Telemedicina avançou dez anos em um

O Estado de S.Paulo 

O engenheiro pernambucano Fred Rabelo, de 30 anos, tinha tudo para nem estar mais morando no Brasil. Após um mestrado nos Estados Unidos, surgiu o convite para fazer carreira no Vale do Silício, celeiro de empresas de tecnologia na Califórnia. Foi a vontade de ficar mais perto da família que o levou a voltar para o Recife e montar com os irmãos mais velhos, Fábio e Flávio, a TI.Saúde, startup que criou uma plataforma que conecta médicos e pacientes de forma remota. Por meio do sistema, é possível agendar e fazer consultas por vídeo ou acompanhar a evolução de tratamentos mais longos.

Na entrevista, a seguir, ele conta que as medidas de prevenção e combate ao novo coronavírus, desde o ano passado, mudaram a cara da telemedicina no Brasil e fizeram o segmento avançar uma década em menos de um ano. Sua plataforma passou de cerca de 1.500 usuários no início de 2020 para 3.500 este ano. A empresa dos irmãos Rabelo também passou por uma nova rodada de investimentos em outubro passado, quando captou R$ 1,8 milhão e espera crescer ainda mais este ano.

Como você se aproximou do setor de tecnologia voltada para a saúde? É um setor em que você já via potencial de crescimento?
Fred Rabelo: Após me formar em engenharia, pela Universidade Federal de Pernambuco, fui fazer mestrado na Universidade Columbia, em Nova York, e recebi uma oferta para trabalhar no Vale do Silício. Fazer uma carreira no exterior parecia ser o caminho natural. Mas meu irmão mais velho virou para mim e perguntou: “É isso que você quer fazer da vida? “Não é uma vida ruim, mas a nossa família é muito unida e eu não queria continuar morando fora do País. Contei para ele a ideia de montar uma empresa voltada para a tecnologia na área de saúde e meus irmãos toparam. Eles foram meus primeiros investidores, cada um colocou R$ 10 mil, para me apoiar, e a empresa nasceu. Eles foram os meus investidores-anjo e o meu irmão médico trouxe os nossos primeiros clientes. Depois, fomos crescendo.

Qual é o diferencial da startup que vocês criaram? É oferecer uma plataforma de telemedicina para atendimento?
Fred Rabelo: Vai além disso. Nós damos ferramentas para que o médico possa garantir o melhor tratamento possível para cada paciente. Uma das ferramentas que estamos desenvolvendo é a própria gestão da vacinação contra a covid-19. Como a vacina é em duas doses, o paciente precisa ser lembrado de tomar a segunda entre 15 e 20 dias. A gente pensou: como as prefeituras vão fazer para lembrar que a dona Maria, lá no interior e sem acesso à internet, precisa tomar a segunda dose da vacina?

Nós damos ferramentas para que o médico possa garantir o melhor tratamento possível para cada paciente."

O objetivo, então, é ultrapassar o conceito de consultas por vídeo, que ficaram mais populares desde o início da pandemia?
Fred Rabelo: Sim. O grande intuito da plataforma é disponibilizar um serviço de telemedicina, mas não no conceito clássico de consultas médicas por vídeo, mas na presença digital do médico ou do plano de saúde e na conexão deles com o paciente. A nossa plataforma vai avisar, por WhatsApp ou SMS, que já está na hora de tomar a segunda dose da vacina, por exemplo. A gente teve uma demanda de Olinda (PE), estamos apresentando a nossa plataforma e devemos ajudar a prefeitura a controlar a segunda dose.

A pandemia mudou os planos da empresa e trouxe um desafio extra?
Fred Rabelo: A gente conseguiu crescer bastante na pandemia, tanto no faturamento quanto no número de novos clientes. Janeiro do ano passado foi um dos piores meses da minha vida profissional. A gente estava no vermelho, precisamos demitir. Éramos uma empresa com 13 colaboradores e 1.500 médicos na carteira de clientes. Hoje, um ano depois, a gente está com 37 pessoas na equipe e 3.500 clientes, mais do que dobrou. Conseguimos estar presentes em todos os Estados e com um distribuidor no exterior, no Panamá. O que aconteceu é que, logo no início da pandemia, a gente já estava com uma plataforma pronta para fazer a telemedicina, esse foi o nosso grande diferencial.

A resistência em adotar a plataforma era maior, por parte da comunidade médica, antes de 2020?
Fred Rabelo: Antes da pandemia, a resistência era muito grande. Em abril do ano passado, no começo das medidas de isolamento social, a gente viu a demanda pela telemedicina explodir. Acabamos sendo as pessoas que tinham o produto certo na hora certa. Foi uma transformação, a tecnologia aplicada para a saúde evoluiu uma década em pouco menos de um ano. A telemedicina, que é uma das nossas vertentes, passou de alvo de desconfiança para uma coisa necessária.

A maneira de encarar a telemedicina teve de mudar?
Fred Rabelo: Os médicos se deram conta de que precisavam se conectar com os pacientes, não só para a teleconsulta. Eles agora têm essa noção de que não dá mais para ficar parado no consultório, esperando o paciente vir. Aquilo ali é uma empresa para ele. A mentalidade do setor está mudando, a demanda também só tende a crescer. E estamos formulando um produto que foque na prevenção de doenças.

Qual é a importância de ter o trabalho reconhecido lá fora, por uma instituição tão respeitada, como o MIT?
Fred Rabelo: Esse prêmio do MIT é um reconhecimento pelo nosso trabalho e pela trajetória da empresa, mas tivemos também uma preocupação social durante a pandemia. Mesmo depois de sair da UFPE, mantive contato com o Hospital das Clínicas e nós cedemos a plataforma para eles, a gente tinha profissionais voluntários atendendo gratuitamente por meio dela. Foram feitos mais de 10 mil teleatendimentos, com 98% de satisfação.

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