Folha de S.Paulo 
Jornalista: Sabine Righetti

Uma em cada cinco pessoas com mais de 70 anos não completou a vacinação contra Covid-19 no país. As informações, extraídas do DataSUS (sistema de informações do Ministério da Saúde), mostram que há grupos prioritários ficando para trás na imunização para o controle da pandemia.

Entre os brasileiros acima dos 70 anos, 2,6 milhões nessa faixa etária começaram o processo vacinal, mas não concluíram a imunização com a segunda dose.

Na prática, 3,6 milhões de brasileiros com mais de 70 anos não estão completamente imunizados contra a Covid-19 no país, já que cerca de 1 milhão não tomou nem a primeira dose. Isso representa um quarto dos brasileiros nessa faixa etária —há 13,5 milhões de pessoas no Brasil acima dos 70 anos, segundo a estimativa populacional da Campanha Nacional de Vacinação contra a Covid-19.

As informações foram tabuladas com exclusividade para a Folha, considerando todos os vacinados contra a Covid-19 acima de 70 anos no país desde o início da campanha (em 17 de janeiro) até 30 de maio.

É importante que todos os vacinados tomem a segunda dose porque só assim é garantida a eficácia máxima dos imunizantes.

No Brasil, integraram os primeiros grupos prioritários na imunização os profissionais de saúde, os indígenas, as pessoas com deficiência institucionalizadas e os idosos (acima de 60 anos). Isso foi definido no Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a Covid-19.
Os idosos que vivem em espaços como casas de repouso foram os primeiros vacinados. Depois, a vacinação se deu em ordem decrescente por faixa etária. A maioria dos imunizados no país com mais de 85 anos recebeu a primeira dose em fevereiro. Já a maior parte dos vacinados com idade entre 70 anos e 85 anos no país começou o processo vacinal em março.
O problema é que as pessoas mais velhas que perderam a vacina estão ficando para trás —e a vacinação segue para os grupos prioritários seguintes (por exemplo, de adultos com comorbidades). Entre quem passou dos 90 anos, por exemplo, menos de 80% tomou a primeira dose da vacina contra Covid-19.

“Os grupos prioritários existem por um motivo: são pessoas com maior risco de exposição ou pessoas que, ao se exporem, correm maior risco de adoecer gravemente e morrer. Aqui se encaixam os idosos”, diz Natália Pasternak, microbiologista da USP.
De acordo com um estudo recente que olhou para a população de SP, o risco de internação e morte por Covid de pessoas com mais de 80 anos era cerca de quatro vezes maior do que nas pessoas com 60 anos ou menos.
“O buraco de 1 milhão de idosos que não tomaram nem a primeira dose —menos de 10% do total— pode ser impacto direto do negacionismo. Podem ser pessoas que não quiseram tomar vacina, não acreditam em vacina”, diz Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas e colunista da Folha.

“Ninguém vira negacionista depois de tomar primeira dose. Então quem não voltou é impacto de desorganização do cronograma, de não ficar claro que é preciso voltar para segunda dose, de não ter um sistema de lembrete para segunda dose. Fica somente nas costas da pessoa que ela tem de voltar.”

A quantidade de pessoas com mais de 70 anos que não concluíram ou que ainda nem começaram a imunização contra Covid-19 varia pelo país. Três estados —Rio de Janeiro, Amazonas e Santa Catarina—, por exemplo, não atingiram 90% da população nessa faixa etária nem com a primeira dose. São os piores cenários do país.

Já no Acre, que vacinou 92% da sua população acima de Pedro Hallal epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas 70 anos com a primeira dose, menos da metade (49,4%) desse grupo etário completou a imunização com a segunda dose.

Entre os vacinados acima de 70 anos, 8 em cada 10 receberam Coronavac, vacina que tem intervalo estipulado de 28 dias entre as doses. O restante foi imunizado com Oxford/AstraZeneca, que tem três meses de intervalo entre as doses. Os vacinados com Pfizer nessa faixa etária até 30 de maio não chegam a 0,1% do total.

Para Pasternak, é preciso buscar ativamente essa população, com campanhas publicitárias e serviços de acompanhamento. “Faz a busca por aplicativo, por telefone, lembrando as pessoas de se vacinarem, de voltarem para a segunda dose.”

Isso é feito, por exemplo, nos Estados Unidos. De acordo com a epidemiologista Denise Garrett, do Instituto Sabin (EUA), vacinados saem da primeira dose naquele país com a segunda etapa agendada —e são notificados por mensagem com um lembrete.
“Há busca ativa dos que não aparecerem para a segunda dose”, afirma a especialista.
Nos EUA, 8 em cada 10 adultos com mais de 65 anos (um universo maior de pessoas do que a análise feita no DataSUS) já está completamente vacinado. Do restante da população nessa faixa etária, metade já tomou pelo menos uma dose. Os dados são do CDC, Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos.

Imunizar a maior quantidade de pessoas por grupo prioritário é importante no controle da pandemia como um todo. Recentemente, pesquisa do Instituto Butantan no município de Serrana (SP) mostrou que a pandemia começa a ser controlada com mais de 75% da população vacinada. Na cidade, 95,7% dos adultos foram vacinados.

O Ministério da Saúde informou que todas as campanhas sobre Covid-19 ressaltam a importância da vacinação e, também, que estuda fazer uma campanha específica para quem deveria ter tomado a segunda dose do imunizante mas, por algum motivo, ainda não a tomou.

Não há informação sobre campanhas específicas do Ministério da Saúde para idosos que ainda não tenham se vacinado ou completado a vacinação contra Covid-19. No seu site, o ministério informa que “o ritmo da vacinação está acelerando”.

O rastreamento dos vacinados contra Covid-19 nos dados do DataSUS é possível porque cada pessoa imunizada é registrada no sistema com um código individual de identificação, ao qual estão ligadas informações sobre idade, dose da vacina recebida e grupo prioritário.
Os dados de vacinação contra Covid-19 disponíveis no DataSUS têm sido monitorados pela Folha, que recentemente mostrou que quase dois milhões de vacinados tomaram a segunda dose fora do prazo.

Antes, a Folha já tinha identificado mais de 16 mil pessoas que receberam doses de fabricantes diferentes na vacina contra a Covid-19, erro vacinal que pode prejudicar a proteção contra a doença.

“Quem não voltou é impacto de desorganização do cronograma, de não ficar claro que é preciso voltar para segunda dose, de não ter um sistema de lembrete. Fica somente nas costas da pessoa que ela tem de voltar

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