verdade, não é apenas uma tendência para as startups do setor de saúde, mas para empresas em setores dos mais diversos, como finanças, marketing e varejo — avalia Lilian. — Em breve, essas tecnologias vão se tornar commodities. Todo mundo está usando cada vez mais inteligência artificial e big data porque elas tornam as decisões mais assertivas.

No relatório, o resultado da categoria foi alavancado pelo expressivo desempenho da empresa 3778, que sozinha concentrou quase a totalidade dos aportes: US$ 36,4 milhões (R$ 190 milhões). Pelos números apresentados e potencial de crescimento, a companhia de Belo Horizonte foi escolhida a healthtech do ano pelo Distrito Awards.

Fundada pelo médico Guilherme Salgado, a 3778 conta com investidores de peso como Randal Zanetti, da Odontoprev, e a LTS Investments, dos sócios Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira. A empresa mira no mercado de planos de saúde corporativos, que atende cerca de 31 milhões de pacientes no Brasil. Ao todo, a 3778 concentra 1,13 milhão desses clientes. Em pouco mais de dois anos de operação, a companhia contabilizou R$ 3 bilhões em serviços através de sua plataforma.

AI e big data se destacam

Em outro relatório, que consolida os números referentes ao ano de 2020, o Distrito identificou que, a exemplo da 3778, 64% das healthtechs brasileiras estão concentradas no Sudeste. O restante se divide entre Sul (23,7%), Nordeste (7,6%), Centro-Oeste (4,2) e Norte (0,6%). Como acontece em outros mercados, o estado de São Paulo é o principal polo do país para empresas do gênero e concentra 43,1% delas. No ano passado, o setor empregava cerca de 10 mil profissionais em todo o território nacional.

O crescimento do setor no Brasil foi expressivo e reflete uma tendência verificada ao redor do mundo, embora as empresas do país ainda recebam uma parte muito pequena dos aportes dos investidores internacionais. De 2015 a 2020, segundo dados do Startup + Health, US$ 46,5 bi (R$ 243 bi) foram injetados em healthtechs em todo o planeta.

No mês passado, a americana Grail, que busca a detecção precoce do câncer por exame de sangue, anunciou uma rodada de financiamento no valor de US$ 390 milhões (R$ 2 bi). Em fevereiro do ano passado, a Karius, líder em biópsias líquidas para doenças infecciosas, garantiu US$ 165 milhões (R$ 862 milhões) em uma rodada semelhante.

Gastos em alta nos EUA

Surgida no Brasil em 2013, a DNA Capital é uma das mais reconhecidas empresas de investimentos com foco nas healthtechs. Hoje, a companhia tem alcance global e investe em 19 parceiras, que atendem cerca de 22 milhões de pacientes. Em 2019, a DNA abriu o seu primeiro escritório no exterior, localizado em San Francisco (EUA), em busca de uma fatia do mercado internacional. Sócio da empresa, José Guinle avalia que as oportunidades de negócios no território americano são promissoras:

— Atualmente, nosso portfólio de investimentos é bem equilibrado entre empresas brasileiras e americanas. As estruturas de ambos os mercados são muito parecidas, principalmente no setor privado —afirma o investidor.

Os EUA, conta, se encontram em um momento de gastos acelerados com saúde, que beiram US$ 4 trilhões (R$ 20 trilhões) anualmente.

— E o crescimento natural das healthtechs vem da falta de eficiência do setor de saúde. Hoje estima-se que US$ 1 trilhão desses gastos seja desperdiçado. A nossa tese é que esse desperdício pode ser evitado com a tecnologia — diz.

Uma das apostas da DNA é a carioca Beep Saúde, fundada em 2016. A empresa é a maior no ramo da medicina domiciliar no Brasil. Através de um aplicativo, pacientes podem agendar rapidamente procedimentos como exames laboratoriais e aplicação de vacinas para serem realizados em suas próprias casas. Segundo relatório da Distrito, a companhia recebeu US$ 19,2 milhões (aproximadamente R$ 100 milhões) em investimentos apenas em 2021 e foi responsável por levar a categoria de diagnósticos ao terceiro lugar na lista.

– A ideia é criar uma plataforma em que os pacientes não se aborreçam para agendar exames, por exemplo – explica Guinle. – A Beep traz o serviço básico de saúde para dentro das casas das pessoas de maneira fácil. A gente acredita muito nesta empresa por aqui e pretende continuar investindo em sua trajetória.

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