Teste ajuda a ganhar tempo contra o câncer

Nova técnica pode acelerar tratamento contra o câncer | Exame

Correio Braziliense
Jornalista: Paloma Oliveto


22/07/20 - Silencioso, o câncer começa a se desenvolver muitos anos antes de os primeiros sintomas surgirem. Mas, no curso dessa doença, o diagnóstico precoce muitas vezes pode ser uma questão de vida ou morte.

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Em um futuro não tão distante, um exame de sangue será capaz de detectar cinco tipos de tumores malignos quatro anos antes do diagnóstico convencional. Em um estudo publicado na revista Nature Communications, pesquisadores dos Estados Unidos e da China descrevem o método não invasivo que, segundo o autor principal, está a “um teste clínico” de se tornar realidade.

Isso não quer dizer que o teste estará disponível agora ou em 2021. Até que a etapa final do estudo seja concluída e os resultados validados, serão necessários alguns anos. Porém, Kun Zhang, pesquisador do Departamento de Bioengenharia da Universidade da Califórnia em San Diego, coautor do estudo, está otimista. Importantes etapas do desenvolvimento do exame já foram vencidas, o que o aproxima mais de uma realidade clínica, ainda que Zhang não se arrisque a dizer quando isso ocorrerá. “Estamos transformando a prova de conceito em um produto comercial robusto e barato que poderá ser implementado na oncologia clínica”, afirma.

O teste, chamado PanSeer, foi desenvolvido pela equipe da universidade e pela startup Singlera Genomics, da Califórnia. Cânceres ou células doentes liberam a metilação, uma proteína expressa pelo tumor, no sangue, deixando esses rastros, as assinaturas biológicas. Na última década, pesquisadores conseguiram demonstrar que elas podem ser rastreadas de forma minimamente invasiva, e, hoje, a biópsia líquida já é uma realidade clínica. Por enquanto, a tecnologia é usada para análise de tumores metastáticos e acompanhamento do tratamento, para verificar se a terapia está ajudando a regredir o câncer.

Porém, a proposta da equipe de Zhang é oferecer um meio de detecção de cânceres antes que os exames tradicionais consigam identificá-los. No artigo publicado ontem, o PanSeer foi capaz de diagnosticar cinco tipos de tumores comuns e que ainda ocasionam alta mortalidade — estômago, esôfago, colorretal, pulmões e fígado — até quatro anos antes dos métodos usuais. “As taxas de sobrevivência aumentam, significativamente, quando o câncer é identificado nos estágios iniciais, pois o tumor pode ser removido cirurgicamente ou tratado com regimes mais leves de drogas. A sobrevida média em 5 anos na fase inicial é de 91%, enquanto na fase final, é de 26%”, observam os autores, no estudo.

Milhares de amostras

A pesquisa foi feita com 123.115 amostras de sangue de chineses, coletadas para um estudo longitudinal daquele país. Desses, cerca de 1 mil desenvolveram cânceres 10 anos depois. No estudo, os cientistas se focaram em cinco tipos de tumores que, à exceção do colorretal, são difíceis de serem diagnosticados rotineiramente.

Primeiramente, os cientistas realizaram o teste PanSeer no material de 605 assintomáticos, 191 dos quais foram, mais tarde, diagnosticados com os cinco tipos de câncer pesquisados pelos métodos de escaneamento tradicionais. A ideia era demonstrar se seria possível detectar pequenos fragmentos do DNA tumoral que poderiam indicar a presença do tumor anos antes do diagnóstico. Os cientistas também avaliaram o método desenvolvido por eles no sangue de 223 pacientes já diagnosticados com câncer, assim como em 200 amostras de tecidos tumorais e saudáveis.

No caso dos 191 pacientes inicialmente assintomáticos, o teste detectou os tumores com 95% de sensibilidade (a capacidade de um exame de diagnosticar somente quem está doente, sem falso positivo) quatro anos antes dos métodos tradicionais. Nos 223 participantes que já haviam sido diagnosticados, o PanSeer teve acurácia de 88%. Por fim, o exame identificou corretamente as amostras saudáveis em 96% das vezes.

Zhang esclarece que a intenção não é identificar pessoas que podem, eventualmente, desenvolver um câncer. A utilidade do PanSeer, segundo ele, é diagnosticar a doença em pacientes que já têm tumores ainda não detectados pelos exames tradicionais. Seria o caso, por exemplo, de indivíduos de alto risco (fumantes pesados, aqueles com muitos casos na família etc.). Além disso, ele diz que, depois de incorporado à prática clínica, o teste não substituirá, de imediato, os exames recomendados pelos médicos. “O PanSeer pode, um dia, superá-los, mas isso não acontecerá agora.” Inicialmente, a tecnologia poderá ser particularmente útil nos casos de cânceres que são difíceis de serem encontrados rotineiramente, como de fígado e pulmões.

“As taxas de sobrevivência aumentam, significativamente, quando o câncer é identificado nos estágios iniciais, pois o tumor pode ser removido cirurgicamente ou tratado com regimes mais leves de drogas”, diz Trecho do artigo divulgado na revista Nature Communications

“Esse é um estudo com alto impacto de benefício para a população. O estudo avaliou pessoas teoricamente saudáveis, sem diagnóstico de câncer, e que desenvolveram a doença entre um a quatro anos. Desses cânceres, foi percebido que o teste detectava a metilação, que é uma proteína expressa pelo tumor, em 95% desses pacientes. Eram cânceres de fígado, estômago, esfôgafo, intestino e pulmão. São tumores, exceto o de intestino, que não têm um rastreamento importante envolvido. Além disso, são tumores potencialmente graves. Por outro lado, quando o teste era negativo, em 96% das vezes realmente a pessoa não desenvolvia nada nesse curso. A importância desse teste é que ele consegue antecipar um diagnóstico de câncer de um a quatro anos, o que permite, provavelmente, chances de cura elevadíssimas”, explica Fernando Maluf, fundador do Instituto Vencer o Câncer, membro gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein e diretor médico associado do Centro Oncológico da Beneficência Portuguesa de São Paulo

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