Tratamentos simples fazem diferença contra Covid

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O Globo 

Jornalista: Ana Lucia Azevedo

As vacinas concentram a atenção mundial, mas, sem tanto alarde, o tratamento da Covid-19 vem avançando de forma radical. Um ano após o início da pandemia, para quem tem acesso a atendimento médico rápido, a chance de sobreviver é grande, asseguram especialistas. À frente dos avanços estão medicamentos baratos, procedimentos terapêuticos simples e, sobretudo, maior conhecimento sobre como tratar os pacientes.

Os médicos aprenderam a modular o uso de corticoides e anticoagulantes, a interpretar exames em busca de marcadores de inflamação. Descobriram também como usar melhor o oxigênio, tão em falta em Manaus, e a ventilar seus pacientes.

Mas o que tem feito enorme diferença no tratamento é o atendimento e o acompanhamento diário pelo médico logo após o surgimento dos sintomas. A pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo, colunista do GLOBO, diz que é preciso falar diariamente com o paciente, mesmo aquele com sintomas leves.

—Na Covid-19 a saturação de oxigênio pode despencar e a pessoa não percebe. Às vezes, são sinais sutis, como o esforço da musculatura do pescoço e da face, que o paciente nem nota, mas que dizem ao médico que aquela pessoa está com dificuldades para respirar. Nunca atendemos tanta gente com a mesma doença e sinais tão diferentes, como distúrbios de pele, intestino e articulares. Mas a atenção diária ao paciente salva vidas —afirma Dalcolmo.

A mesma opinião tem um dos primeiros médicos a atender casos de Covid-19 no Brasil, o pneumologista Carlos Alberto de Barros Franco, da Academia Nacional de Medicina. Ele garante que há condições de conduzir a maioria dos casos a um bom desfecho

— A ideia equivocada de que a Covid-19 não tem tratamento é resultado do fato de que o coronavírus pega muita gente e há muitas pessoas com comorbidades sendo infectadas ao mesmo tempo numa população grande num país como o Brasil, sem estrutura adequada — afirma o médico.

Barros Franco diz que a doença segue dividida em três fases (leve, moderada e grave), mas a compreensão e o tratamento delas mudaram. A primeira, na qual ficam 80% dos infectados, é a dos sintomas leves (febre, dor de garganta, tosse, congestão nasal, por exemplo).

 

Hospitalização

 

Os especialistas frisam que o doente de Covid-19 não deve ficar em casa, ao contrário do que se imaginava quando havia menos conhecimento. O chefe da UTI do Hospital Copa Star, Fabio Miranda, lembra que antes muitos pacientes já chegavam com a doença avançada, por vezes, irreversível.

—Hoje pedimos para a pessoa infectada medir quatro vezes por dia a saturação de oxigênio com um oxímetro de dedo. Se cair abaixo de 92% é para ir para o hospital. O contato diário com o paciente, mesmo que pelo telefone, faz com que possamos detectar sinais de agravamento e, quase sempre, evitar o pior —frisa Miranda.

Os especialistas alertam com ênfase que não existem tratamentos profiláticos ou preventivos.

— Seria maravilhoso, mas não existem. Esqueçam cloroquina, hidroxicloroquina, zinco, vitamina D, ivermectina, anitta, nada disso provou funcionar. Mas temos outros recursos e ainda boas perspectivas. O fundamental é que o paciente tenha acompanhamento diário, mesmo que pelo telefone. Isso mudou e fez enorme diferença —salienta Barros Franco.

Se os kits Covid não passam de recurso de médicos que não sabem como tratar pacientes, a ciência mostra que cuidados simples dão bons resultados. Miranda diz que a hidratação na Covid-19 se revelou extremamente importante. Água faz mais pelo paciente do que pílulas porque a Covid-19 desidrata perigosamente, sem que a pessoa perceba.

Uma esperança nessa fase da doença é o soro hiperimune de cavalos desenvolvido por cientistas com o apoio da Faperj, já pronto para testes em seres humanos. Se usado nos primeiros dias dos sintomas, o soro hiperimune poderia evitar o agravamento, a exemplo do que acontece com os soros contra a raiva, o tétano e as picadas de cobra.

Entre as drogas à vista estão a colchicina, um anti-inflamatório usado contra a gota. Foi testada com sucesso no Canadá para modular a resposta imunológica e impedir a chamada tempestade de citocinas, a super inflamação generalizada que leva ao agravamento da Covid-19. Ela deveria ser dada logo após o surgimento dos sintomas, mas seu uso ainda está em investigação.

 

Na mesma linha estão os anticorpos monoclonais, como o coquetel americano Regeneron, que o ex-presidente americano Donald Trump tomou. Esses anticorpos, específicos para o coronavírus, porém, têm contra eles a possível resistência de mutações do Sars-CoV-2 e o alto custo.

Continua, no entanto, a não haver droga para a fase grave. O antiviral Remdesivir, aprovado nos EUA, se mostrou uma decepção. Não teve impacto importante e é muito caro, pontua Barros Franco.

Nos laboratórios, cientistas buscam um antiviral específico contra o Sars-CoV-2, que ainda não existe. Mas a chance de cura nunca foi tão grande com o bom uso de velhas drogas, como os corticoides e anticoagulantes. Os especialistas destacam, porém, que mesmo essas não podem ser usadas sem critério, pois o segredo do êxito está na dosagem e na administração no período correto. Se mal empregadas, são desastrosas.

 

Casos inexplicáveis

A Covid-19, frisam os especialistas, permanece sendo uma doença difícil, que provoca casos inexplicáveis. Esta semana Barros Franco atendeu um homem de 42 anos, praticante de atividade física e sem qualquer comorbidade que, no entanto, teve 100% do pulmão afetado e sofreu graves sequelas. Ninguém sabe o motivo.

— O Ministério da Saúde ter um kit Covid é uma imbecilidade. Mas não foi isso que causou o caos que vimos em Manaus nem os astronômicos números de mortos no país. A questão é a dificuldade e a desigualdade de acesso à saúde. O Brasil já tinha uma catástrofe instalada na saúde agravada pela pandemia e a contaminação política. O resultado é o que vemos — diz Barros Franco.

 

Quatro perigos do tratamento equivocado

 

Distribuídos por alguns médicos e pelo Ministério da Saúde, cloroquina, hidroxicloroquina, vermífugos, zinco, vitamina D e azitromicina são questão resolvida pela ciência: comprovadamente não têm eficácia contra Covid-19. Veja seus riscos:

Adia cuidado devido: Os pacientes, crédulos, os tomam em vez de tomar os cuidados devidos e acabam agravando seu quadro, destaca o pneumologista Carlos Alberto Barros Franco.

Mascaram sintomas: A pneumologista Margareth Dalcolmo adverte: essas drogas podem mascarar os sintomas da Covid-19.

‘Quinas’ atacam coração: Além de não funcionarem, a cloroquina e a hidroxicloroquina também podem provocar danos ao coração — um alvo do coronavírus.

Aumento da resistência microbiana: A azitromicina é considerada um bom antibiótico. O problema é que a Covid-9 é causada por um vírus. Ou seja, ela não funciona contra ele. A pá de cal foi dada esta semana por um estudo britânico integrante da plataforma internacional Recovery (do inglês, Avaliação Randomizada das Terapias da Covid-19).

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