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Imagem: iStock
Da Agência Einstein 

Há pouco mais de três anos, o médico Ricardo César Cavalcanti idealizou um projeto que, acreditava, prometia melhorar o atendimento no sistema público de saúde de seu estado. Visto que muitos hospitais careciam de especialistas para tratamento de doenças agudas em Unidades de Terapia Intensiva (UTI), o cardiologista percebeu que a tecnologia poderia amenizar esse problema.

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A ideia consistia em utilizar recursos da telemedicina para que especialistas do Hospital do Coração de Alagoas - do qual ele é presidente - pudessem auxiliar profissionais de diferentes unidades da capital e do interior. Cavalcanti, no entanto, não conseguiu o apoio financeiro necessário na época, e o projeto não pôde sair do papel.


Mas veio a pandemia e o cenário mudou do dia para a noite. Depois de anos estagnada, a UTI Virtual enfim recebeu o suporte que precisava. Duas empresas - a Equatorial Energia e a Aloo Telecom -, juntamente do Ministério Público do Trabalho de Alagoas, forneceram o aporte e a infraestrutura para colocar o projeto de pé. As doações foram geridas pela Fundação Cordial, e as UTIs Virtuais puderam ser instaladas em seis unidades de saúde do estado.

A iniciativa observada em Alagoas é um exemplo de uma tendência que se consolida na medicina pós-pandemia. Assim como em outras áreas, a experiência vivida com a doença acelerou transformações que vinham acontecendo gradualmente; na medicina, a Covid-19 também trouxe um novo normal. Neste caso, os teleatendimentos.


"A telemedicina já vinha crescendo exponencialmente nos últimos anos. Mas a pandemia foi, sem dúvida, um catalisador. Com ela, o teleatendimento deixou de ser um algo a mais para se tornar uma ferramenta necessária, pois virou a única opção para muitas pessoas continuarem a ter um acompanhamento médico", observa Eduardo Cordioli, gerente médico de Telemedicina da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein.

Da mesma forma que as videoconferências, o home office e os deliveries já existiam antes do coronavírus - mas tiveram o uso acelerado depois da doença -, a telemedicina também não é propriamente nova. No Brasil, o primeiro projeto foi implantado em 2012, pelo Hospital Israelita Albert Einstein em parceria com o Hospital Municipal M'Boi Mirim, no qual intensivistas receberam suporte de especialistas em neurologia do Einstein para casos de AVC.

Já em 2015, o Albert Einstein inaugurou o primeiro serviço de tele UTI, que, em parceria com o Ministério da Saúde, passou a oferecer auxílio a hospitais da rede pública. Até 2019, o hospital possuía 18 médicos emergencistas e neurologistas dedicados à telemedicina atuando em escala de plantão. Em junho deste ano, o número havia saltado para 180 profissionais e mais de 20 intensivistas dedicados a atender leitos de UTI. O número de atendimentos no serviço de Pronto Atendimento Virtual também disparou. Até fevereiro deste ano, eram atendidos 1,2 mil pacientes por mês. Em maio, o número de atendidos mensalmente já passava de 20 mil.

Em Alagoas, as UTIs Virtuais ajudaram a salvar vidas. Durante o pico da pandemia, os seis especialistas dedicados ao teleatendimento (um infectologista, um pneumologista, um cardiologista, um fisioterapeuta e um enfermeiro) conseguiram atender até 120 pacientes de forma simultânea, em diferentes pontos do estado. "Foi um consenso que a iniciativa ajudou a salvar vidas. Além de melhorar o tratamento dos pacientes, isso teve um impacto psicológico nos médicos assistidos pois demos a eles segurança e suporte para que não se sentissem sozinhos", comenta Cavalcanti.

O presidente do Hospital do Coração de Alagoas acrescenta que a telemedicina pode representar uma grande transformação para a saúde brasileira. Segundo o médico, a experiência mostrou que a tecnologia tem um poder de democratização, num país em que o acesso aos tratamentos é tão desigual. "Existe, no Brasil, uma assimetria grande de resultados médicos, e vimos que ela pode ser diminuída pela telemedicina. Se em um estado como Alagoas, com todas as suas dificuldades, a iniciativa se mostrou eficaz, sem custos absurdos, isso significa que ela pode ser ampliada para outros cantos do país", afirma Cavalcanti.

Para Cordioli, do Albert Einstein, o atendimento remoto a pacientes é um recurso que veio para ficar. "A telemedicina tem sido essencial neste momento, mas também será depois da pandemia. Isso porque ela aumenta o acesso à saúde, melhora a experiência do paciente, e, com isso, aumenta-se a aderência ao tratamento de doenças crônicas. Além disso, você consegue chegar mais rápido, tirar dúvidas do paciente, colocar o paciente certo no lugar certo, e, dessa forma, garantir uma melhor saúde para todos", explica.

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