Um bom caminho para a GSK

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José Carlos Felner CEO GSK Brasil: "Nosso plano de investimento não está ameaçado" (Crédito: Aline Massuca)

Laboratório britânico se une ao grupo francês Sanofi para ter maior capacidade de produzir e distribuir vacina em escala global.

Um passo de cada vez”. A expressão, que define atributos como paciência, persistência e resiliência em tempos difíceis, se tornou uma espécie de mantra entre executivos do laboratório britânico GlaxoSmithKline (GSK). Em época de pandemia do novo coronavírus, a ordem é, literalmente, cadenciar os passos. Primeiro, para entender a necessidade do isolamento social. Segundo, para ir atrás de suprimentos. Terceiro, buscar meios de preservar os empregos. Por último, e talvez o mais importante deles, é o que vai ao caminho de uma solução para o combate eficaz da doença. Nesse sentido, a companhia vem trabalhando em seis parcerias no mundo em busca da vacina contra a Covid-19. A mais recente delas é o trabalho, anunciado na terça-feira 14, com outra gigante do setor, a francesa Sanofi. “As empresas, juntas, podem potencialmente resolver a questão de fabricar a vacina em escala mundial, pois têm desenvolvimento tecnológico, produção e logística globalizados”, diz o CEO da GSK no Brasil, José Carlos Felner. “Garantir capacidade de fabricação suficiente para as vacinas é um dos maiores desafios que o setor enfrenta.”

A parceria pode ser o caminho para a produção em larga escala a partir do momento em que a vacina for descoberta de fato. Até quarta-feira 15, a Organização Mundial de Saúde (OMS) apontava para mais de 2 milhões de casos de coronavírus no mundo, com 128 mil mortes. “Se for bem-sucedido, poderemos fazer muitos milhões de doses anualmente até o final do próximo ano”, afirma Felner. A companhia destinou, em 2019, para pesquisas e desenvolvimento, o montante correspondente a 17% do faturamento global.

87-1.jpg?profile=RESIZE_710xEFEITOS DA CRISE Estudos da GSK mostram que nas três primeiras semanas de isolamento social houve alta entre 20% e 30% nas vendas de medicamentos ligados a questões respiratórias. (Crédito:Wagner Urbano)

A GSK foi responsável por fornecer, em 2010, 42 milhões das doses de vacina, pouco mais da metade do total, que foram utilizadas no Brasil durante o combate ao vírus H1N1. A outra metade foi produzida pelo Instituto Butantan, de São Paulo. “Mas eram conceitos completamente diferente do que temos agora. Os únicos pontos comuns são de que vieram da Ásia e que as duas afetavam a parte respiratória”, afirma o CEO da GSK. “Já existiam plataformas de produção, o que foi possível garantir a vacina de uma forma relativamente rápida, já que a estrutura estava pronta e em um ano após a confirmação dos casos no Brasil as pessoas já estavam sendo vacinadas. Agora não. Há vários caminhos e tecnologias em busca dessa solução.”

Com 2,3 mil funcionários, a GSK no Brasil tem aproveitado o período para oferecer cursos de requalificação, treinamentos e certificações – que seriam feitos ao longo do ano – a um terço desse quadro, que pertence à área comercial. Outra medida, segundo Felner, foi a antecipação de pagamentos, nos próximos dois meses, para 54 pequenos fornecedores da companhia e há estudo para ampliar esse grupo. Também garante que não há ações para redução de jornada ou salário nem deem férias coletivas. Estudos apontados pela companhia mostram o mercado farmacêutico, de uma forma geral, com alta nas vendas nas primeiras três semanas após o isolamento social, entre 20% a 30% de medicamentos ligados a questões respiratórias, e queda, da ordem de 10%, de comercialização de antibióticos.

No primeiro caso, ele diz que houve efeito similar ao que ocorreu inicialmente nos supermercados, com muita gente indo às farmácias, com medo de faltar itens para problemas como asma, por exemplo. No caso de antibióticos, a interpretação é de que a queda pode estar relacionada ao afastamento em si e a diminuição de contaminações. “E por causa, também, da dificuldade de obter receituário médico por adiamentos de consultas, já que ninguém faz uso crônico desse tipo de medicamento”, diz. A alta procura também pode ter sido provocada, na avaliação do presidente da unidade brasileira, pela expectativa do reajuste anual dos preços, que ocorreria em abril e que foi adiado por 60 dias pelo governo federal.

Ainda assim, ele conta da dificuldade extra em importar produtos, principalmente pelo momento de paralisação quase que total do setor aéreo. “Estamos fazendo de tudo para que não faltem suprimentos.” Foi necessário um avião cargueiro, vindo da Polônia, para trazer materiais para o dolutegravir (medicamento referência para tratamento de HIV e incorporado ao SUS). “Precisou ser adaptada uma nova rota, com paradas em outros locais, e uma demora de dois a três dias. Mas foi assegurado o abastecimento”, diz Felner. No fim do ano passado, a empresa inaugurou, no Rio de Janeiro, um novo centro de armazenagem e distribuição de medicamentos, com capacidade 70% superior ao anterior.

Sem relevar números, o executivo afirma que a crise por conta do coronavírus não irá afetar os planos de investimentos desenhados no Brasil, que representa a sexta principal operação da GSK no mundo. A meta é dobrar o negócio no País até 2022, em uma ação que teve início em 2017. No ano passado, o faturamento da unidade brasileira atingiu R$ 5,4 bilhões. “Em dezembro de 2018 a gente aumentou em mais de 20% nossa força de trabalho e nosso plano de investimentos não está ameaçado, ele é contínuo”, diz o CEO. “Duas semanas antes do início da quarentena lançamos um produto para doenças respiratórias e devemos apresentar outro, na área de câncer, em dezembro.” Pelo visto, os passos podem – e até devem – seguir mais cadenciados. Mas, pelo que apresenta a companhia, o que não está no horizonte é deixar de seguir andando.

86-1.jpg?profile=RESIZE_710xA BATALHA DA VEZ CEO da unidade brasileira da GSK diz que os únicos pontos em comum entre H1N1 e a Covid-19 são que vieram da Ásia e afetam vias respiratórias. “Agora existem vários caminhos e tecnologias em busca da solução”

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