Veto a voos do Reino Unido dispara e chega a 43 países

Folha de S.Paulo Paulo,  notícia também publicada em O Estado de S.Paulo e O Globo

Jornalistas: Bruno Benevides e Rafael Balago

Mais de 40 países anunciaram nesta segunda-feira (21) bloqueios à entrada de viajantes oriundos do Reino Unido, aumentando o isolamento de Londres e deixando o país à beira do caos a apenas dez dias do brexit.

Os vetos vieram dois dias após o governo britânico endurecer o lockdown na capital e em outras cidades, para tentar conter uma mutação do coronavírus.

O premiê Boris Johnson convocou uma reunião de emergência com o gabinete para debater a situação. O temor é que o fechamento das fronteiras leve a um cenário de desabastecimento generalizado.

Ao menos 43 nações e territórios haviam vetado a entrada de viajantes vindos do Reino Unido até a tarde desta segunda —na noite de domingo, eram 13.

Entre os países que anunciaram novas restrições nesta segunda, está a Rússia, que suspendeu os voos com o Reino Unido por uma semana. A Índia tomou a mesma medida, mas com validade até o fim do ano, enquanto em Hong Kong (território que pertence à China), o veto será válido por duas semanas.

Os europeus Portugal, Espanha, Polônia, Noruega e Dinamarca também decretaram o bloqueio —este último já detectou ao menos nove pessoas infectadas com a nova mutação do coronavírus.

Itália, Austrália, Holanda e África do Sul também identificaram pessoas com o patógeno mutante, além de Gibraltar (um território britânico na Península Ibérica). As medidas de restrição tomadas pelos países têm como objetivo exatamente dificultar a disseminação dessa variação que, por ser 70% mais infecciosa, acaba circulando com maior velocidade.

Na América do Sul, Argentina, Colômbia, Peru e Chile também já anunciaram o veto para voos com passagem do Reino Unido. O governo brasileiro até o momento não se pronunciou sobre o assunto.

Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul também não tomaram medidas contra o Reino Unido, mas afirmaram que estudam essa possibilidade.

No domingo, uma série de países já tinha tomando medida semelhante, incluindo Alemanha, Arábia Saudita, Irã, Irlanda, Israel, Itália, Suíça e Turquia.

Uma das restrições mais duras foi imposta pela França, que no domingo fechou por 48 horas suas fronteiras por terra, ar e mar com o Reino Unido.

Como boa parte das importações britânicas chegam ao país via França, a medida fez soar o alarme para o risco de desabastecimento, já que o transporte de mercadorias também está proibido pelo veto atual.

Nesta segunda, faixas nas rodovias do sul da Inglaterra alertam os viajantes e motoristas que transportam mercadorias sobre o fechamento da fronteira.

A segunda maior rede de supermercados do Reino Unido, a Sainsbury's, disse que a falta de produtos nas prateleiras vai começar já nos próximos dias. Segundo a empresa, verduras, legumes e outros produtos frescos devem ser os primeiros a serem afetados.

Horas depois, a rede Tesco, líder do setor, também apontou o problema e disse que podem faltar alface, couve-flor, hortaliças e frutas cítricas em breve.

O equivalente ao sindicato dos caminhoneiros da França anunciou também que devido ao risco de contágio seus associados não querem entregar produtos no Reino Unido, ainda que o governo retire a restrição.

Em entrevista coletiva nesta segunda, Boris disse que falou por telefone sobre o assunto com o presidente francês, Emmanuel Macron, e que espera chegar a uma solução com Paris nas próximas horas.

O premiê também disse que as atuais restrições não afetaram o fornecimento dos suprimentos para o país e descartou a possibilidade de uma crise de desabastecimento.

Mais cedo, um porta-voz do governo britânico já tinha afirmado que não há ligação entre as novas restrições feitas pela França e as atuais negociações do brexit.

O Reino Unido deixou oficialmente a União Europeia em janeiro, mas a relação entre o país e o bloco segue regulada pelo acordo de saída. O período de transição, porém, termina no final deste ano.

Assim, os dois lados têm tentado negociar um acordo comercial para regular as relações a partir de 1º de janeiro. Mas as conversas têm avançado com dificuldade e é grande a chance de que nada seja decidido até o final do ano.

Nesse caso, além das consequências sociais e econômicas, uma das grandes preocupações é o que aconteceria com o abastecimento britânico. Boa parte dos suprimentos e das cadeias produtivas do país dependem de material que vem da Europa. Sem um acordo, é possível que isso seja afetado, levando a um desabastecimento generalizado no país.

Apesar disso, o governo britânico disse que não vai pedir um adiamento do período de transição para além de 31 de dezembro. A União Europeia também convocou uma reunião de emergência para debater uma resposta conjunta do continente ao problema.

Foi o próprio Boris que endureceu no sábado (19) as restrições ao contato social em Londres e partes do sudeste da Inglaterra até 30 de dezembro, citando como razão a disseminação da nova variação identificada do patógeno.

Ele divulgou que essa nova versão do vírus é 70% mais contagiosa, mas ainda é preciso fazer estudos mais aprofundados para confirmar esse dado.

Pesquisas iniciais apontam que a nova mutação tem maior habilidade para entrar nas células humanas, o que aumenta seu poder de contágio. Essa vantagem ocorre por alterações no chamado “spike”, a parte usada pelo vírus para forçar a entrada nas células.

Mutações em vírus, no entanto, são corriqueiras. Conforme o patógeno se reproduz, as novas versões possuem detalhes levemente diferentes das anteriores. Hoje há várias versões do coronavírus circulando.

Com o tempo, variações mais eficientes acabam se proliferando mais. Um dos pontos que preocupam o governo britânico é que essa nova variedade já representa dois terços dos novos casos de infecção registrados em Londres.

Segundo as autoridades de saúde, essas mudanças não devem afetar a eficácia das vacinas, que começam a ser aplicadas. Elas são projetadas para gerar defesas no corpo capazes de atingir o vírus de várias formas.

As imunizações só precisam ser refeitas em caso de grandes mutações, o que parece não ser o caso atual.

Anunciadas às vésperas do Natal, as medidas que fecharam Londres são as mais severas que o governo britânico já tomou desde o lockdown nacional que vigorou em março e refletem o medo de que a nova variante pudesse aumentar a transmissão do vírus durante o inverno.?

Alarmado, o premiê britânico mudou radicalmente a estratégia de enfrentamento da pandemia no sábado ao impor o novo fechamento.?

A decisão veio depois de o governo ser informado sobre novas evidências de uma variante do vírus que já havia sido detectada em Kent, ao sudeste de Londres.

Os moradores dessas regiões agora estão sob o nível de alerta mais alto: a orientação é para que todos fiquem em casa.

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