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Veja Online

12/06/20 - A mais importante pergunta para definir quando chegará o fim da pandemia de coronavírus é: quanto tempo falta para desenvolver uma vacina contra a Covid-19? Universidades, farmacêuticas e instituições de pesquisa em geral realizam estudos e testes para avançar no conhecimento que se tem sobre o Sars-Cov-2, como mostra a reportagem de VEJA. A Janssen Vaccines & Prevention, farmacêutica da Johnson & Johnson, havia anunciado que começaria os testes de uma candidata a vacina em setembro deste ano. Na quinta-feira, 11, a empresa divulgou que vai antecipar o início dos estudos clínicos e os testes começarão na segunda quinzena de julho. A corrida pela solução é global. À frente das pesquisas, a chefe global de descoberta e medicina transnacional de vacinas virais da Janssen, Hanneke Schuitemaker, falou a VEJA sobre os próximos passos e as dificuldades na busca pela receita que poderá garantir a imunização da população.

A Janssen anunciou uma vacina candidata para iniciar os testes a partir de julho O que isso quer dizer? Assumimos o compromisso de entregar 1 bilhão de doses em 2021. Infelizmente, a pandemia ainda está em curso. Para alguns, a vacina chegará tarde demais. Mesmo assim, acreditamos que estamos no caminho certo e poderemos usá-la para proteger as pessoas que ainda não se contaminaram.

São mais de 7 bilhões de pessoas no planeta. Quais os desafios para imunizar toda a população? Essa é a grande questão. É bom ver outras empresas na corrida pela vacina. Para atender 7 bilhões de pessoas, vários desenvolvedores precisam trabalhar em conjunto. Aumenta-se a probabilidade de termos algumas opções bem-sucedidas. Por experiência, também sabemos que muitas candidatas a vacinas se mostram ineficazes justamente na fase final de testagem.

É comum desenvolver uma vacina em um período de tempo tão curto? De jeito nenhum. Normalmente, todo o processo pode levar entre dez a vinte anos. As ações costumam ser mais interativas, avaliando mudança a mudança após cada teste. Agora, conduzimos esses processos em paralelo e tomamos decisões de risco. Nunca para a saúde humana, mas para o negócio.

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A senhora participou de uma conferência da Organização Mundial da Saúde em fevereiro. Como foi a percepção sobre o coronavírus naquele momento? Provavelmente, 90% das pessoas que participaram não esperavam que a doença se desenvolvesse da forma como aconteceu. A delegação chinesa estava muito tensa. Em algum momento, fizemos uma piada e demos risada. Os chineses estavam tão impacientes que não havia espaço para felicidade. Eles tinham uma noção de urgência muito diferente. Na época, a maioria das pessoas achava que a doença se limitaria à China.

Alguns países, incluindo o Brasil, estão dando sinais de reabertura. É realista pensar que a vida voltará ao normal ainda neste ano? No meu país, a primeira onda parece ter passado. Precisamos de 60% da população imunizada para impedir que o vírus se espalhe, realidade ainda distante. Na Europa, relaxar neste momento é justificável, mas me preocupo com a forma como as pessoas vão se comportar se os governos restaurarem as medidas de isolamento. Sinto que as pessoas podem pensar que a pandemia ficou para trás. O vírus está aí e ele voltará assim que tiver uma oportunidade.

A senhora acredita na possibilidade de que talvez não exista uma vacina que contenha o vírus? Sim, há uma chance. Será necessário que as pessoas se contaminem de uma forma que não sobrecarregue o sistema de saúde e que não acarrete em mortes pela falta de atendimento. Pode levar dois anos para que a gente chegue ao patamar necessário de imunidade. Sabemos que não podemos viver da forma como estamos para sempre. Esse momento não pode ser considerado o novo normal, porque não é normal vivermos assim.

Antes da pandemia, houve um movimento de descrença na vacinação. Doenças erradicadas voltaram porque as crianças não foram imunizadas. Como lidar com os negacionistas? Temos que investir na educação das pessoas. Vacinas são a melhor forma de atendimento de saúde para salvar vidas, mais do que antibióticos e cirurgias, e evitou sequelas de infecções virais e bacterianas, como cegueira, surdez e paralisias. Algumas dessas doenças desapareceram do radar, já que as vacinas são tão eficazes. Na mente das pessoas, o efeito colateral, extremamente raro, é mais dominante.

Qual é a diferença entre o tratamento e a vacinação? Um remédio salva vidas, uma vacina salva populações. A beleza das vacinas é que quem é vacinado talvez nunca se beneficie do efeito dela, por não entrar em contato com aquele vírus. Porém, partir do momento em que alguém foi imunizado, a corrente de transmissão acaba ali. Por isso temos que deixar claro que tomar a vacina ajuda a população a reduzir o peso da doença na comunidade como um todo.

Com o mundo inteiro focado na mesma questão, o processo se tornou mais fácil? É bom e também é um risco em potencial. Como todos estão pensando de uma forma parecida, talvez a gente deixe de perceber pontos importantes. Até o momento, a pesquisa está se espalhando rapidamente e acredito que podemos melhorar o compartilhamento de dados. Temos que aprender uns com os outros e não podemos nos dar ao luxo de esbarrar nos mesmos problemas. Acredito que nós, os desenvolvedores de vacinas, temos uma dívida com o mundo e temos que ser transparentes sobre as nossas descobertas.

O momento é inédito para as farmacêuticas? Sim. As farmacêuticas precisam entender que não é uma competição entre nós, e sim contra o vírus. Nessa fase, não é tão simples compartilhar informação, porque usamos modelos diferentes. Normalmente, estaríamos competindo, porque é crítico ser o primeiro no mercado. Na situação atual, quem chegar primeiro aprenderá mais rápido e compartilhará a informação que poderá beneficiar os outros e acelerar a disponibilidade de vacinas, para ter a quantidade suficiente o mais rápido possível.

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