Valor Econômico / Site
Fonte: Dow Jones

19/05/20 - As ações da farmacêutica americana Moderna fecharam o pregão de segunda-feira negociadas a US$ 76 em Nova York, um salto de cerca de quatro vezes em relação ao valor do início do ano, impulsionada pelas informações positivas sobre os testes de sua vacina contra a covid-19. Valorizada, a companhia vendeu US$ 1,3 bilhões em ações ao preço do fechamento e seu valor de mercado foi a quase US$ 30 bilhões, mesmo sem ter vendido um só produto.

O que os investidores estão apostando para a Moderna e outras empresas que desenvolvem vacinas contra o vírus SARS-CoV-2 é que um terço da população do mundo desenvolvido será vacinado todos os anos. Isso poderá representar um negócio de US$ 10 bilhões anuais a um preço estimado de US$ 30 por vacinação. A preços mais altos, a receita da vacina contra a covid seria ainda maior.

Nesta terça-feira, as ações da Moderna recuavam 5% em relação ao fechamento do último pregão, quando subiram 20%. Em uma teleconferência na segunda, o presidente da Moderna, Stéphane Bancel, disse que a empresa ainda não havia decidido o preço, no caso de sua vacina com o mRNA-1273 provar ser eficaz nos ensaios clínicos das fases dois e três, que serão realizados neste ano. Ele disse que Moderna estava pensando no custo da doença para o sistema de saúde.

O custo da covid-19 obviamente vai além do hospital – e já é gigantesco. Somente nos Estados Unidos, quase 90 mil pessoas morreram em alguns meses. A escala do impacto do coronavírus explica a razão de existir uma variedade de estimativas em Wall Street para o valor a ser cobrado pelos fabricantes de vacinas.

Os analistas do Morgan Stanley, no fim de semana passado, sugeriram que o preço pode começar entre US$ 5 e US$ 10 por dose durante a primeira crise de pandemia e depois subir para um intervalo de US$ 13 a US$ 30 para doses preventivas nos próximos anos.

O analista George Farmer, do BMO Capital Markets, acredita que a Moderna poderia começar a cobrar US$ 125 por tratamento no mercado americano e aumentar esse preço ao longo do tempo para US$ 200. Como a maioria dos sistemas de saúde do mundo é administrada pelo governo, o modelo de Farmer assume que os preços no exterior serão somente uma fração dos preços praticados nos EUA.

As vacinas provavelmente consistirão em uma primeira dose e um reforço um mês depois. Após os ensaios clínicos responderem à primeira pergunta crucial sobre se os candidatos a vacinas como a da Moderna evitam a covid-19 em humanos, a próxima pergunta será quanto tempo dura a imunidade.

Assumindo que o vírus tem um pouco menos de mutabilidade do que o vírus da gripe, os pesquisadores estão supondo que as pessoas possam precisar de uma vacina contra o SARS-CoV-2 em alguns poucos anos. Por isso o analista do BMO diz que cerca de um terço da população americana precisará de vacina a cada ano.

A população dos EUA poderá aumentar de cerca de 330 milhões hoje para mais de 360 milhões no fim da década. Farmer calcula que esse número chegará a cerca de 30% dos americanos sendo vacinados a cada ano, ou cerca de 100 milhões de tratamentos por ano até a segunda metade desta década. A um preço de US$ 30 a US$ 130, serão US$ 3 bilhões a US$ 13 bilhões em vendas.

As vendas globais são mais difíceis de prever, com preços e taxas de vacinação que podem variar amplamente nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. O analista estima que as vendas no mundo desenvolvido representem metade ou dois terços do valor de venda nos EUA. Ainda assim, ele vê vacinas da covid-19 superando os US$ 30 bilhões em vendas até o final da década. Esse tamanho de mercado o encorajou a aumentar sua meta de preço das ações Moderna para US$ 112, ante US$ 83.

A vacina da Moderna pode ser a primeira disponível, mas não será a única e isso também influenciará nos preços de mercado. A Pfizer e sua parceira BioNTech também estão na fase clínica com uma vacina que utiliza tecnologia semelhante à Moderna. E outras abordagens estão sendo testadas por empresas como Johnson & Johnson, Sanofi e GlaxoSmithKline.

Faz sentido?
Especializada em terapias e vacinas feitas com RNA mensageiro, a Moderna não tem produtos no mercado, mas uma longa lista de medicamentos na linha de produção e vários em ensaios clínicos. Por isso, após a alta de 20% das ações na segunda-feira, os investidores estão se perguntando se o valor de quase US$ 30 bilhões ao qual chegou a companhia faz sentido.

“Os vendidos dizem que esse preço é absurdo e os comprados dizem que ainda é pouco”, diz Edward Tenthoff, analista sênior da Piper Sandler.

Tenthoff está entre os que dizem que a animação do mercado em relação às ações é justificada. Na segunda-feira, ele elevou o preço-alvo das ações de US$ 57 para US$ 102 e manteve sua recomendação de compra. O papel, que fechou em US$ 80 ontem, está em queda de 4,48% hoje, para US$ 76,42.

A farmacêutica disse que a oferta pública de US$ 1,3 bilhão em ações após o fechamento do mercado na segunda-feira “financiaria necessidades de capital de giro relacionadas à fabricação” de sua vacina, entre outras coisas.

Hartaj Singh, analista sênior da Oppenheimer, diz que a nova oferta sugere que a Moderna pode estar pensando em vender a vacina sozinha em todo o mundo, em vez de vender direitos globais a um parceiro. Os US$ 1,3 bilhão que a empresa está buscando aproxima-se do que ela poderia receber como pagamento antecipado por direitos globais. “Isso parece indicar uma empresa que seguirá a rota fora dos EUA sozinha", disse Singh, que tem um preço-alvo de US$ 108 para a ação. “Acho que faz todo sentido.”

Na segunda-feira à tarde, a classificação média entre os 11 analistas que acompanham as ações era de compra, de acordo com a FactSet, e o preço-alvo médio era de US$ 71,27.

A chave para descobrir se a Moderna vale realmente US$ 30 bilhões não é apenas se a vacina contra a covid-19 funcionará, mas quanto a empresa poderá cobrar por ela. Ao contrário de alguns dos grandes gigantes farmacêuticos que desenvolvem vacinas para a covid-19, como Johnson & Johnson e AstraZeneca, a Moderna não disse que não pretende lucrar com a vacina.

“Eu diria que os dados que eles divulgaram parecem bastante promissores”, disse à “Barron's” o analista sênior da Bernstein Research, Vincent Chen, que não cobre Moderna, mas acompanha a corrida de vacinas para covid-19. “Mas se isso realmente se traduz em uma vacina revolucionária que protege todos nós da covid, acho que continua sendo uma questão em aberto.”

Otimismo
Outros analistas parecem cada vez mais otimistas. Em uma nota de segunda-feira em que aumentou seu preço-alvo das ações de US$ 63 para US$ 105, Salveen Richter, do Goldman Sachs, atribuiu 75% de probabilidade de sucesso à vacina profilática da Moderna.

Enquanto isso, Tenthoff disse estimar que o programa de vacina para a covid-19 agora valia US$ 15 bilhões depois dos novos dados da segunda-feira; anteriormente, ele havia atribuído valor de US$ 2 bilhões. Esse valor será determinado por quanto a empresa poderá cobrar pela vacina.

Questionado sobre o preço da vacina na quarta-feira, o executivo da Moderna, Stéphane Bancel, disse que a empresa ainda não havia tomado nenhuma decisão. “Queremos fazer uma análise aprofundada do valor”, disse Bancel. “Você tem que pensar nos custos de saúde e no sistema de saúde. Queremos entender o valor da vacina.”

O preço da vacina será uma decisão politicamente difícil. Em uma nota no fim de semana, os analistas do Morgan Stanley, Matthew Harrison, David Risinger e David Lewis, estimaram que uma vacina para a covid-19 custaria entre US$ 5 e US$ 10 por dose em média durante a pandemia e entre US$ 13 e US$ 30 depois de 2023. Eles escreveram que o mercado total durante a pandemia de vacinas ficaria entre US$ 10 bilhões e US$ 30 bilhões e entre US$ 2 bilhões e US$ 25 bilhões por ano a longo prazo.

Tenthoff observa que a Moderna pretende fabricar 1 bilhão de doses por ano. Com US$ 10 por dose, a empresa poderia faturar US$ 10 bilhões em 2021 somente com a vacina. “As ações negociam apoiadas em expectativas”, diz Tenthoff. “Essas ações estão sendo negociadas com a expectativa de que a empresa poderá entregar um bilhão de doses de vacina por ano.”

E a vacina para covid-19 é apenas um dos produtos da empresa. Tentoff diz que o programa covid-19 impulsionará os outros projetos da Moderna. “Todo esse investimento, todo esse dinheiro, agora direcionado para a plataforma, terá um valor além dos US$ 10 bilhões em receita que eles vão gerar se a vacina covid-19 funcionar”, diz.

Ainda assim, muitas questões permanecem. A vacina ainda está longe de ser um tiro certeiro, apesar do entusiasmo de ontem. E vários outros programas de vacinas estão vindo nos calcanhares da Moderna. Não está certo se, mesmo que a vacina seja disponibilizada até o fim do ano, ela seria a única no mercado nessa época ou em 2021.

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